Disse Jesus: Quando um
cego guia outro cego, ambos cairão na cova.
O ego humano é um cego,
não tem a vidência da Verdade libertadora. Se esse cego não se deixar guiar por
um vidente, desvia do caminho certo. O guia vidente seria o Cristo interno, a
alma; mas, se ela mesma não tem a devida experiência do seu Cristo, esse ego
cego é guiado por outro ego cego.
Daí a imperiosa
necessidade de despertar em si o Eu vidente. Auto-realização é impossível sem
esse auto-conhecimento.
Estamos vivendo na era dos
gurus. Por toda a parte, desde o Oriente até o Ocidente, há homens que se
arvoram em Mestres e congregam discípulos. Os mestres prometem e conferem
“iniciação” a seus discípulos; alguns até oferecem diplomas ou certificados de
iniciação. Nesse processo há dois iludidos: o iniciador e o iniciado. Nenhum
homem pode iniciar outro homem; não existe alo-iniciação; só existe
auto-iniciação. Jesus, o maior dos Mestres espirituais, nunca iniciou nenhum de
seus discípulos, durante os três anos de sua atividade pública. Entretanto, no
dia de Pentecostes, 120 dos seus discípulos se auto-iniciaram, depois de 9 dias
de silêncio e meditação.
O que o Mestre pode fazer
é pôr setas na encruzilhada, indicando o caminho certo aos iniciandos. Mas a
iniciação é obra de cada iniciando iniciável. Se o Mestre não é um verdadeiro
iniciado na Verdade libertadora, nem sequer pode colocar setas no caminho,
porque ele mesmo ignora o caminho certo – é um guia cego guiando outro cego.
Revela grande presunção um
homem querer declarar que alguém é iniciado; iniciação é um processo misterioso
que ninguém conhece a não ser o próprio iniciado. Dar certificado de iniciação
a alguém revela tanta ignorância quanto arrogância. É possível iniciar alguém
ritualmente, mas não espiritualmente. Se um ritualmente iniciado se considera
realmente iniciado, é um pobre iludido.
Uma das maiores fraudes
espirituais da humanidade de hoje se chama iniciação.
Huberto Rohden
Do livro: PROFANOS E INICIADOS.