O
homem é o último elo de uma cadeia de rebaixamento energético. Os chamados
corpos sutis (ou veículos da consciência) abrigam o espírito no meio
dimensional necessário para que ele se manifeste na busca de experiências
destinadas à sua evolução. Desde que somos criados pelo amor de nosso Pai,
somos deslocados por um movimento maior que nos conduz a vivências múltiplas
destinadas à nossa educação cósmica. Existe um grande contingente de espíritos
que habitam em volta da Terra, no chamado plano astral, onde vivem em seus
corpos astrais (perispíritos) aguardando na fila a oportunidade divina de
ocupar o vaso carnal para resgatar débitos acumulados em vidas passadas, o que
podemos denominar de "carma acumulado".
Pensemos
que somos uma pilha que está destinada à descarregar-se para esgotar a
quantidade de energia que precisa ser queimada no plano físico, mas nossa
semeadura livre, que impõe a colheita obrigatória, acaba sendo potente dínamo
que não nos deixa descarregar o carma acumulado. Isso ocorre em razão de nossa
infantilidade perante às leis universais, pois, ao invés de gerarmos saldo
positivo na balança de nossas ações (darma), geramos dívidas (carma negativo)
para com nossos semelhantes, obrigando-nos a saldar débitos por meio de tantas
reencarnações quantas forem necessárias ao aprendizado definitivo. O tempo é como um pai bondoso e a eternidade
uma mãe amorosa que nunca se cansa de nos esperar. Os sofrimentos do nosso
caminho são, portanto, conseqüências exclusivamente de nossas próprias ações.
Os
orixás, ou melhor, as energias e forças da natureza que estão presentes em
todas as dimensões do Universo, tal como se fossem o próprio hálito divino,
formam impressões nos corpos espirituais desde o momento em que somos criados.
Nesse instante, os orixás vibram em nosso nascituro espírito e demarcam, para o
eterno devir, suas potencialidades em nós, como um carimbo que bate com força
numa folha em branco. No exato momento em que tomamos contato com a primeira
dimensão expressa na forma, se impregna em nossa matriz espiritual
indestrutível (mônada) um orixá que mais nos marcará, conhecido no meio
esotérico como orixá ancestral. Cada um tem essa marca de nascença espiritual,
como uma digital cósmica, e somente os espíritos celestiais responsáveis pelos
planejamentos cármicos têm acesso a essa "radiografia" do eu
espiritual mais primário de cada um, se é que podemos nos fazer entender, dado
a ausência de nomenclaturas equivalentes em nosso vocabulário terreno para
melhor descrever a criação de espíritos e a gênese divina.
Não
vamos nos aprofundar nos aspectos mais abstratos da regência dos orixás, os
quais envolvem os processos divinos de criação de espíritos, pois ainda não
estamos preparados para descrevê-los e entendê-los satisfatoriamente. Com
limitações podemos dizer que os orixás demarcam em nossa contextura energética
fortes impressões no momento da concepção (união do gameta masculino com o
feminino) e durante toda a gestação, uma vez que estamos num meio aquático de
grande propensão ao magnetismo. Essa impressão culmina no exato instante
de nosso nascimento, quando nossa cabeça
rompe a placenta e o chacra coronário tem contato com as vibrações dos cinco
elementos planetários: ar, terra, fogo, água e éter.
Durante
o ciclo reprodutivo (concepção, gestação, nascimento), é feita uma impressão
magnética em nossos corpos sutis (astral e mental), de similaridades
vibratórias afins com as energias dos orixás, fazendo-nos mais propensos e
sensíveis a uns orixás em detrimentos de outros. Então, nossos chacras (centros
de energia que fazem a ligação entre os
corpos físico, etérico, astral e mental) passam a vibrar em determinadas
freqüências receptivas às influências dos orixás aos quais estamos ligados para
nos ajudar a evoluir, segundo débitos acumulados.
