A morte do corpo não é fonte de onisciência, nem diploma de
santidade; o espírito desencarnado tem de fazer jus às suas
próprias criações mentais, na conformidade do contacto que haja
tido com os elementos bons ou maus da vida educativa do mundo
terreno. É por isso que existem agrupamentos astrais que ainda
permanecem jungidos aos sistemas medievais, onde os castelos, as
pontes rústicas, o transporte por muares, camelos, bovinos e as
moradias pitorescas lembram o cenários das narrativas românticas e
as aventuras de capa e espada, do passado!
E
assim essas colônias servem perfeitamente para determinada camada de
espíritos excessivamente conservadores, que ali se instalam e se
aferram vigorosamente ao seu passado, sentindo-se incapazes de se
equilibrar em ambientes modernos e de cultuar relações que são por
demais dinâmicas para o seu psiquismo retardado. Bem sei que estas
descrições parecer-vos-ão incongruentes e produto de um cérebro
fantasioso; no entanto, mesmo no vosso mundo material, podeis
comprovar que num mesmo local e ambiente ainda vivem espíritos em
completo antagonismo mental! O avarento, por exemplo, não é um
deslocado do progresso cotidiano? Sim, pois ele vive completamente
aferrado ao anacronismo de uma vida primitiva, a esconder a sua
fortuna e a se isolar de todas as inovações ou coisas que possam
forçá-lo a gastos inesperados! É certo pois que, ao desencarnar,
esse avarento não conseguirá se equilibrar num cenário de aspecto
avançado, e para o qual não se preparou nem faria jus, tão preso
ele está aos seus receios de perdas e às preocupações
exclusivamente utilitaristas! Quando desencarna, o avaro transfere
para o Além o seu mundo íntimo, repleto de desconfianças e de
usura, e por isso fica impedido de viver tão ampla e desafogadamente
como vivem os outros espíritos que não guardam restrições para
com o meio.
Atanagildo / Ramatís
A Vida Além da Sepultura.