E disse-lhe Jesus: "Nem eu também te condeno..." João cap. 8 - vv 1 a 11
Fátima era médium de uma
casa umbandista, servia lá desde muito tempo. Era a menina dos olhos dos irmãos
medianeiros, a mais carismática e alegre, mas a verdade era que naqueles
tempos, a moça não estava se gostando muito, viva calada e entristecida.
No lar enfrentava um
turbilhão de problemas, era o filho adolescente que não queria obedecer, o
marido cheio de dificuldades no trabalho, a casa precisando de uma reforma e
para variar, ela havia ficado desempregada... Mas poderia ficar pior! As suas
vizinhas insinuavam-se para seu esposo... E ele gostava.
Namoro ela nem mais sabia
o que era, na verdade retraiu-se demais e negou a si e ao próprio companheiro o
direito de curtirem-se como um casal, aí já viram né?
Quando o moço demonstrava
que estava carente de seus beijos, ela se esquivava dizendo que estava cansada
e para piorar ela não o deixava ver o seu corpo por causa da vergonha que
sentia e isto sempre era o motivo dos desentendimentos entre eles. Ele foi aos
poucos distanciando-se dela e quando Fátima reclamava ele a culpava.
Nossa irmã realmente tinha
certa responsabilidade, os problemas do cotidiano deixaram aquela doce mulher,
desanimada. Acabou permitindo que a vida
agitada e difícil minasse suas vontades e aí, descuidou-se de si mesma em
demasia.
Desde o nascimento do
único filho do casal, ela nunca mais interessou-se por si mesma, mas a beleza
discreta que existia nela, não desapareceu de todo.
Surgiram então
dificuldades enormes em sua vida, como por exemplo, as vizinhas assanhadas que
competiam entre si para saber qual delas seduziria primeiro Jorge, o marido de
Fátima. Quando ela o questionou cobrando-o severamente uma atitude de homem
casado, ele a maltratou dizendo que buscaria na rua o que não encontrava em
casa! Isto foi a gota d’água para a moça e a tristeza bateu mais forte e Fátima
entregou-se de vez ao desânimo.
Apesar de amar o que fazia
dentro do templo espiritualista, de auxiliar sempre dando o melhor de si,
Fátima ficou desmotivada e infeliz, achando-se a mulher mais tosca do mundo, mais
feia e sofrendo porque percebia que aos poucos perdia o marido.
Um dia seguiu para o
templo umbandista em silenciosa oração, pedindo aos orixás o devido amparo e o
pedido foi tão sincero, que assim que colocou os pés no mesmo, sentiu algo
diferente, uma força que a encorajava... Era bom...
Na sessão ela ficou num
cantinho cantando bem baixinho, era como se quisesse “esconder-se” de todos.
Nesta hora percebeu um magnetismo forte atuando em seus centros de força e um
perfume delicioso foi espargido em todo o ambiente e de repente, ela começou a
dançar.
Pombagira envolveu Fátima
que agora se olhava enquanto dançava e gostava do que via. Ela observava seus
pesinhos delicados e descalços, movimentando-se num ritmo gostoso e gostava
daquilo, contemplou os braços e as mãos e soltou os longos cabelos, sentindo
vontade de enfeitá-los com uma flor.
A médium dançava sob a
vibração da entidade feminina que a auxiliava a desvencilhar-se da falsa ideia
de que era feia. Era uma dança sensual com movimentos suaves que faziam-na
sentir-se feminina e bela.
Agora os médiuns daquela
casa a observavam com alegria, pois entendiam que pombagira se achegava para
transformar.
Fátima estava radiante,
sentia-se a mais bela mulher do mundo, luminosa e delicada. Queria ir para casa
ver o marido, pensava nele com muito amor.
Ao fim dos trabalhos naquele templo abençoado, ela retornou rapidamente para seu lar. Encontrou Jorge ainda acordado, assistindo televisão no quarto. Olhou para ele com amor, ainda sentindo aquela energia vibrante dizendo-lhe: “você pode!”. Soltou os cabelos, olhou para o marido de forma diferente e lhe deu um lindo sorriso, Jorge mesmo sem entender sorriu-lhe de volta. Sentia que havia algo diferente nela.
Ela começou a dançar para
ele de forma elegante, sensual e singela, atraindo-o com paixão. Quem disse que
paixão não serve para nada de bom? Jorge por sua vez sentiu-se valorizado,
amado e querido. A essa altura estava entregue e feliz, percebendo que sua
esposa estava de volta e com um brilho especial nos olhos.
Fátima via a entidade,
sentia sua força e a ouvia- dizer-lhe novamente: “vamos moça, quem disse que
para ser bela precisa ser esguia? Quem disse que para ser feminina tem que ser
perfeita?! Vamos você consegue!”.
Enquanto dançava olhava
para si, percebendo de fato como era delicada e que suas formas eram sim cheias
de curvas, um corpo feminino agora cheio de vontades e sem recalques. Lançou
sobre Jorge um olhar cheio de desejo e de amor e o moço, mais que depressa a
envolveu em seus braços, tocando seus cabelos e esboçando um sorriso
provocante, feliz da vida!
Pombagira deu uma
gargalhada gostosa e seguiu seu caminho.
Esta é a magia de
pomba-gira, quando ela chega, é bom arredar!
Muita paz, equilíbrio e
amor!
Autoria: MarcosMarchiori/Letícia Gonçalves