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quarta-feira, 9 de maio de 2012

O obsessor de Janaína

            Janaína, carinhosamente chamada de Naná, mulher entrando na madureza, ou como diriam os maldosos: balzaquiana. Casou-se quando estava começando a pintar um sentimento de que ia ficar para “titia”, quando surgiu em sua vida Antônio Fernando, um descendente de Cabral, emigrado para o Brasil. 
             O casal tinha uma filha adolescente de 13 anos, Manoela, e que em virtude da idade, de estar em plena adolescência, seu corpo transformando-se de menina para mulher, parecia um vulcão, com as glândulas sexuais ativas a despejar energias descontroladas no ambiente. Deixando os garotos a rondar a casa e os pais com os cabelos em pé, procurando arrefecer os ímpetos e arroubos mais ardorosos dos futuros pretendentes da garota.
             Com toda esta energia entrechocando-se dentro de casa, fenômenos de efeitos físicos aconteciam frequentemente, pois normalmente tais fatos ocorrem quando na casa existem adolescentes que são grandes fornecedores de ectoplasma, e então espíritos zombeteiros e mal intencionados passam a produzir efeitos como ruídos, batidas nas paredes, lâmpadas que acendem e apagam aparelhos eletroeletrônicos que ligam e desligam sozinhos, pedras atiradas nos telhados, combustão espontânea em cortinas e colchões, louças e talheres que balançam nos armários, deixando os moradores sem saber o que fazer e apavorados pelo fato de não compreenderem a causa ou poderem dominar e acabar com a farra dos espíritos descompromissados com maiores aquisições referentes ao entendimento e compreensão moral e espiritual.
       Ante os fatos que se apresentavam, resolveram ambos buscar ajuda em uma casa espírita kardecista e passaram então a frequentar um curso de estudos e desenvolvimento mediúnico, pois eram, assim como a filha, igualmente portadores de mediunidade e procuravam entender o que acontecia com eles.
             Estavam dispostos a “pegar o touro a unha”, se assim fosse necessário para defender o lar e proteger a filha. 
             Com todos estes acontecimentos Naná começou a sentir-se perseguida e observada, sensação que havia esquecido completamente, mas que durante uma fase em sua vida de solteira era fato corriqueiro e ela não falava aos pais para não ser considerada “doente”, porque vinha de uma família muito religiosa, católica romana, cujo padre além de frequentador assíduo em almoços e jantares era o orientador espiritual.
             Tinha ela a sensação estranha de estar sempre acompanhada, observada em todos os momentos e lugares por onde andava, até no banheiro sentia que não lhe davam trégua, fato que a deixava contrariada e aborrecida.
            A coisa começou a esquentar quando Naná que até então apenas sentia a presença, arrepiando-se toda e ficando com os cabelos em pé, passou a perceber uma leve névoa esbranquiçada por alguns instantes, quando estava distraída e repentinamente, vislumbrava uma silhueta o que a incomodava a ponto de apresentar uma forte e constante enxaqueca e dores estomacais.
             Apesar de o Evangelho ter sido implantado no lar, estarem ambos frequentando a casa espírita, Manoela ter sido engajada no curso para adolescentes, Naná ter iniciado um tratamento médico homeopático, juntamente com acompanhamento psicológico, a situação não melhorava.
              Pelo contrário a presença, do acompanhante invisível era cada vez mais constante o que estava acabando, esfrangalhando seus nervos, estando o casal pensando que a casa estava mal assombrada e que, portanto estava mais que na hora de mudar, sair dali, desaparecer. Até mudar-se para Coimbra foi cogitado, tendo Manuela se oposto radicalmente, porque estava apaixonada por um garoto, que lhe fazia a corte.
              A vida de Naná estava indo de mal a pior tendo-se transformado num pesadelo e para complicar mais surgiram alguns tiques nervosos, seu sono era curto e pesado, revirava-se a noite toda e pela manhã seu estado e aparência eram lamentáveis para seu desconforto.
             Um belo dia, cansada, esgotada, pensava em como sua vida mudara, como estava envelhecida o que lhe causava certo desgosto ao olhar-se no espelho, porque afinal Antônio Fernando era um homem atraente, viril, simpático e isto estava lhe causando pequeno desconforto, porque a mulherada estava cada vez mais “saidinha” representando perigo, para as mulheres casadas e honestas.
            Com estes pensamentos a martelar em sua cabeça, levantou-se repentinamente da poltrona que estava sentada, fazendo trabalhos manuais, que eram parte da terapia mantendo-a distraída, para ir ao quarto no andar superior da casa que possuía dois pavimentos.
              Num gesto brusco saiu apressada da sala, e ao ouvir passos atrás de si quando subia as escadas, voltou-se repentinamente e ambos, obsessor e ela bateram-se de frente porque não houve tempo dele parar, caindo um para cada lado e saíram correndo ambos apavorados com o susto indo esconderem-se cada um num cômodo diferente. 
            Quando o coração de Naná que quase saiu pela boca acalmou e ela pode respirar mais aliviada, resolveu espiar pela porta, teve uma grande surpresa, o “obsessor”, que ela via porque tinha o dom da vidência e ainda não se dera conta, também espiava pela porta do outro quarto, com cara de susto.
             Neste momento, e tão somente ante aquela cena incomum percebeu o quanto aquele ser era necessitado, que estava ali porque precisava de ajuda e esclarecimento assim como ela e que também buscava compreensão e acolhimento.
           Resolveu naquele instante dramático que estava passando, ajoelhar-se e orar humildemente, pedindo ao Pai ajuda proteção e orientação para ambos, porque entendeu que os dois eram carentes de amor e perdão. Aliviou o coração e chorou como nunca havia chorado em toda sua vida, esvaziou seu ser de toda raiva, de todo ódio que acumulara por aquele estranho e suavizou a angústia e o mal estar que a acometia.
            Dormiu e dormiu como fazia tempo que não experimentava uma noite de sono tranquilo. Sua família começou a ficar preocupada, mas seu semblante era tão sereno que esposo e filha resolveram esperar até o dia clarear. 
            Quando despertou na manhã seguinte Naná tinha o coração leve, estava mais bonita e as rugas de preocupação despareceram como por encanto. Havia dentro de si uma esperança e uma firme decisão de felicidade no porvir.
           Passaram-se os dias, o lar estava sereno.
           A presença havia sumido. Nem sinal de alguma energia diferente.
          Dois anos após este acontecimento eis que a família aumenta. A filha Manoela dava a luz a um belo e forte menino. Lindo como somente uma avó pode sentir. Saudável e rosado. Trazendo alegria e felicidade.
         Com a atitude de perdão e renovação em sua alma, Naná resgatou para sua família a misericórdia divina e recebeu em seu lar, espírito outrora amigo, que havia prejudicado Manoela em vidas anteriores. Hoje resgatado como filho e neto querido cumpriam assim seu programa de aperfeiçoamento espiritual com aprendizado no amor.
        Tempos de calmaria e momentos felizes para esta pequena família. Momentos para renovar as forças e a confiança na providência divina porque mais tarde, a vida traria para eles novas provas, novas lições. 


Lizete - Médium do Triângulo

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