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segunda-feira, 7 de maio de 2012

A esposa de Xangô

                Entre o público frequentador das casas de caridade podemos traçar alguns paralelos, quais sejam os motivos que levam estas pessoas a buscar ajuda, para os problemas que os afligem. É interessante observar que uns procuram consolo espiritual através da palavra sábia dos amigos espirituais. Outros, desesperados ante a doença que ronda suas famílias ou pela perda de entes queridos, buscam a cura ou desejam notícias de seus parentes que partiram para o além-túmulo, como se fossem de trânsito fácil tais informações. Esquecem que este correio funciona de um só lado, o que quer dizer de lá para cá. 
      Muitos buscam solução para a perda de empregos, derrocadas econômicas, perda de cargos, marido ou mulher que saiu de casa, companheiros que se foram. Namorados que ainda não apareceram. Parentes que causam problemas perturbando a ordem e o sossego das famílias. Mazelas de toda ordem, receitas para alcançar os tão sonhados bens de consumo, que afinal, toda a vizinhança tem, menos nós. O que será mesmo que eles fazem que ganhando menos, conseguem ter mais do que nós? Qual será o milagre?
Precisamos saber.
          - E a mulher do meu filho? Queria fazer algo para ajudar. Para ele voltar para casa. Ela não é da nossa religião, não sei como ele foi casar e consegue viver com ela. Vê se pode? Ela quer afastar nosso filho. Isto não podemos aceitar.
       - Ai meu Deus! Minha filha casou, está vivendo com um traste. Aquele rapaz não vale nada. Sonhamos um casamento lindo e um marido com bom emprego para ela. E agora? Queremos fazer alguma coisa para separar os dois....
          Ante as incompreensões e as dores de cada um, a espiritualidade que serve nas casas voltadas para o amor fraterno, encontra sempre o consolo amigo, o carinho verdadeiro, baseado nos ensinamentos de Jesus, para que as pessoas mudem sua forma de encarar os tropeços do cotidiano, tirando preciosas lições de onde antes só existiam escuridão e desespero.
         Poucos, muito poucos, estão imbuídos do verdadeiro e firme desejo de mudar, de autoconhecer-se, de parar com as lamentações e partir para vencer os desafios da vida. Que, aliás, são as verdadeiras lições que precisamos aprender, se quisermos sair desta roda de encarnações, que nos prende através da lei de Causa e Efeito e do Cada Um Segundo as Suas Obras, a esta escola planetária chamada Terra.
          Cada momento dentro do abaçá (terreiro), enquanto os médiuns esperam para iniciar os trabalhos deve ser aproveitado para meditar e receber através da irradiação do pensamento, as proveitosas observações que são feitas pelos guias.
          Terminada a palestra da noite, os consulentes iniciam a entrada para receber as orientações, os passes e o posterior encaminhamento para continuar o tratamento quando assim for indicado.
           Julica. Era assim que ela se chamava.
           Dizia que desde pequena seu amado pai a tratava assim, porque era um apelido carinhoso e juntava o nome de suas avós Julia e Catarina.
          Estava ali em busca de orientação para seus desgostos, que eram de ordem material, sentimental, familiar porque o filho tinha sérios problemas. Os médicos achavam que era portador de TOC, somado ao uso de fortes medicamentos e talvez, somente talvez esquizofrenia, de leve, muito leve. 
          O esposo não se importava, aliás, não queria saber. Ela se via sozinha. Nem ao menos um companheiro amigo, para preencher os dias de solidão e amenizar a dor das perdas.
         Questionada se frequentava alguma casa, para estudar e conhecer sobre a vida espiritual, para autoconhecimento, ela respondeu que ia somente de vez em quando, ou quando tinha tempo, pois era muito atarefada, o que a desgostava porque o dirigente da casa reclamava muito de suas ausências prolongadas.
         O que significa que Julica ia quando bem entendia e que tinha outras prioridades em sua vida. Desta forma não assumia compromisso com nada, porque precisaria então dedicar horas de suas tarefas para a causa espiritualista. Ou quem sabe, melhor dizendo, para si mesma.
         Enquanto recebia conselhos e orientações, Julica perguntou ao médium, mas dirigindo a pergunta a entidade:
         - O Senhor é o que mesmo? O Senhor é Pai Xangô?
         - Trabalhando com uma mulher? Como pode?
          Com toda humildade a entidade irradiada respondeu, ou tentou responder:
          - Sou um simples caboclo, enfeixado na linha de Xangô... 
         Nem terminou de responder e Julica saltou no pescoço do médium, querendo abraça-lo, tentando beijar suas mãos, o que causou um grande constrangimento, enquanto gritava.
          -Eu sabia é Pai Xangô. Eu sabia é Pai Xangô!
          E largando repentinamente o médium saiu a rodopiar no abaçá (terreiro) rindo e gritando.
         - EU SOU A ESPOSA DE XANGÔ!!! EU SOU A ESPOSA DE XANGÔ!!!


          Triste realidade. Falta de autoconhecimento, discernimento e quem sabe até portadora de uma obsessão comumente chamada fascinação, quando a pessoa que a sofre nem percebe o que está se passando. Não aceita ser contrariada e acha que está assistida por espíritos de luz. Com o tempo passa a praticar atos totalmente contrários ao bom senso e a conduta ética e social, sujeitando-se totalmente ao comando do obsessor. Estas pessoas, em sua grande maioria produzem trabalhos de baixo teor e nenhum conteúdo evangélico e moral, porém não conseguem enxergar e se acham incompreendidos e perseguidos pelos demais, expondo-se assim ao ridículo perante seus pares.
         Cuidado! Muito cuidado! Devemos ter sendo médiuns ou não! 
         Estudar! Instruir-se! Ter disciplina na vida!    
   Procurar orientação nas casas que apresentam condições de nos oferecer suporte abalizado em nossa busca. 
           Discernimento, autocrítica e Evangelho de vez em quando não fazem mal a ninguém. Muito pelo contrário, podem nos livrar de muitos incômodos e sustos ao longo de nossa caminhada.


Lizete - Médium do Triângulo da Fraternidade

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