Até onde vai a magia do
som?
Até onde nos leva o Verbo?
Para responder a essas indagações é necessário primeiro perquirir sobre a mecânica do som e os aspectos ocultos do ato de curimbar.
Para responder a essas indagações é necessário primeiro perquirir sobre a mecânica do som e os aspectos ocultos do ato de curimbar.
Se “no princípio era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” e “todas as coisas foram
feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”, então todas as coisas
criadas são manifestações concretas dessa Vibração Original. Logo, todo ato de
emissão de som e de sua correspondente vibração é um ato divino, um ato
magístico, que será magia branca ou negra a depender da intenção do emissor. O
curimbeiro, ao bater com suas mãos no atabaque e dele extrair o som, de forma
compassada, rítmica, com pensamento concentrado em seu ato e nele colocando seu
poder de vontade, com propósito definido, acaba por movimentar energias ocultas
através da vibração produzida pelo som. O som é externo, mas sua contraparte
oculta é a vibração que não apenas lhe dá sustentação como o leva (e a si
própria) adiante, em ondas, em levas, onde cada onda vai “empurrando” para a
frente a que lhe antecede e, por sua vez, é impulsionada para adiante pela que
lhe vem atrás, em um movimento ondulatório irresistível com capacidade para
“arrastar”, se for o caso, tudo o que encontra pela frente no plano oculto. Até
onde? Quais os limites? Acredito que as possibilidades são ilimitadas,
diretamente proporcionais ao propósito e à vontade colocados no ato de
curimbar. É nos dito que o pensamento tem cor, forma e som. Que até tem odor,
perfume, emite luz. Ora, então o inverso também deve ser verdade: todo som
emitido também há de, necessariamente, produzir luz, cor, energia pura não
condensada. Energia “carimbada” pelo sentimento de doação de que devm estar
imbuídos os curimbeiros. E se é energia doada, então contém a necessária
“autorização”, por assim dizer, para que seja utilizada pelos nossos amigos
espirituais da maneira que entenderem mais proveitosa para a s atividades que
estão sendo realizadas. E aí deve entrar, necessariamente, a qualificação que
essas entidades espirituais colocam na vibração resultante da curimba, ou seja,
matizam as ondas de energia colocadas à disposição para os trabalhos da noite
com as qualidades intrínsecas da linha, falange, em suma, do Orixá em atuação.
E aí fico tentando
imaginar como seria um toque suave, compassado, melódico, acompanhado de um
ponto das caboclas das águas, matizado pelas energias mansas, aquáticas,
cristalinas e purificadoras das entidades dessa Vibração, levando adiante, em
suaves mas irresistíveis ondas, os irmão sofredores para os postos de socorro
espiritual, limpando-os, energizando-os, envolvendo-os em sublime bálsamo e os
entregando mansamente para aqueles que os acolherão.
Ou então imagino o toque
potente, compassado, com vontade concentrada e propósito firme, tanto de quem
toca como de quem canta o ponto, produzindo ondas de choques firmes e
irresistíveis na vibração de Iansã, arrastando, desintegrando miasmas, não
deixando em pé nada que não estiver em conformidade com a Lei, purificando pelo
“vento” e levantando e dispersando a poeira e a sujeira astral de alguma
sombria região do umbral.
Fico a imaginar também o
efeito da batida compassada e firme na vibração de Ogum. Se no plano físico os
exércitos sempre se utilizaram do som como instrumento para atemorizar o
inimigo e, ao mesmo tempo, infundir confiança e coragem em seus próprios
soldados, como não será quando falangeiros de Ogum viajam nas ondas energéticas
vibratórias deslocadas pelo potente ressoar dos atabaques, sustentadas pela
vontade firme cós curimbeiros e dos entoadores dos pontos cantados de Ogum e
Xangô, ondas essas “carimbadas” pelo espírito de doação de toda a corrente, a
entregar aos trabalhadores do outro lado um aporte energético de vibração e de
ectoplasma, matéria-prima preciosa e indispensável para a concretização dos
efeitos benéficos visados pelas entidades amigas nos embates e nos ambientes
quase físicos do umbral inferior. Que visão não haverá de ser! Falanges
chegando de forma irresistível, recolhendo sofredores atordoados e
neutralizando entidades mal intencionadas, realizando com confiança,
determinação e corajosa bondade o encaminhamento desses irmãos para os devidos
locais de atendimento e amparo.
