PERGUNTA: — A mistificação que pode dar-se com
o médium significa porventura descuido ou indiferença dos seus guias
espirituais?
RAMATÍS: —
Ela é fruto de circunstâncias naturais criadas pelo medianeiro, ou do descuido daqueles que ainda imaginam a sessão espírita como um espetáculo para
impressionar o público. O Espírito
mistificador sempre aproveita o estado de alma, a ingenuidade ou a vaidade do médium para então mistificar. No entanto, podemos vos assegurar que a
mistificação não acontece à revelia dos mentores do médium, embora eles não
possam ou não devam intervir, tudo fazendo para que os seus intérpretes
redobrem a vigilância e acuidade psíquica, a fim de se fortalecerem para o
futuro.
Na verdade, a maioria das mistificações deve-se mais ao amor próprio
exagerado, à preguiça mental, e também ao excesso de confiança dos médiuns no
intercâmbio tão complexo e manhoso com o plano invisível, em que se abandonam
displicentemente à prática de sua faculdade mediúnica.
PERGUNTA: — Baseando-nos em vossas palavras,
pressupomos que a maioria dos médiuns pode ser mistificada; não é assim? Alguns confrades espiritas
explicam-nos que a mistificação, em certos casos, tem por objetivo
principal extinguir a vaidade do próprio
médium. Há fundamento em tal afirmação?
RAMATÍS: — Os mentores de alta estirpe
espiritual nunca promovem qualquer
acontecimento deliberado de mistificação
mediúnica; e não o fariam mesmo que pudesse servir de advertência
educativa para o médium vaidoso. O próprio médium
é que oferece ensejo para a perturbação ou a presença indesejável no seu trabalho. Algumas vezes a
base da mistificação é cármica, e por isso o médium não consegue livrar-se dos adversários pregressos, que o importunam a
todo momento, procurando mistificá-lo de qualquer modo e dificultar-lhe a recuperação
espiritual na tarefa árdua da mediunidade.
Não cremos que a vaidade dos médiuns desapareça só
porque sejam vítimas da mistificação conetiva. Em geral, quando eles comprovam que foram iludidos pelos
desencarnados, sentem-se
profundamente feridos no seu amor-próprio e então se revoltam contra a sua própria faculdade mediúnica. E assim, em muitos casos, o médium mistificado e
revoltado pela decepção de ter sido humilhado na mistificação, mais
rapidamente desiste da tarefa mediúnica que o ajudava a amortizar a dívida
cármica, terminando por corresponder exatamente aos propósitos maquiavélicos dos seus perseguidores do Além. Alguns médiuns já abandonaram a prática
mediúnica, alegando que foram traídos na sua boa intenção e não receberam o devido
adjutório do Alto, o que lhes seria justo esperar.
São raros os que admitem, sem quaisquer susceptibilidades,
que dia mais ou dia menos podem ser mistificados, não por culpa dos seus mentores, mas pela imprudência, pelo descaso,
vaidade ou interesse utilitarista com que às vezes são dominados, oferecendo
ensejos para a infiltração de espíritos
levianos, irresponsáveis e malévolos no exercício de sua mediunidade. Os
desocupados do Além-Túmulo espreitam
astutamente qualquer brecha vulnerável que se faça no caráter do médium
ou perturbação no seu trato com a família amiga ou ambiente de trabalho, para
assim interferirem durante a queda na
freqüência vibratória espiritual e lograrem a mistificação que depois
desanima, decepciona ou enfraquece a confiança. A mistificação ainda significa
determinada cota de sacrifício na prática mediúnica, assim como acontece em
certas profissões humanas, seja a engenharia, a advocacia ou a medicina, em
que os seus profissionais, com o decorrer do tempo, vão eliminando
gradativa-mente os equívocos dos primeiros dias, até se firmarem definitivamente
na sua tarefa profissional.
PERGUNTA: — Qual o meio mais eficiente para o médium
livrar-se das mistificações dos desencarnados?
RAMATÍS: — Sem dúvida é a sua conduta moral
e integração incondicional aos preceitos
sublimes da vida espiritual
superior. Se o médium pautar todos os seus atos e subordinar seus pensamentos à diretriz doutrinária do
Cristo-Jesus, ele há de se ligar definitivamente às entidades superiores
responsáveis pelo desenvolvimento da humanidade terrena, que o imunizarão
contra os espíritos maquiavélicos. A paciência,
a bondade, o desinteresse, a renúncia, a humildade e o amor são as virtudes que atraem os espíritos bons e sinceros, absolutamente incapazes de agir de modo
capcioso ou com intenções subversivas.
As intromissões de. espíritos indesejáveis no
exercício mediúnico comprovam a distração do médium, que imprudentemente abre
sua residência psíco-física aos irresponsáveis do mundo invisível. A desculpa de certos médiuns de que, apesar de
sua boa intenção no serviço mediúnico, foram mistificados, não é suficiente
para os livrar dos espíritos maquiavélicos, galhofeiros e inescrupulosos, que
operam contra todas as criaturas interessadas
na libertação do homem. Muitos médiuns,
apesar de bem intencionados, são no entanto vaidosos, ingênuos,
ignorantes, fanáticos ou excessivamente personalistas,
oferecendo ensejo para os desencarnados perversos os perturbarem no intercâmbio
mediúnico. Os espíritos sagazes, maus
e pervertidos pouco se importam com a boa intenção dos encarnados; interessa-lhes unicamente descobrir o defeito moral, a ingenuidade mental ou a confiança
tola daqueles que se entregam ao
serviço superior. Não é bastante ao
médium visualizar um objetivo bom, para então livrar-se de qualquer mistificação do Além. É preciso que ele
compreenda que os espíritos astutos, capciosos e cruéis ainda gozam da
regalia de ser invisíveis.
Aliás, Allan Kardec
tratou cuidadosamente do assunto das mistificações no "Livro dos
Médiuns" quando, após ter indagado aos
espíritos sobre esse problema, recebeu a seguinte resposta: "Parece-me que podeis achar resposta em tudo quanto vos tem sido ensinado. Certamente que há
para isso um meio simples; o de não pedirdes ao Espiritismo senão o que
ele vos possa dar. Seu fim é o melhoramento moral da humanidade; se vos não afastardes desse objetivo, jamais sereis
enganados, porquanto não há duas maneiras de se compreender a verdadeira moral, a que todo homem de bom senso pode
admitir. Os espíritos vos vêm instruir e guiar no caminho do bem e não no das
honras e das riquezas, nem vêm para atender às vossas paixões mesquinhas. Se
nunca lhes pedissem nada de fútil, ou que esteja fora de suas atribuições, nenhum ascendente encontrariam jamais os
enganadores; donde deveis concluir que aquele que é mistificado só o é
porque merece (Cap. XXVII, Tópico 303: "Das Mistificações").
Livro MEDIUNISMO.