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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Surpresa - era o marido!!!


                As noites de quarta-feira na casa espírita, eram dedicadas ao trabalho de palestras desobsessivas no salão principal, e ao atendimento fraterno e de saúde, nas cabines que ficavam em um corredor lateral ao salão.  O salão com aproximadamente 150 lugares estava lotado e o palestrante da noite se esforçava para prender a atenção dos presentes que por natureza do próprio trabalho se apresentavam agitados e inquietos.  Os atendimentos feitos nas cabines apresentava sempre agenda cheia e o numero de pessoas atendidas por cada uma delas nunca era inferior a 12 pessoas, e as cabines em torno de 10. Interessante observar que a espiritualidade sabiamente, reúne para os atendimentos do dia as pessoas que apresentam os mesmos problemas, e a equipe espiritual que vem dar suporte ao trabalho, constitui-se de especialistas naquela área específica, além naturalmente dos trabalhadores que fazem parte da equipe fixa, do lado lá da matéria.
Marina, espírita praticante e estudiosa do assunto, há uns 10 anos, coordenava  uma equipe de atendimento de cabine, como popularmente era chamado pelos frequentadores da casa. Junto com ela mais três trabalhadores, ajudavam nos afazeres e se desdobravam para atender a todos sem distinção,  absorvendo para suas vidas as lições que passavam diante de seus olhos.
Este pequeno grupo, encarava a tarefa com seriedade e amor, dedicando-se a estudar e pesquisar sobre a melhor forma de ajudar as pessoas, ensinando a palavra de Jesus, em cada orientação, quando se fazia necessária. Porque curas milagrosas não existem e as pessoas precisam entender que a parte mais trabalhosa é a delas. Os grupos espiritualistas, espíritas, umbandistas que se dedicam a levar consolo aos aflitos e necessitados e doentes do corpo físico e da alma, fazem o que podem, mas por imperativo da “Lei de Causa e Efeito” e do “ A Cada Um Segundo Suas Obras”, cada ser humano vai ter que enfrentar e tentar remover todos os pedregulhos que se atravessarem em seu caminho.
É claro que tudo pode se modificar a todo instante, dependendo do entendimento e das reações de cada um frente às dificuldades que aparecem e nos pegam de surpresa e de jeito, porque nunca estamos preparados para enfrenta-las com coragem, com entendimento, com esperança num amanhã claro e próspero. Ficamos choramingando, reclamando, como crianças mimadas, que se escondem debaixo da cama com medo do bicho-papão. Achamos que o Pai nos abandonou, que diante de tantos bilhões de habitantes no planeta Ele nem sequer sabe da nossa existência, nem tem tempo para olhar por nós.
Aquela quarta-feira foi marcada pelos problemas da alma, dores difíceis de resolver, onde a psicologia e o amor são essenciais, para devolver o gosto pela vida, nas pessoas que se sentem abandonadas ou traídas.  Inclusive alguns casos de tentativas de suicídio, em reincidentes, necessitavam de todo o cuidado da equipe, que se desdobrava, nos aconselhamentos, nos passes, no magnetismo. Em qualquer atitude que tirasse aqueles seres do estado lastimável em que se encontravam. Encaminhando-os depois para a sequência de tratamentos que se faziam necessária, para devolver a coragem e o equilíbrio a eles.
No momento em que apresentavam melhoras eram encaminhados para os cursos que a casa oferecia, ou seja, palestras, passes, magnetismo, fluidoterapia, escola de médiuns e outros.
Alguns agradecidos pela ajuda recebida e tendo compreendido o papel que lhes cabe no processo de cura, passavam a frequentar a casa com regularidade, tornavam-se trabalhadores para tentar compensar o tratamento carinhoso que receberam, ajudando outras pessoas a encontrarem também o caminho do equilíbrio e da alegria de viver. Gesto bonito de quem viu a luz no fim do túnel e soube aproveitar a nova chance.
   Os atendimentos prosseguiam e lá pelas tantas, chegou uma mulher aparentando 35 anos, bem vestida, com boa aparência e um bom nível de compreensão sobre a vida espiritual. Era escritora e possuía alguns livros publicados.  
Disse que buscava orientação porque estava sem rumo na vida. Apaixonara-se por um colega do grupo de estudos na casa espírita e não sabia mais o que fazer. O homem era casado e tinha filhos, sua esposa era frequentadora da mesma casa e desenvolvia trabalhos na área mediúnica já alguns anos e ele resolvera seguir seu exemplo e assim iniciava a caminhada espiritual. Entretanto, o mesmo por sua natureza irrequieta e aventureira, extremamente sensual e adepto dos prazeres fáceis, sem valorizar devidamente a família que havia constituído, envolvera-se amorosamente com a colega de estudo. 