Mas, ainda que essas ações
já se processem no plano oculto, contraparte oculta e poderosa do ato físico de
curimbar, parece-me que há efeitos mais sutis que também devem ser
considerados.
Dizem os orientais que o
Verbo é AUM, a Vibração Original, a primeira manifestação do Absoluto
Indiferenciado, de onde provém todas as demais manifestações concretas nos
diversos planos de existência. Se é assim, somos todos filhos deste Verbo,
deste Som Primordial. Somos Som, somos vibração. Vibração essa que reverbera e
emite luz, através da glândula pineal de cada um de nós. Estamos todos
interligados por essa Vibração Original, que nos iguala e nos irmana. Se é
verdade que um diapasão emite som e vibração que faz com que uma corda musical
vibre na mesma freqüência e nota musical, então parece-me que o toque da curimba,
compassado, em uníssono, matizado com as qualidades vibratórias do Orixá
invocado e potencializado o toque pela vontade firme e consciente, com
propósito definido dos curimbeiros e de quem canta o ponto, parece-me, repito,
que o deslocamento energético vibratório produzido sintoniza, como se fosse um
diapasão, com a nossa própria vibração, esta que vibra constantemente através
da glândula pineal. E é aí que se produz, imagino eu, a harmonização da nossa
energia, vibração pessoal, com a do Orixá invocado durante o toque. Nesse
momento se produz um refinamento dos nossos corpos sutis, como resultado dessa
harmonização e pela agregação das qualidades vibratórias do Orixá. E essa
sintonia permitirá a cada médium, de acordo com suas peculiaridades e capacidades
individuais, harmonizar-se e sintonizar-se com a entidade específica que vem
com ele trabalhar. Ou mesmo com a própria vibração do Orixá, na medida de sua
capacidade de “suportar” essa Luz que vem de cima.
Nesse momento, acredito
também que a luz que é emitida através da pineal e do chacra coronário se
intensifica e resplandece, sempre de acordo e na medida das condições de cada
médium, aproximando-nos um pouquinho mais do nosso Criador. Processo lento,
sistemático, cíclico, de toda uma vida e de muitas vidas, doses homeopáticas
que nos impulsionam para a frente na seara evolutiva.
É o poder do Verbo. Do
Verbo fora de nós e do Verbo dentro de nós. Do Verbo que a tudo criou e para o
qual todos retornaremos, de forma consciente, por nossa vontade. Do Verbo que a
tudo sustenta e que dá suporte a todas as ações da espiritualidade. Do Verbo
que é pura Luz, bálsamo para aquele que medita, força e energia para aquele que
trabalha, conforto e inspiração para que presta a caridade e também a recebe,
cura para aqueles que têm merecimento. Verbo do qual provém todo o prana, axé
indiferenciado, que através do grande prisma cósmico resulta nos orixás e em
toda a diferenciação criadora de Deus e de seus agentes cósmicos. E que, em
cada sessão de umbanda, em nossa pequeníssima e singela área de atuação,
inspira a caridade, dá suporte aos nossos trabalhos, movimente as energias
concretas através do poder da vo ntade dos trabalhadores encarnados e
desencarnados, no atendimento e alívio das mazelas de todos nós, sofredores, para
que possamos paulatinamente nos elevar e retornar ao Pai Maior.
Concluindo:
A curimba, do ponto de
vista mais imediato dos nossos trabalhos, nos leva, no plano astral, tão longe
e tão forte quanto o permitam nossa vontade, propósito definido, sentimento de
doação, sem quebra de corrente, matizados e qualificados pela atuação da
espiritualidade. E, de um ponto de vista mais sutil, é poderoso instrumento de
auxílio para ajustar nossa vibração individual com a vibração dos orixás e das
linhas de trabalho que estão atuando naquele momento, capacitando-nos para as
atividades mediúnicas, para a doação qualificada de ectoplasma e de energias
magnéticas, e para a nossa lenta, contínua e, é o que se espera, inexorável
elevação de nossa freqüência vibratória espiritual.
Paz, saúde, força e união.
Vladimir.
Médium e curimbeiro do Triângulo.