Reza ao Orixá Tempo - traduzido do Oriki em yorubá:
Senhor
do Tempo e do Destino,
Senhor que a tudo ilumina e elimina!
Senhor do Incerto e
do Incógnito Perigo!
Senhor
que enfraquece o fortalecido e que acorda o desprotegido!
Senhor da Fama e da
Lisonja,
Senhor dos Céus e da Desonra!
Senhor
do Triunfo e da Vaidade!
Antes
do amanhecer, meu coração grita três vezes renitente:
Tenha piedade de mim.
Estela resolveu participar de um curso espiritualista que aconteceria num centro de Umbanda em sua cidade, portanto durante um final de semana estaria dedicada a assimilar novos conhecimentos, tarefa que lhe era extremamente agradável porque como médium trabalhadora da seara umbandista, buscava aprender e se atualizar para ajudar os seus semelhantes em busca de orientação e tratamentos espirituais, da melhor maneira possível, respeitando os valores de cada um. No seu modo de encarar a vida, nas crenças que abraçou ao longo da sua caminhada espiritual e posicionamentos frente às vicissitudes e percalços que surgiam ante seus passos muitas vezes trôpegos e vacilantes, aprendeu que o Orixá Tempo atua constantemente, de forma a tornar o caminho proveitoso e podendo modificar tudo em questão de segundos ou demorar anos sem nada acontecer, para que possamos assimilar as lições no momento em que estamos prontos para tal. Lições antecipadas demais não encontram eco e o vazio toma lugar de coisas que poderiam nos enriquecer, igual a dar conhecimentos avançados para criancinhas que estão no maternal. Não estão preparadas, não tem maturidade suficiente para fazer as ligações com a vivência e internalizar o conteúdo fazendo relações com o momento presente, ou com as mensagens que não entendemos e nos são repassadas diariamente pelos nossos guias e mentores. Ainda bem que eles têm uma paciência de Jó e a maioria não desiste de nós, caso contrário, estaríamos ralados e entregues a nossa própria sorte, quem sabe até com uma perna no umbral e outra também, ligados pelos nossos pensamentos, ações e desmandos egoístas, libidinosos e com mania de levar vantagens sobre os outros a qualquer preço.
No
transcorrer do seminário educativo e após as palestras o público presente interagia com
os expositores crivando-os de perguntas de todos os tipos, na ânsia de
aprender mais e extrair o que não havia sido dito, por ter esgotado o tempo da
palestra. Enfim alguns queriam tirar suas dúvidas, outros desejavam consultar
sobre seus casos particulares e viam ali a chance para tal e outros ainda
perguntavam explanando o assunto de modo a demonstrar que sabiam tanto ou mais
que o palestrante, situação claramente percebida por aqueles mais atentos tirando
a chance da assistência de fazer mais perguntas elucidativas. Entretanto algo
no andamento dos intervalos chamou a atenção de Estela, que não havia deixado o
salão para o lanchinho amigo, a água mineral para repor as baterias e amenizar
o calor que estava de apoquentar gaúchos, paulistas, mineiros e outros
confrades que compareceram ao evento, uma ida rápida ao toalete que ninguém é
de ferro e ainda precisamos suprir nossas necessidades fisiológicas. O dia que
não tivermos mais tais necessidades inerentes ao físico talvez estejamos em um
degrau evolutivo mais elevado, quem sabe onde andaremos então?
Entre
abraços e felicitações pelo tema apresentado, sorrisos e agradecimentos por
repassar conhecimentos, um dos palestrantes com educação e gentilmente conversava com os
presentes, que queriam estar perto daquele ser humano que se dispunha e dedicar
um fim de semana ao estudo com a comunidade religiosa. Recebia ele congratulações, quando
foi envolvido num abraço mais que apertado e envolvente, de um afago "amoroso" com o calor da paixão arrebatadora, com a
pessoa murmurando lascivamente em seus ouvidos palavras melífluas, na tentativa
de seduzir e carrega-lo mais tarde para uma noitada agradável, desviando seu
foco no assunto mais importante que era a rodada de estudos. Estela não estava
próxima o suficiente para ouvir detalhadamente porque a pessoa falava baixo aos ouvidos do
palestrante, mas escutou o suficiente para observar a cena real, e mesmo assim percebeu a
calma com que o assediado procedeu, afastando delicadamente com palavras
gentis mas firmes o motivo de tamanho assédio, desviando o assunto e dando atenção para
outros participantes que desejavam trocar palavras com ele, encerrando qualquer
dúvida sobre sua postura ética e comprometimento espiritual superior.
Presença
de espírito, aprendizado ao longo da caminhada, reconhecimento das armadilhas
para desviar a atenção do médium, percalços da estrada, não importa o nome que
se dê, o importante é saber reconhecer e buscar sabedoria
para não cair nas malhas das sombras que fazem de tudo para apagar o brilho da
luz, que abnegados e corajosos, tentam manter acesa, amparados pelo mais alto
que acredita na redenção da humanidade, que hoje vivencia o apocalipse nas ruas,
no dia a dia e no comportamento de grande parte da população.
Inevitavelmente,
nenhum curso nos dá um poder de realização, seja em que área for, se dentro do
indivíduo não existe o preparo e a maturidade, notadamente no campo complexo da
mediunidade, que só são alcançados e internalizados com a vivência, a prática e
o tempo necessário para a segura consolidação na consciência do ser e no espírito imortal.
Lizete Iria
Médium do Triângulo.
Médium do Triângulo.