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domingo, 29 de dezembro de 2013

Tambores, Xequerês e Maracás na Umbanda do Triângulo da Fraternidade

    
      
         Por Norberto Peixoto      

        Hoje estou completando 50 anos de existência nesta presente vida. Com este artigo, registro meu preito de gratidão aos nossos mais velhos na religião e aos nossos mentores, espíritos ancestrais, que nos deram a oportunidade de vivenciarmos esta Umbanda de todos nós - especialmente desde os 7 anos de idade com o batismo na Cachoeira de Itacuruçá e lá se vão 43 anos-, pelo canal da mediunidade. Eles  seguidamente nos instruem, apoiam, advertem e, acima de tudo, nos mostram o caminho do amor universal, nos ensinando o respeito incondicional às diferenças instruindo-nos que o nosso Deus é o mesmo Deus do outro, e que nunca devemos nos sentir superiores impondo fé, devoção, crença, culto, doutrina, filosofia ou religião a quem quer que seja. Infelizmente a formação da consciência coletiva ao longo das reencarnações sucessivas está repleta de preconceito, perseguição, etnocentrismo, violência, intolerância religiosa e subjugação cultural,..., em nome de Deus, o mesmo Deus, Criador de todos nós.

        Não poderia ser diferente com a história e identidade gaúcha – e por que não brasileira – que foi construída muito calcada no positivismo oriundo do desenvolvimento sociológico do iluminismo francês – e europeu – que se fortaleceu com a sociedade industrial. Na construção do pensamento positivista inserido no “libertário” movimento iluminista francês - ao qual paradoxalmente e felizmente favoreceu o nascimento do espiritismo -, todo e qualquer atributo metafísico ou teológico na estruturação do pensamento filosófico é desconsiderado, defendendo-se a idéia reducionista que somente o conhecimento científico é o único verdadeiro. Notadamente fazendo parte do eurocentrismo colonialista – visão do mundo que a Europa, suas coisas e cultura são melhores e devem ser adotadas no Brasil excluindo-se as demais consideradas primitivas e menos evoluídas – os gaúchos foram muito impactados com este modo de pensar.
      Enquanto os Guaranis e outras etnias indígenas daqui do RS eram dizimadas pelos portugueses e espanhóis - em guerra por disputa territorial - seus remanescentes vivos foram “acolhidos” pelos Jesuítas catequizadores que demonizaram seus rituais sagrados e respectivos instrumentos sonoros. Nesta mesma época os negros viviam em média sete anos nas charqueadas enquanto os filhos da rica "nobreza" iam estudar na Europa e aprender a tocar piano.
   Os Tambores, Xequerês e Maracás, instrumentos de percussão sagrados dos descendentes afro-ameríndios foram subjugados e sumariamente proibidos, preconceituando-se uma cultura ancestral e milenar como primitiva e atrasada, popularmente taxada de "coisa do demônio".
       O Xequerê em português, e Sekere na ortografia Yorubá, é um instrumento musical de percussão da África. Consiste de uma cabaça seca cortada em uma das extremidades e envolta por uma rede de contas. Ao longo de todo o continente africano é chamado de diferentes nomes, como o lilolo, axatse (Gana), e chequere. É predominantemente chamado shekere na Nigéria.

     O Xequerê é feito de pequenas cabaças - porongos - que crescem no campo. A forma da cabaça determina o som do instrumento. Um Xequerê é feito por secagem do porongo, por vários meses, em seguida, a remoção da polpa e sementes. O Xequerê é agitado quando é tocado. Temos ainda uma derivação aqui no RS que é o Agê (instrumento feito com uma cabaça inteira trançada com cordão e contas diversas), que no centro do país é chamado de Afoxé.

        
       O Maracá, também chamado bapo, maracaxá e xuatê, é um “chocalho” indígena utilizado em festas e cerimônias religiosas e guerreiras. Consiste em uma cabaça seca, desprovida de miolo, na qual se metem pedras, caroços ou coquinhos. A palavra "Maracá" se originou do tupi mbara'ká. Está presente em diversas manifestações culturais brasileiras, como o Catimbó - terapia espiritual baseada na fumaçada do cachimbo feito da árvore de angico - e em cerimônias da “Umbanda Juremeira” que recebeu influências indígenas da milenar "Ciência da Jurema" dos nossos índios, tido assim como instrumento sagrado.

     

      Assim procuramos resgatar esta sonoridade que faz parte da nossa memória ancestral, e que se liga a Criação Divina pelo - mantra - som cósmico universal AUM, na Umbanda que praticamos no Triângulo da Fraternidade.

     Muita paz, saúde, força e união.
     Norberto Peixoto.  
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