Na Umbanda
temos personagens marcantes, que como médiuns fizeram a história da Luz Divina
e fundamentaram seus usos e costumes. Zélio Fernandino de Moraes, o ícone
fundante da Umbanda, nunca se permitiu ser bajulado, não teve quem o iniciou,
foi iniciado direto pelo Astral Superior pelo portentoso Caboclo das Sete
Encruzilhadas. Da mesma estirpe de Zélio, Benjamim Figueiredo, médium do
Caboclo Mirim, que aos 17 anos manifesta este com pureza cristalina, o Guia que
o faria até o final de sua vida estar firme à frente de muitos congás. Tivemos
ainda W.W da Matta e Silva, que nunca teve “pai” ou “mãe” de “santo”, nenhum
“mestre” humano botou a mão em sua cabeça, por orientação direta e força da Lei
de Pemba vinda de Pai Guiné de Angola. Estes três exemplos, de médiuns seguros
e livres, grandes educadores de consciências, pela atuação límpida dos
espíritos que vibravam em suas sensibilidades mediúnicas, servem para toda a
comunidade umbandista.
Nos dias de
hoje, verificamos um contingente enorme de médiuns dirigentes inseguros, que
não se “garantem” em estar a frente de seus congás se não estiverem vinculados
a um “pai” ou “mãe” no “santo”. Procuraram outros sacerdotes para se vincularem
e assim adquiriram legitimidade, pois falta-lhes a confiança na mediunidade e a
fé inquebrantável em Deus. Por vezes falta-lhes a própria valência mediúnica.
Observo que
não tenho nada contra a iniciação e consagração ritual. Eu mesmo tive dois
dirigentes que me orientaram e ampararam em ritos de iniciação para dirigente
de terreiro. Todavia, isto foi pontual e não gerou dependência ao iniciador. Se
governar, depender “só” do Guias e do Astral para segurar o axé de uma
egrégora, sempre foi o exemplo de grandes dirigentes de terreiro, que vão muito
além de Zélio, Benjamim e Matta e Silva.
O risco que
corremos é estarmos cultuando egos de dirigentes que se alimentam da bajulação,
mimos e reconhecimento público de seus “filhos” com casa aberta.
Não é
“pecado”, não é orgulho e nem vaidade se governar, ser independente, amadurecer
e confiar no Amparo do Alto. Se você tem um “pai” ou “mãe” no “santo” a
tiracolo, que sempre o socorre e lhe exige eterna fidelidade subserviente, está
na hora de você repensar a sua espiritualidade.
Axé, Saravá,
Namastê.
Norberto
Peixoto
Dirigente do Grupo de Umbanda Triângulo da
Fraternidad