UMBANDA -
QUANDO O MÉDIUM SENTE-SE SUPERIOR.
Por Norberto
Peixoto.
O que
poderia dizer ou escrever que pudesse ser aproveitado por todos que estão com
os pés no chão em um terreiro, para a comunidade umbandista - tantos que estão
vestindo o branco como médiuns?!
Pensando nos
anos que já passei como zelador desde a fundação do Triângulo e nas centenas de
giras de caridade que já realizamos, concluo que o grande obstáculo que
paralisa muitos médiuns é a jactância - àquele sentimento velado de
superioridade, um certo tipo de tédio, que vai se instalando em relação aos
irmãos de corrente e consulentes, de tanto escutar suas queixas, que anda de
mãos dadas com o orgulho e a vaidade, estabelecendo uma altivez e um senso de
superioridade irreal, um certo enfado e ar desmotivado. Obviamente que tal
situação já observei em espíritas, espiritualistas, pastores, padres, bispos,
teosofistas, budistas, maçons, rosacrucianos, apômetras,..., então atribuo este
estado psíquico inerente ao ser humano.
Mas como se
instala a jactância no médium umbandista?
O médium
sendo consciente, o que é o estado natural da mediunidade na atualidade, é
provável que ele caia num automatismo comodista e, inevitavelmente, nas suas
reflexões examine as consciências alheias, identificando os erros do próximo,
muitas vezes opinando em questões que não lhe diz respeito, indicando as
fraquezas dos semelhantes, educando os filhos dos vizinhos, reprovando as
deficiências dos companheiros, corrigindo os defeitos dos outros, aconselhando
o caminho reto a quem passa, receitando paciência a quem sofre, e segue resoluto
retificando os defeitos de quem o procura no centro umbandista, como se ele
fosse só perfeição.
Mas enquanto
o medianeiro se distrai orientando, se distância de si mesmo, e como aprendiz
que foge à verdade e à lição, agrava a situação enfatuando-se e sentindo-se
superior aos consulentes e irmãos de corrente, sempre incansáveis em seus
pedidos de ajuda, reclamações e tristezas.
Enquanto o
médium se ausentar do estudo das suas próprias necessidades e fragilidades que
fundamenta o indispensável processo de autoconhecimento e autorrealização,
esquecendo a aplicação dos princípios superiores que deve abraçar na fé viva
que é mero instrumento, cheio de defeitos e imperfeições e tão frágil e carente
quanto àqueles que o procuram, será simples cego do mundo interior relegado à
treva da ilusão. Nada estará realizando, pois locupleta-se em si mesmo e se
basta, achando que está fazendo uma grande obra, um palácio de realizações com
o passar dos anos. Muitos até se gabam do tempo de mediunidade e menosprezam os
mais novos.
Claro que a
experiência acumulada ao longo dos anos dá sabedoria ao medianeiro, mas ele não
deve sentir-se melhor a quem quer que seja, pois não sabemos o passado e a
idade sideral de cada um de nós. Ou você sabe qual a idade do teu espírito?
Despertemos
e vigiemos sempre.
Mantenhamos
nossas energias mais profundas para que os ensinamentos, instruções e consolos
que passamos na forma de orientações recebidas de nossos guias espirituais aos
consulentes não seja para nós médiuns uma bênção que passa, como é a dádiva e
misericórdia divina da mediunidade que nos foi concedida, em proveito à nossa
própria retificação pelo auxilio incondicional aos irmãos de caminhada que nos
procuram, porque o infortúnio maior de um médium e para a sua combalida alma eterna
é aquele que o infelicita quando a graça do Alto passa por ele em vão em toda
uma encarnação!
Nenhuma
valia tem um rito, seus elementos e liturgias, se o médium internamente não tem
a condição necessária de recebê-lo satisfatoriamente. A aplicação ritualística
externa é feita pelo sacerdote e seus assistentes, mas a ligação espiritual
interna é de cada médium. Se assim não acontecer, qualquer rito será um mero
PLACEBO RITUAL, inócuo e sem efeitos positivos.
É tarefa
primeira de um zelador espiritual vigiar e "correr gira" para que a
jactância mediúnica não se instale nele ou em sua corrente.
Reflitamos.
Paz, saúde,
força e união.’
NP.
*Jactância -
s.f. Ação, hábito de se gabar: falar com jactância. Arrogância, altivez.