Percebo a Umbanda como um grande edifício, com muitos apartamentos
e centenas e milhões de tijolos. Cada proprietário de apartamento coloca as
janelas e as pinta em conformidade à sua simpatia. Quem olha o edifício de
frente não entende o colorido, a falta de padronização. Não existe uma norma
condominial que determine a cor de cada janela ou mesmo da parede de fora de
cada apartamento.
Os tijolos são cada terreiro e os seus médiuns e
frequentadores são os moradores deste imenso edifício. Percebemos hoje muitos
dirigentes de terreiro falando pela Umbanda como um todo: a Umbanda é assim, a
Umbanda é isto, a Umbanda é aquilo...O tijolo fala pelo edifício, uma pequena
parte fala pelo todo. A “sua” Umbanda, a que é praticada em seu terreiro, não é
a Umbanda de todos, mas a Umbanda é de todos na sua diversidade de formas e
nomes. Certos dirigentes querem ser o síndico do edifício, impondo normas a
todos, só que não foram eleitos para isto. Na Umbanda não existe um “Papa”, um
profeta, um poder central eclesiástico.
É comum vermos dirigentes acusando os filhos e adeptos de INGRATIDÃO.
Ora, quem assim o faz espera gratidão, aguarda reconhecimento, transfere suas
carências para a retribuição do outro. O genuíno sacerdócio umbandista é doação
de amor, que nada espera em troca. O fruto de toda ação é de Deus, não é do
agente da ação, não é do sacerdote. Quem sofre e se coloca como vítima,
transfere suas carências pessoais, emocionais e psicológicas para o sacerdócio.
Assim deseja receber compensação do que lhe falta no íntimo e aguarda
reconhecimento. Assim, anseia “controlar” a vida espiritual dos adeptos e
médiuns, o que nem os Guias fazem, pois cada ser é livre e tem um propósito de
vida espiritual que cabe somente a Deus julgar. Orientar é deixar o outro
crescer, permitir que seja livra em suas escolhas, aceitar que a Umbanda não é
o único caminho e que cada um pode escolher “desvios”, optar por outras formas
de buscar Deus, afinal Deus é um só.
Todos são livres e a felicidade e autorrealização está dentro
de cada um.
Nenhum sacerdote tem o poder de nos fazer entrar em comunhão
com Deus. Este poder é unicamente individual de cada um. Quando muito o
sacerdote facilita esta busca, nada mais.
Cada tijolo do sacerdócio umbandista deve suportar com
DISCERNIMENTO e EQUANIMIDADE a pressão da construção. A experiência é para que
nos libertemos do jugo de nós mesmos, velhos egos, mandões, autoritários,
centralizadores, imperiais e messiânicos.
Axé, Saravá, Namastê!
Norberto Peixoto.
Dirigente do Grupo de Umbanda Triângulo da Fraternidade