Um dos grandes objetivos da educação do ser humano é desenvolver as suas potencialidades.
Parece óbvio, mas não é. Pouquíssimas pessoas se propõem essa meta. Simplesmente usufrui de suas qualidades já prontas, em benefício próprio. Raros homens lutam conscientemente e sistematicamente contra seus defeitos e procuram desenvolver suas qualidades.
Na clássica visão antropológica, fomos brindados com duas potencias superiores: a inteligência e a vontade. Superiores porque compete a elas iluminar e levar o ser humano para a plenitude do seu fim. Tudo isso soa como grego em nossos dias porque nem se coloca em questão que haja um fim para o ser humano, que haja comportamentos de acordo ou contra a reta razão. Mas, se os fundamentos foram descartados, o mesmo não foi feito, nem pode ser feito, com os seus desdobramentos práticos.
Assim, o nosso senso educativo privilegia fortemente a educação da inteligência. O Q.I. virou status. A escola virou sinônimo de ciência, de conhecimentos adquiridos e, nas melhores, de desenvolvimento do raciocínio (enquanto na maioria há apenas adestramento). Portanto ninguém duvida da importância da educação da inteligência.
O mesmo já não pode ser dito da educação da vontade. Existe isso?
Existe e, inconscientemente, está muito presente na vida. Mas não como sistema pensado, proposto, com metas, mas como aquele que é o terceiro método de aprendizado.
Há na vida três métodos de aprendizado. O primeiro é pelo estudo, com livro e régua.
Consagrado. O segundo é pela observação da realidade que nos cerca, ouvindo os bons conselhos que nos dão. O terceiro, como se diz no popular, é tomando na cabeça. É com esse eficaz, mas um tanto desnecessário, método que as pessoas educam a vontade em nossos dias.
A vontade, se permitem a analogia, é o músculo do espírito. Usando os músculos conseguimos sair do lugar. Literalmente. Conseguimos dar um salto, ir atrás do que nos interessa, fazer inúmeras coisas. O mesmo papel tem a vontade na nossa vida. Ela nos tira da cama, da letargia, do mundo das boas intenções, da imaginação, da teoria e nos leva para a ação, para os resultados, para a prática.
Alguém já disse que deixou de ver televisão porque achava melhor viver do que ver os outros viverem. A inteligência pode nos mostrar o que é verdadeiro, o que é bom, o que vale a pena. Se conseguirmos que a nossa verdade se mova nessa direção estaremos vivendo em plenitude.
Mas estamos na época de ganhar massa muscular. Até hoje não inventaram outro modo: é preciso esforço, é preciso contrariar o músculo para que ele ganhe volume e força. Todos temos presente o que acontece com um braço ou uma perna engessada. Algumas semanas sem movimento, sem esforço é tudo se atrofia. Ao tirar o gesso, mesmo um simples movimento é difícil e doloroso. É exatamente o que acontece quando alguém se permite todo o tipo de comodidades, quando mergulha nas benesses da sociedade do bem-estar: estamos diante do mole, do fraco, do escravo de si próprio.
Se olharmos para a educação informal que se recebe em casa e na escola, em qualquer lugar, vamos percebendo uma linha de ação:
- mãe: concede todo o tipo de facilidades, resolve os problemas, traz guloseimas, quer evitar
ao filho todo tipo de sofrimento, faz a cama, a comida...
- pai: compra o que pedimos, paga nossa contas, leva a gente de carro para onde precisamos, dá dinheiro...
- a tecnologia eliminou até as menores dificuldades: controles remotos, snooze, microondas, e-mail, ctrlC/ctrlV, celular...
- na escola somos pouco exigidos: quem precisa estudar três horas todos os dias para escapar da reprovação? Quais são as escolas que apresentam exercícios diferentes dos ensinados em sala de aula, sem múltipla escolha?
- diversão: aumento de opções de lazer de massa sem esforço tais como video-game, música, festa, shopping, cinema...
- proliferação de um modo de vida segundo o qual você deve fazer só o que gosta (vontade tende naturalmente sem esforço) e jamais deve reprimir os seus instintos.
Consequências nefastas da atrofia da vontade:
- maturidade retardada: não sabe se virar. Paralisia diante de problemas.
- revolta ou pavor diante de um não, de um sofrimento.
- incapacidade para fazer aquilo que parece ser o melhor
- desgana, tédio.
- ausência de ideais.
- muitos começos, pouco fins.
- tarefas mal-acabadas. Mediocridade.
- personalidade amorfa. Cai na introspecção e no egoísmo.
- incapaz de sacrificar-se por alguém, por uma causa. Fracasso no namoro e no casamento.
- vida estudantil/profissional medíocre. Muito aquém do que poderia ser.
- cultura raquítica
- escravo dos instintos: não exerce domínio sobre as comidas, sexo, drogas, travesseiro...
Como conquistar a vontade:
Nesta breve relação nota-se que todos os remédios são intrinsecamente amargos:
- adiar satisfações
- ter hora para levantar, detalhe que faz muitas diferença.
- cumprir um planejamento de estudo e trabalho
- cortar a chupeta das balinhas, docinhos e cafezinhos entre as refeições.
- nunca ficar sem fazer nada, nem aos domingos: descansar é mudar de atividade
- parar de consultar o gosto antes de fazer alguma coisa
- não permitir o luxo de dar trabalho aos outros, muito menos aos familiares e amigos
- enfrentar dificuldades, complicar a vida, virar-se sozinho, quebrar a cara o quanto antes.
- estabelecer objetivos e não desistir deles.
- não ter auto-compaixão
Benefícios da conquista da Vontade:
- Senhor de si próprio
- líderança
- vida repleta: realizações, aventuras, desafios
- solidez. Alguém em quem se pode confiar.
- vida profissional mais interessante
- melhor relacionamento com as pessoas.
- alegria e boa disposição
- maturidade
Talvez o maior inimigo da educação da vontade seja o modo benevolente e bem humorado com que tratamos a preguiça. Quase não ofende ser chamado de preguiçoso. Mas os alemães usam vocábulo faul tanto para designar o preguiçoso como o podre. Pode parecer forte, mas ao pensarmos que a falta de força de vontade leva uma pessoa a ser menos, a ficar aquém do que poderia ser, deixa qualquer um estremecido.
( autor desconhecido - recebido por email )