Pergunta: - Afinal, se o orixá não é uma entidade
extra-corpórea, mas uma essência primordial e básica, energética e vibratória,
que influencia o modo de ser e o destino de cada espírito, seja encarnado ou
desencarnado, o que é que se incorpora no transe de possessão?
Ramatís: - O que se incorpora nos transes dos cultos aos orixás pode ser uma
forma-pensamento (egrégoro) do orixá, que é plasmado e mantido pela
ritualização frequente da mitologia (humanização) do orixá. Nesse caso, não
tem consciência e atua como se fosse um robô com gestual, cores, sons, odores e
movimentos semelhantes e propiciatórios à manipulação da energia do sítio
vibratório e do reino da natureza do orixá em questão. A férrea uniformização
litúrgica dos cultos mais conservadores das tradições antigas acaba formando e
mantendo esses elementares energéticos, o que não deixa de ser positivo, sob o
enfoque de fluidos benfeitores. Por outro lado, e agora causaremos polêmica,
existem espíritos desencarnados que pensam e acreditam serem os orixás
cultuados como deuses. Tomam conta da mediunidade dos seus aparelhos e
realmente incorporam, especialmente quando afrouxa a rígida padronização
ritualística junto ao neófito recém-iniciado no culto. É o que chamam de orixá
individual - justificando o consenso vigente que cada filho de santo tem o seu
orixá próprio, embora a mitologia seja comum e padronizada.
Pergunta:
- Então é possível a incorporação de um elementar, um egrégoro, sem
consciência e individuação como espírito. Por favor, peço maiores elucidações.
Ramatís: - Primeiramente, há que se dizer que existem nuances mal interpretadas na
ampla fenomenologia demonstrada nos transes por este Brasil continental. Sem
estreitarmos os conceitos em uma ou outra religião ou culto, afirmamos que os orixás são aspectos
diferenciados de Deus. Deus é indiferenciado de tudo o mais no Cosmo. Para se
fazer "presente" no infinito universal e nas diversas dimensões
vibratórias subjacentes, Ele criou os orixás, aspectos diferenciados de Si
mesmo. Cada tipo de energia, fator ou raio, que é um orixá, se expressa de
muitas formas. Cada um dos espíritos regentes planetários tem, sob seu encargo,
legiões e legiões de almas em diversos estágios de desenvolvimento
consciencial: reinos elemental, mineral, vegetal, animal e humano. São os
co-criadores dos mundos que atuam através de ordens criativas e mantenedoras
menores, sob os auspícios da sabedoria do Uno, o Incriado Imanifesto, ou
melhor, Deus, que para nosso entendimento faz-Se em Trindade Divina: som, luz
e movimento. Essas multidões de inteligências (espíritos) obedecem a vontade
dos regentes maiores e estão continuamente elaborando os mundos e os diversos reinos da natureza pelo Cosmo infinito. A essas
hostes de espíritos que trabalham na administração sideral podemos chamar de
anjos, querubins ou, por afinidade, orixás, mesmo não os sendo,
verdadeiramente, no aspecto energético. Nesse caso, são espíritos que atuam
enfeixados nas energias, fatores ou raios divinos e se confundem com essas
particularidades divinas. Obviamente, essas entidades não incorporam no
mediunismo terreno. São os senhores das essências básicas, das forças da
natureza, e os manifestadores dos fatores divinizados que determinam a
governança cármica coletiva. Por desdobramento, cada espírito no mundo
concreto, plano astral e físico, manifesta em si, numa escala infinitesimal,
todas essas ondas fatoriais energéticas chamadas orixás. Dizia Jesus:
"Vós sois deuses", referindo-Se a elas e às potencialidades latentes
de cada alma.
Viemos todos de uma fonte primeva e temos pulsantes em nós as suas
capacidades. Foi para o entendimento dessas energias, vibrações, ondas,
fatores ou aspectos divinos, pelas populações simples e com as mentes
preenchidas com o dia a dia da sobrevivência, que se criaram os mitos com os
orixás humanizados. Há milhares de anos as lendas se perpetuam. Diversas
religiões cultuam os anjos, raios, devas e mestres. As religiões de matrizes
afro-brasileira e a umbanda, tendo influência africana, cultuam os orixás. Os
orixás mitológicos não são espíritos individualizados, são formas de culto
humanizadas e antropomorfas para a adoração e compreensão coletiva. Essa
essência fatorial ou vibratória influencia cada individualidade. Assim como um
oceano é indiferenciado em relação a si mesmo e um balde de água do mar de uma
praia qualquer é diferenciado em relação a outras praias e mares e a esse
oceano que o originou, também os orixás são diferenciados entre si e em relação
a uma essência maior, divina, indiferenciada e geradora, não tendo ligação e
não sendo entidades espirituais individualizadas, tal qual o balde de água do
mar não é uma baleia ou um golfinho, embora eles nadem em suas profundezas.
Do livro "Mediunidade e Sacerdócio". Editora do Conhecimento.