“Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os
últimos.”
Qual o nosso foco primordial ao realizar todas as
atividades do dia-a-dia, sejam elas em casa ou fora, sejam remuneradas ou
voluntárias?
Riqueza, reconhecimento, status, a alegria de ter feito o Bem?
Jesus faz alusão à expressão “Os últimos serão os primeiros,
e os primeiros serão os últimos” em várias passagens:
- na parábola dos trabalhadores da vinha (Mateus
20:1-16);
- ao explanar os desafios morais dos materialmente ricos
(Mateus 19:23-30; Marcos 10:23-31);
- ao se referir à “porta estreita” — ou seja, o caminho
da evolução moral e desapego ao material ainda ser escolhido e trilhado por
poucos na Terra (Lucas 13:23-30).
Huberto Rohden, em sua obra “Sabedoria das Parábolas”
[1], referindo às cinco turmas de trabalhadores que foram à vinha, pondera:
“As quatro primeiras turmas são dos egos virtuosos,
recompensados por sua virtuosidade. Os da última turma são os Eus sapientes,
não recompensados, mas simplesmente agraciados. O homem virtuoso não é capaz de
trabalhar se não receber nada em retribuição, não na vida presente, mas na vida
futura, pois ele não é do egoísmo terrestre, mas do egoísmo celeste, como diz
Bergson. (...) As quatro primeiras turmas da parábola eram ‘servos úteis’, os
da última turma eram ‘servos inúteis’. Estes últimos não trabalharam com intuito
lucrativo; se receberam o denário, não o receberam como recompensa, mas como
dom gratuito (...). Nenhum homem pode ter direito diante de Deus. Nenhum homem
pode ter a pretensão de ser o ‘credor’ de Deus, e considerar Deus como seu
‘devedor’. O Criador não pode dever nada à criatura.” O evangelista Lucas
(17:10) cita as palavras de Jesus a respeito: “Assim também vós, depois de
haverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: somos servos inúteis,
fizemos o que devíamos fazer”".
A disponibilidade para o trabalho no Bem, associada à
sua prática, nos proporcionam a Plenitude, uma percepção de si próprio ligado à
Luz, finalmente percebendo as bênçãos que os filhos de Deus sempre recebem do
Alto, porém somente são usufruídas quando estes se colocam receptivos às
mesmas. E tal sensação não é quantificável em tempo ou valores ordenáveis em
primeiro ou último.
Independente de sermos materialmente ricos ou pobres,
todos temos de buscar ser úteis ao nosso semelhante, em toda atividade que
empreendermos. À questão 675 de “O Livro dos Espíritos” [2] lemos que “toda
ocupação útil é trabalho”. Com o foco em fazer o Bem, naturalmente entendemos
os bens materiais como meios de tornar o mundo um lugar melhor para a
coletividade. Assim, abandona-se a preocupação primordial de uma ascensão
material, terra-a-terra, horizontal, do mais pobre para o mais rico em posses
materiais, que se desgastam com o tempo. Passa-se a buscar uma ascensão moral,
vertical, ligada com o Mais Alto, do egoísta (primeiro “eu”) para o altruísta (primeiro
o “outro”), uma riqueza que o tempo não consome e que ninguém consegue roubar.
A assertiva de Jesus em Mateus 20:16 (“Os últimos serão
os primeiros, e os primeiros serão os últimos.”) expressa a distinção entre a
valorização espiritual e material das várias situações da vida. O que parece
importante no conceito material é menos importante no conceito espiritual.
Assim, aqueles que cuidam de se tornarem últimos no conceito do mundo
materialista, ou seja, não valorizando (ainda que, por décadas de algumas
encarnações, possuindo) o que o mundo materialista preconiza como importante,
tornam-se os primeiros no plano espiritual, plano real da vida. Da mesma forma,
aqueles obcecados em se tornar os primeiros no conceito ilusório do mundo das
posses materiais, ligando a sua vida a esses valores passageiros, permanecem
imaturos, ou seja, últimos no plano espiritual. O importante é considerar que
não estamos estanques em nenhuma dessas situações (primeiros ou últimos), mas
sempre a caminho para melhorarmos, até que todos sejamos primeiros — não em
ordem de chegada, mas em amadurecimento moral.
Finalizamos com as palavras do Espírito Verdade [3],
lembrando-nos da importância da vitória, em nossa mente e nosso coração, do
altruísmo sobre o egoísmo:
“Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas
anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem
trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a
caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem
esperado. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: ‘Trabalhemos juntos e unamos
os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra’,
porquanto o Senhor lhes dirá: ‘Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós
que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de
que daí não viesse dano para a obra!”
Muita paz, saúde, força e união!!!
Referências bibliográficas:
[1] ROHDEN, Huberto. “Sabedoria das Parábolas”. São
Paulo, SP: Editora Martin Claret, 2004. “Os trabalhadores na vinha”.
[2] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio
de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 675.
[3] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.
97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XX, item 5.