Por Norberto Peixoto.
Tenho verificado que o pior
preconceito é o velado, o dissimulado, àquele que não se mostra. Por dentro da
Umbanda, sendo o que vivencio e posso falar, ainda existe sim, muito preconceito.
Há os que preconizam uma Umbanda pura, e o esforço de busca desta pseudo pureza
doutrinária é proporcional à exclusão de tudo que remete à África. Verifiquemos
que as inteligências intelectuais históricas da Umbanda criaram orixás “novos”,
foram buscar nos vedas e nas escrituras hebraicas – cabala – referências para
explicar as raízes do culto aos orixás, desprezando a rica etnografia africana,
especificamente nagô iorubana.
Tivemos um marcante e
histórico recorte etnográfico inicial com o trabalho de Nina Rodrigues, no
inicio do século passado, O ANIMISMO FETICHISTA DOS NEGROS BAIANOS, que embora
preconceituoso, pois absorve o conceito de superioridade de raças vigente na
Europa e decorrente do iluminismo francês, ao qual por sinal, o próprio Allan
Kardec bebeu na fonte, tendo escrito um artigo a respeito na revista espírita A
IMPERFECTIBILIDADE DA RAÇA NEGRA, que diz que os espíritos atrasados reencarnariam
em corpos africanos e chineses - uma “mancada” pessoal de Allan Kardec que não foi
abalizada pelos espíritos da codificação e assim não desmerece sua importante
obra -, é válida a pesquisa de campo de Nina Rodrigues, sendo o marco inicial
do estudo antropológico das religiões africanas no Brasil.
No Brasil, conforme Nina
Rodrigues em seu segundo estudo etnográfico OS AFRICANOS NO BRASIL, o culto foi
“unificado” e centralizado num mesmo espaço sagrado. Ou seja, os orixás
principais são cultuados num mesmo espaço e tempo, num mesmo rito, que é único por
não existir igual em África. Todavia, a descentralização de poder, cada
sacerdote é totalmente independente, causou um enfraquecimento ético e moral em
muitos casos, especialmente logo após a abolição da escravatura, conforme este
autor. Assim tivemos uma prevalência da rica cosmogonia nagô iorubana, e quando
falamos em orixás bebemos inexoravelmente nesta fonte, mesmo com todas as absorções e reinterpretações que houveram na
diáspora africana no Brasil, o culto aos orixás se mantém vivo e pujante em
nossa pátria como em nenhuma outra no planeta. Há que se considerar que originalmente o culto aos orixás era “fragmentado”, cada cidade ou comunidade
cultuava um orixá. Havia um poder central organizador e disciplinador, uma
confraria – espécie de maçonaria – de babalaôs que ordenava e “fiscalizava” os
aspectos éticos e morais do culto.
Acredito fielmente que na
atualidade estejamos vivenciando um forte impulso de retomada ética e moral do
culto aos orixás no Brasil, independente de denominação religiosa e de diferenças
rituais, observo um crescimento da ética – Sabedoria de Ifá -, dos antigos
babalaôs, que robustece a religiosidade com os orixás. Sem dúvida, o Brasil é o
maior país “africano” de culto aos orixás, pois em terras africanas os
muçulmanos e católicos reduziram significativamente o culto, num processo de
aculturação e domínio catequista perverso.
Infelizmente, temos muito ainda
a melhorarmos no tocante ao preconceito, pois sabemos que é muito forte ainda o
ideal de raça superior, que está impregnado no imaginário coletivo, a ponto de
idealizarmos raças extraterrestres evoluídas, brancas, de cabelos loiros e
olhos azuis.
Espero com este pequeno
artigo ter contribuído para a reflexão sobre as raízes de origem do culto aos
orixás, independente de denominações religiosas.