A história mais uma vez se repetia, e ela extremamente carente, desejosa de atrair para si um companheiro para dividir as horas de solidão, deixou-se levar pelas promessas vãs, acreditando quando o mesmo lhe dizia queixoso:
- Minha mulher não me compreende! Não me trata com carinho! Não me dá atenção! Dormimos em quartos separados! Ela só pensa na casa e nos filhos! Nem minha roupa é lavada, preciso levar para a lavanderia! Ninguém cuida de mim!
De conversa fiada em conversa fiada ia seduzindo e atraindo cada vez mais a mulher, que acreditando nas palavras dele, esperava que o mesmo abandonasse a família e fosse morar com ela.
O tempo foi passando e percebendo que o amado não conseguia se desvencilhar da esposa, que dizia ele “não lhe dava o divórcio”, “não queria a separação” e “estava complicando as coisas”, resolveu procurar a cabine de atendimento, para se aconselhar. Saber se sua relação tinha futuro. Se realmente era amada da mesma forma que amava e havia entregado o coração e todas suas esperanças. 
Foi acolhida e várias considerações foram feitas pela equipe de modo a abrir seus olhos, para enxergar friamente o tipo de relação e se eram verdadeiras as intenções do seu amado. Mas acima de tudo se podia confiar nas intenções do tal sujeito.
Ela perdidamente envolvida e louca para tê-lo junto a si não ouvia nem assimilava nada e no auge do desespero para ver suas expectativas atendidas disse que o seu amado era casado com uma trabalhadora da casa, que participava dos grupos de atendimentos em cabine. E dito isto saiu apressadamente.
Todos na cabine ficaram surpresos, ante a atitude da mesma, mas como tinham ainda vários atendimentos, não perceberam a sutileza da declaração e trataram de continuar com o trabalho que ainda não terminara.
Após o encerramento e as despedidas foram para suas casas, para descansar e renovar as forças para o dia seguinte e quando saíram comentaram as atitudes estranhas da mulher. Sem maiores considerações.
Ao chegar a casa, Marina encontrou o marido acordado, fato que lhe causou estranheza, pois nos dias que trabalhava na casa espírita ele ficava com as crianças e ao fazê-las dormir, dormia junto. Entretanto nada falou.
Entrou, tomou um bom banho, pois estava realmente cansada, trabalhara o dia todo. Fez uma refeição leve e após colocar os assuntos em dia com o esposo, dirigiu-se ao quarto para dormir, ocasião que ele foi junto. Quando estavam se preparando para deitar ele perguntou como quem não quer nada.
- Querida, uma colega do grupo de estudos, falou que estava necessitando urgente de atendimento e disse que ia até lá. Ela apareceu?
O momento seguinte foi avassalador. Uma eletricidade percorreu o ar, como um chicote estralando aos seus ouvidos. Ela voltou-se para ele, olhando com incredulidade. Então instantaneamente compreendeu. Era o seu marido. O tal homem que fizera promessas e estava tendo um envolvimento com a tal escritora!
Não estava acreditando no que ouvia! Tudo começou a rodar! Um barulho ensurdecedor tomou conta de sua cabeça.  O coração começou a bater descompassadamente! As emoções descontroladas estouraram.
E ela desmaiou!
        O tempo que transcorreu foi impreciso!  Ela viu-se em pé assistindo um filme a sua volta. Era como se todo o espaço fosse uma projeção. Escutava e entendia os pensamentos ao mesmo tempo. Ela era um padre, muito bonito, que estava envolvido com uma mulher casada da sua paróquia. Planejava com ela que a mesma procurasse uma benzedeira da vizinhança que fazia poções mágicas para separar casais, pois a queria só para ele e longe do marido. Por sua vez, compreendeu que a mulher sua amante era o seu marido hoje. 
      E agora, o que acontecerá com nossas personagens?
      Não sabemos, mas vamos refletir.
     Por um justo efeito da Lei de Retorno, que estabelece que todo o efeito tem uma causa geradora, só alterando-a se obtivermos uma mudança perene dos enredos de vida entre as reencarnações sucessivas, hoje novamente os três personagens se reencontram em um centro espírita. Nova oportunidade foi dada para que vençam os apelos primários que ainda latejam em seus espíritos. Novamente falham, enredando-se mais ainda nas Leis Cósmicas.     O amor deve ser atributo divino e o sexo é concessão do Mais Alto para que sejamos co-criadores. O fato de estarmos numa igreja, terreiro ou centro espírita não nos garante que venceremos a nós mesmos, eis que cada um é dentro de si o seu maior inimigo. Agravam-se as consequências pela repetição de padrão nos personagens que mais uma vez falham. A troca do envoltório externo que ocorre quando mudamos de corpo físico entre uma encarnação e outra, não altera nada em nosso interior. As situações se repetem pela afinidade que atraímos e somente mudando padrões psíquicos internos mudaremos o cenário do teatro de nossas existências.

      Lizete - médium do Triângulo

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