O que poderia dizer ou escrever que pudesse ser
aproveitado por todos que estão com os pés no chão em um terreiro, para a
comunidade umbandista - tantos que estão vestindo o branco como médiuns?!
Pensando nos anos que já passei como zelador desde a
fundação do Triângulo e nas centenas de giras de caridade que já realizamos,
concluo que o grande obstáculo que paralisa muitos médiuns é a jactância -
àquele sentimento velado de superioridade, um certo tipo de tédio, que vai se
instalando em relação aos irmãos de corrente e consulentes, de tanto escutar
suas queixas, que anda de mãos dadas com o orgulho e a vaidade, estabelecendo
uma altivez e um senso de superioridade irreal, um certo enfado e ar desmotivado.
Obviamente que tal situação já observei em espíritas, espiritualistas,
pastores, padres, bispos, teosofistas, budistas, maçons, rosa-crucianos,
apômetras,..., então atribuo este estado psíquico inerente ao ser humano.
Mas como se instala a jactância no médium umbandista?
O médium sendo consciente, o que é o estado natural da
mediunidade na atualidade, é provável que ele caia num automatismo comodista e,
inevitavelmente, nas suas reflexões examine as consciências alheias,
identificando os erros do próximo, muitas vezes opinando em questões que não
lhe diz respeito, indicando as fraquezas dos semelhantes, educando os filhos
dos vizinhos, reprovando as deficiências dos companheiros, corrigindo os
defeitos dos outros, aconselhando o caminho reto a quem passa, receitando
paciência a quem sofre, e segue resoluto retificando os defeitos de quem o
procura no centro umbandista, como se ele fosse só perfeição.
Mas enquanto o medianeiro se distrai orientando, se
distância de si mesmo, e como aprendiz que foge à verdade e à lição, agrava a
situação enfatuando-se e sentindo-se superior aos consulentes e irmãos de
corrente, sempre incansáveis em seus pedidos de ajuda, reclamações e tristezas.
Enquanto o médium se ausentar do estudo das suas
próprias necessidades e fragilidades que fundamenta o indispensável processo de
auto-conhecimento e autorrealização, esquecendo a aplicação dos princípios
superiores que deve abraçar na fé viva que é mero instrumento, cheio de
defeitos e imperfeições e tão frágil e carente quanto àqueles que o procuram,
será simples cego do mundo interior relegado à treva da ilusão. Nada estará
realizando, pois locupleta-se em si mesmo e se basta, achando que está fazendo
uma grande obra, um palácio de realizações com o passar dos anos. Muitos até se
gabam do tempo de mediunidade e menosprezam os mais novos.
Claro que a experiência acumulada ao longo dos anos dá
sabedoria ao medianeiro, mas ele não deve sentir-se melhor a quem quer que
seja, pois não sabemos o passado e a idade sideral de cada um de nós. Ou você
sabe qual a idade do teu espírito?
Despertemos e vigiemos sempre.
Mantenhamos nossas energias mais profundas para que os
ensinamentos, instruções e consolos que passamos na forma de orientações
recebidas de nossos guias espirituais aos consulentes não seja para nós médiuns
uma bênção que passa, como é a dádiva e misericórdia divina da mediunidade que
nos foi concedida, em proveito à nossa própria retificação pelo auxilio
incondicional aos irmãos de caminhada que nos procuram, porque o infortúnio
maior de um médium e para a sua combalida alma eterna é aquele que o infelicita
quando a graça do Alto passa por ele em vão em toda uma encarnação!
Nenhuma valia tem um rito, seus elementos e liturgias,
se o médium internamente não tem a condição necessária de recebê-lo
satisfatoriamente. A aplicação ritualística externa é feita pelo sacerdote e
seus assistentes, mas a ligação espiritual interna é de cada médium. Se assim
não acontecer, qualquer rito será um mero PLACEBO RITUAL, inócuo e sem efeitos
positivos.
É tarefa primeira de um zelador espiritual vigiar e
"correr gira" para que a jactância mediúnica não se instale nele ou
em sua corrente.
Reflitamos!!!
Paz, saúde, força e união.
Norberto Peixoto - Um eterno aprendiz
*Jactância - s.f. Ação, hábito de se gabar: falar com
jactância. Arrogância, altivez.