"Ah, meu Deus!
Assisto com muita tristeza a pena da aspereza dilacerando a beleza de uma linda
sinfonia. A aguarrás de juizes, ciumentos inflexíveis, descolorindo as matizes
de uma linda pintura, só porque não gostam da assinatura?"
"E vai com uma
bailarina, com a inocência de menina, dançando em volta do sol, a Grande Mãe
Terra. Enquanto muitas nações, governos, religiões ensaiam a dança da
guerra."
"Na verdade a bola
azul quase nunca foi amada; é sempre penalizada. Tem um trabalho enorme,
dedicação e talento para preparar a mistura, juntar os seus elementos para dar
forma às criaturas, e elas, depois de paridas, desconhecem a matriarca e dizem,
mal agradecidas: que a carne é fraca."
"E quando o planeta
gera um Avatá, um iluminado assim como o Nazareno, tem logo quem se apresenta
com conhecimento profundo e diz logo: não é desse mundo, só pode ser
extraterreno."
"Ah, é difícil
entender porque é que o homem, até hoje, cospe no prato que come. Algumas
religiões, não sei por qual motivo, dizem que a Terra é um território com
vocação pra purgatório, não passa de sanatório... E que nós só seremos felizes
longe dela, bem distante, lá onde os delirantes chamam de paraíso."
"Olha, eu vou dizer
de coração. Na minha simples, dia após dia, me perdoem a liberdade, mas
religião de verdade, mais parecida com a que Jesus queria, talvez seja
sentimento de ecologia. Para esse sentimento não tem fronteiras e só reza um
mandamento: preservação das espécies com urgência, sem adiamento."
"Hoje, ela pensa nas
plantas, nos rios, no mar, nos bichos. Amanhã, com certeza, com a mesma
dedicação e capricho, pensará com muito cuidado nos meninos abandonados."
"Ah, se ela tivesse
mais força para sustentar sua zanga, evitaria, com certeza a fome cruel de
Ruanda. Não tinha maturidade, ainda era uma menina, quando a impertinência
sangrou, com a bola de fogo, a pobre Hiroshima. Mas ela cresce, se instala como
uma prece no coração das crianças. Tenho muitas esperanças..."
"Eu tenho toda a
certeza que nosso planeta um dia, mesmo cansado, exausto, terá toda a garantia
e guardado por uma geração vigia, nunca mais verá a espada fria no
Holocausto."
"A intolerância,
repito, é a mais triste das doenças. Não tem dó, não tem clemência. Deixa
tantas cicatrizes nas pessoas, nos países, até as religiões, guardiãs da Luz
Celeste, abandonam seus archotes para empunhar cassetete. E o que, na verdade,
refresca o rosto de Deus, é um leque, que tem uma haste de Calvino e outra de
Alan Kardec."
"Na outra haste, as
brisas, que vêm das terras de Shivas, são uma, dos franciscanos, e outra, dos
beduínos. Não precisa ir muito longe... Jesus nasce entre os rabinos."
"Às vezes corações
que crêem em Deus, são mais duros que os ateus. E jogam pedra sobre as
catedrais dos meus deuses Yorubás. Não sabem que a nossa terra é uma casa na
aldeia, religiões na Terra são archotes que clareiam."
DE ALTAY VELOSO – ALABÊ DE
JERUSALÉM.