A UMBANDA E OS RESÍDUOS DO
RITO DE YEMANJÁ
O momento é de mudanças,
transformações e reforma intima! Mudanças estas que devem começar nas mentes
das pessoa "ditas" umbandista, considerando que muitas pessoas se
utilizam erroneamente do nome da Umbanda, pois, "ser" umbandista
significa estudar seus fundamentos, conhecer seus princípios, seguí-los e,
sobretudo, amar esta linda religião!
Como vocês bem sabem, eu
nasci na Umbanda e reverencío suas leis desde então.
Por isso, chegada à época
dos Festejos da Sagrada Mãe da Umbanda, Yemanjá, em especial, quando ao
término, sinto verdadeira vergonha destes tais "umbandistas" que
transformam a praia em um verdadeiro lixão com suas infindáveis oferendas
poluentes, maculando a imagem de nossa religião, que a todos, incluída a
natureza, visa proteger.
Meu pai já dizia:
"como explicar que focinho de porco não é tomada?".
Já tantas vezes tive que
explicar "que aquela imensa sujeira em frente a praça onde as crianças
brincam", que "aqueles dejetos em putrefação na esquina de uma
amiga", que "aquele imenso lixão do dia seguinte dos ritos de
Yemanjá", dentre outros tantos, não são coisas da Umbanda; não da verdadeira
Umbanda.
Vivemos uma inversão de
valores e sentidos religiosos. O verdadeiro umbandista ama a morada de seus
pais, protege e luta pela sua preservação. Como nos dias de hoje é possível
aceitar tanto descuido e desrespeito a o que nos é tão sagrado? Como mostrar às
pessoas que cultuamos a Natureza, onde o que mais encontramos é o descaso?
Sujar o mar é como sujar a porta de entrada da morada de nossos ancestrais, dá
pra imaginar isso?
Amo as festas de Yemanjá,
mas, infelizmente, não vou mais (nem levo meu grupo) no dia 02 de fevereiro,
data dedicada à Yemanjá em grande parte do Brasil, inclusive aqui no estado do
Rio Grande do Sul.
Não vou a estas
comemorações, pois fico triste, me revolto! Durante toda minha infância esperei
o dia 02 de fevereiro para ir com a terreira do meu pai, e avô , quando
fazíamos excursões a fim de realizar o rito da Mãe. O tempo passou , eu cresci,
meu pai partiu, muitos outros antigos se foram, meu avozinho está beirando os
noventa anos, e vejo que, infelizmente, alguns comportamentos parecem estar já
enraizado nas práticas "umbandistas":
Muitas das desculpas para
seus maus hábitos, suas má condutas, apenas refletem o desiquilíbrio dos
médiuns. "É a cervejinha que Ogum está pedindo", onde a lata vai pro
chão, "o cigarrinho e o trago", que terminam com inúmeras garrafas de
bebidas de todo o tipo na praia, esquinas e praças, isso sem falar dos litros e
litros de bebidas alcoólicas que são ingeridas por um único médium em uma gira
aberta. Outro ponto a ser observado é a lastimável disputa entre terreiros pela
maior tenda, com o maior número de médiuns , onde estarão as maiores imagens.
Ao fim, mais parecem carros alegoricos! Assim, as pequenas casas vão sendo
"esmagadas" e empurradas para dentro do mar, ou para o meio das dunas,
tudo para dar espaço, aos maiores e mais suntuosos terreiros, que vinculam a
soberba exibição à força de seus guias.
Nada disso faz sentido,
uma vez que identificamos na Umbanda a própria manifestação da Natureza, em seu
estado puro e original. Quaisquer práticas que fujam a esta regra constituem
verdadeiro desrespeito à Lei Maior.
Vejo nesta questão da
sujeira das festas de Yemanjá o triste ápice da ignorância humana, cunhado na
bandeira da Fé.
Há beleza maior do que uma
oferenda com pétalas de rosa, ou outros materiais orgânicos, lançados ao mar
com carinho e axé?
Leve seu amor, faça uma
gira limpa, monte a frente para a Mãe com frutas se preferir. Assim costumo
fazer! Enfeite, mas deixe tudo lindo! Coloque um axé de paz e amor, cante um
ponto, toque seu atabaque com louvor, eleve-se em uma oração sincera, perfume o
ambiente...
Lembre-se! Se você quer
mesmo caprichar na sua cerimônia, se quer mesmo que a Mãe não devolva sua
oferenda (pois, acreditem, Ela devolve!), se quer que Ela se sinta ainda mais
homenageada, economize suas energias, tempo e dinheiro! Ao invés de fazer
barcos de madeira, isopor, ou outro material sintético, use esta motivação toda
para dar o bom exemplo, cuidando com amor o ponto de força da Mãe Yemanjá - o
mar e oceano!
Faça um ritual limpo.
Recicle sua forma de ritual. Faça o bem, seja o bem, pois tenho a certeza de
que a Grande Mãe irá acolher seus pedidos!
Por uma Umbanda Limpa!
Odoya minha Mãe!
Axé com muita consciência
a todos!