Pergunta –Diante da máxima
universal de que a semeadura é livre e a colheita obrigatória, não existem pecados, apenas causas e efeitos, o fato de Jesus liberar-nos da
responsabilidade pelos nossos pecados
– atos - não nos infantilizou espiritualmente ao longo da história, pelos
caminhos que as religiões instituídas deram ao cristianismo? O que tendes a
dizer a esse respeito?
Ramatís
– Em verdade Deus
não estabelece nenhum sistema punitivo aos cidadãos em evolução. Todas as
dores e sofrimentos humanos, individuais e coletivos, regem-se pela mais
absoluta justiça, por mais desagradáveis e trágicas que possam ser as colheitas
de cada alma.
Os seres
ignorantes, semeando descaso com a Lei Maior, ativam inconscientemente um automatismo
cósmico retificador que reage em igual proporção, alinhando-os novamente nos
trilhos de ascensão à estação angélica.
Ninguém
é punido ou castigado porque “peca”, eis que o pecado serve tão somente às
religiões para esculpirem a culpa, o medo e a dominação nos crentes. Além do
que, aquilo que não era pecado ontem é hoje, e o que é pecado na atualidade
antigamente não era. Se os costumes morais e religiosos não mudassem conforme o
contexto da época, nos dias atuais seria normal se matar o inimigo e o matador ser
ovacionado ao voltar para casa com o derrotado morto puxado pelos cabelos; e os
ritos sagrados de algumas etnias silvícolas em que se comia os desafetos
assados ainda seriam normais. Em sentido inverso, as mulheres divorciadas da
sociedade atual seriam pecadoras hereges destinadas à fogueira; não se teria
liberdade de opção religiosa e os bispos e cardeais católicos continuariam
ricos, tendo muitas amantes e mandando em vossos governantes.
Os “pecados”
mudam na linha do tempo em concordância com os sistemas sociais, religiosos,
econômicos e morais de cada época; imputa-se atitudes punitivas a um Deus que é
todo amor em suas leis imutáveis. Virtudes e vícios são perenes e servem para o
aprendizado das Leis Divinas, conduzindo os homens ao manejo adequado de seus
mecanismos de equilíbrio.
Assim
como o plantador de feijão deve regar com a quantidade certa as sementes, sob
pena de colocar excesso de água e apodrecer as raízes, ou pouca água e o solo
não ficar suficientemente umidificado para nutrir as tenras folhas, danificando-as
pelo ressecamento, assim o espírito eterno, enquanto não aprender a operar
equilibradamente as Leis Cósmicas, colherá em si e para si as conseqüências
boas ou ruins da sua falta de habilidade.
É certo
que toda a dominação religiosa para se conduzir um rebanho subjugado
infantiliza as ovelhas. O fato de muitos crentes, até os dias de hoje,
considerarem que basta a confissão ao padre, o testemunho de fé positiva ao
pastor no púlpito dominical, o dízimo semanal para alcançar a graça do Espírito
Santo, o trabalho pago aos orixás indicado pelos búzios, o passe semanal no terreiro
umbandista ou assistir à palestra com água fluída do centro espírita, para
livrá-los dos seus “pecados” – a colheita pelos seus atos – demonstra um
entendimento infantil das Leis de Deus, tal qual a criança que, colocando a
capa do Super-Homem, sai correndo, pulando a janela para voar e se esborracha
no chão.