"Através de rogativas descabidas, a mente encarnada e subvertida pelo interesse enlaça o espírito desencarnado bom e invigilante, transformando-o em um corretor em atividade no mundo astral, convocado a todo instante para suprir a inexaurível mendicância espiritual exercida na matéria.
Infelizmente ainda é acontecimento corriqueiro em várias frentes do mediunismo, onde muitos freqüentadores dos diversos centros buscam apenas solucionar as suas tricas particulares, transformando os pretos-velhos e humildes, os caboclos prestativos e os silvícolas ingênuos em seus “escravos psíquicos”. O verbo “pedir” passa a ser empregado sem qualquer cerimônia, disfarçado pelas mais afetadas demonstrações de carinho e gratidão dos encarnados, constituindo verdadeiro suborno espiritual destinado a comover os corações generosos do Além.
Os terrícolas paralíticos da espiritualidade exploram a magnanimidade e a piedade desses espíritos bondosos, sinceros e serviçais para solucionarem desde a transferência do chefe indesejável da repartição, ou a mudança urgente do vizinho ranzinza, até o adjutório para eleição do político manhoso, que promete “ajudar os pobres”, assim que seja eleito. Aqui, o militar graduado convoca os préstimos do Pai Velho para obter melhor promoção e menos serviço; ali a senhora balouçante de jóias e de frivolidades roga providências imediatas para o silvícola hercúleo obrigar seu marido a retornar ao lar, embora ela oculte os caprichos, as zangas e os ciúmes que o afastaram; acolá, o filho de Ogum exige que o seu protetor movimente o requerimento de aposentadoria prematura no instituto, retido por algum funcionário zeloso. Assim, organizam-se trabalhos especiais para se encaminhar um processo em juízo, ou faz-se a evocação urgente do preto-velho para aconselhar a mocinha teimosa e malcriada, ou pede-se então a presença do caboclo rude e sincero para chamar a atenção do caçula birrento e avesso às obrigações escolares.
A falange é chamada às pressas para atender com passes, descargas e medicamentos- urgentes, desde o chefe da casa, vitimado por forte choque hepático em seguida a opíparo banquete de carne de suíno, até a mocinha possessa que, depois de três dias de carnaval frenético, é subjugada por teimoso folião desencarnado que, através de sua mediunidade, ainda tenta festejar o carnaval na quarta-feira de Cinzas.
Os espíritos prudentes e benfeitores procuram despertar as energias superiores de vossa alma, muito antes de só ajudar-vos a acumular fortuna. Preferem mesmo retardar-vos a saúde física, se isso puder livrar-vos de qualquer excesso ou abuso nocivo à harmonia espiritual. O seu principal escopo é ajudar-vos a dominar o orgulho, a vaidade, a crueldade, o ódio, a avareza ou a desonestidade, o que infelizmente só o conseguis através das dificuldades materiais ou pelo sofrimento redentor.
Embora esses amigos desencarnados vos amem profundamente, nem por isso devem assumir o papel de “camelô” da espiritualidade, comprometendo-se a descobrir-vos os negócios escusos, as empreitadas desonestas ou facilidades censuráveis. Malgrado tenham sido às vezes vossos parentes carnais, depois da morte física reconhecem o enorme prejuízo gerado pelo devotamento fanático aos familiares encarnados, quando estes ainda persistam em abdicar do esforço próprio para exercer um intercâmbio mediúnico puramente interesseiro.
Os guias nunca vos deixam sem assistência espiritual, seja qual for a necessidade de vossa vida. Mesmo em relação aos problemas comuns da vida cotidiana, alguém do “lado de cá”, sempre vos presta a cooperação desinteressada. Mas isso é feito através da via - inspirativa ou da sugestão benfeitora, em que vos fica o mérito da boa escolha, de acordo com o vosso discernimento espiritual.
Sob qualquer hipótese, os protetores só vos inspiram nos negócios honestos e nas realizações benfazejas, e afastam propositadamente os seus pupilos das transações lucrativas, quando disso possam resultar prejuízos materiais ao próximo. Eles evitam-vos toda vantagem ou conforto da vida carnal, desde que tal coisa possa agravar-vos a dívida cármica com conseqüente prejuízo para o espírito imortal.
São sempre inescrupulosas as rogativas que alguns católicos, espíritas, umbandistas ou outros religiosos fazem aos seus guias, orixás ou santos, para que os ajudem a fazer as mais variadas falcatruas e malograr as ações dos seus concorrentes.
Os desencarnados sensatos não aceitam, no Além, a função de Investigadores de Polícia à procura dos penduricalhos da matéria. Quando vos inspiram é para agirdes unicamente no sentido do bem, pois o seu principal escopo é livrar-vos do comprometimento espiritual que mais tarde pode lançar-vos nos charcos pestilentos do mundo astral."
Texto do Livro Mediunismo - Ed. do Conhecimento.
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