Quando
ferimos a Lei do Amor provinda da Mente Cósmica que vibra em todo o Universo e
rege nossos caminhos ascensionais, emitindo toda espécie de pensamentos e
emoções negativas e destrutivas, estamos quebrando uma cadeia de causalidade
que, ao invés de nos libertar, propicia a formação do carma que nos prende ao
ciclo das reencarnações sucessivas. Chegará o dia em que os rebeldes perceberão
as forças sinistras que se intensificam na atmosfera psíquica coletiva da
Terra, geradas pelos pensamentos e sentimentos humanos de ódio, inveja,
luxúria, vaidade, concupiscência, ciúme, medo, desconfiança e maledicência, que
desencadeiam, por meio da Lei da Afinidade, competições, fracassos, guerras e
desgraças no mundo, e desequilibram e enfraquecem cada vez mais os núcleos
vibratórios (4) planetários dos orixás.
4
- Vórtices energéticos, espécies de linhas de forças magnéticas coletivas que
ligam o orbe ao Cosmo e são mantenedoras da vida e da comunidade espiritual
terrícola.
Assim
como o barulho da dinamite em abrupta explosão na rocha causará uma onda de
choque no sistema nervoso de quem a recebe com impacto, promovendo um
deslocamento na estrutura celular do corpo físico, as labaredas dos sentimentos
e ações movidos pelo egoísmo e desamor contra o semelhante perturbam as substâncias
mais finas da estrutura atômica da mente, e, conseqüentemente, dos corpos
astral e físico, em decorrência da ressonância no meio-ambiente próximo àquele
que as emite consciente ou inconscientemente, intencionalmente ou não,
resultando no bloqueio vibratório da Lei de Afinidade em seu aspecto positivo e
benfeitor, que é o aprisionamento reencarnatório para retificação do espírito.
Ainda
que tenhamos a sensibilidade mediúnica exaltada para receber a energia dos
orixás, afim de facilitar o nosso equilíbrio, como um edifício construído por
consistente argamassa que sustenta os tijolos, pensemos que o efeito causado
por nossos desequilíbrios emocionais constantes, oriundos dos maus pensamentos
que emitimos como potentes golpes contra as paredes desse prédio, acaba por
causar uma fissura na estrutura atômica de nossos corpos e chacras, ocasionando
as mais diversas anomalias comportamentais.
Em
nosso psiquismo, estão registrados hábitos viciados de outrora que serão
refreados pelas energias dos orixás, para que seja possível o equilíbrio e a
superação cármica enquanto espírito reencarnante que não se recorda de seus
atos pretéritos quando em estado de vigília: é como usar um sapato de numeração
menor, com cadarço apertado. Assim, certos aspectos comportamentais são
aprimorados de acordo com a influência das energias dos orixás. Se o psiquismo
estiver saturado de energias positivas ou negativas, em abundância ou escassez,
o ser encarnado poderá ter sérios distúrbios psíquicos decorrentes dos
pensamentos desalinhados, os quais interferem na emotividade e causam seqüelas
nefastas quando somatizados, surgindo daí fobias, pânicos, depressões,
ansiedades, fascinações, obsessões e doenças diversas.
Resumindo
melhor: o médium sente com mais intensidade a influência dos orixás de acordo
com a proporção da regência de sua coroa mediúnica. Ou seja, somos mais
sensíveis a determinados orixás do que a outros. Como exemplo, apresentamos a
seguir a regência da coroa mediúnica de um médium hipotético:
orixás
regentes demonstrativo ********* hipotético de influência
Oxossi
(primeiro) ******** 30 a 40%
Iansã
(segundo) ********** 15 a 20%
Iemanjá
(terceiro) ******** 10 a 15%
Omulu
(quarto) ********** 5 a 10%
Os
demais orixás se "pulverizam" podendo alterar-se em determinados
momentos de nossa existência, como em situações em que nos deparamos com um
problema sério de saúde ou passamos por mudanças pessoais abruptas. Nesses
casos, a regência do orixá poderá ser alterada momentaneamente, prevalecendo a
energia afim necessária ao momento cármico. Quando da fundação de um templo
umbandista, por exemplo, que envolve sérias mudanças nas tarefas do médium
destinado ao comando do terreiro, muito provavelmente esse médium ficará com a
regência de Ogum provisoriamente em primeiro plano, (5) pois esse orixá está à
frente das grandes demandas. Ao envolver-se com o aspecto jurídico da
legalização da casa, Xangô passará a influenciá-lo intensamente, a fim de que
haja eqüidade e justiça em suas decisões perante o agrupamento de médiuns e à
assistência. Dessa forma, em certos momentos de nossas existências carnais, de
acordo com o arquétipo e a influência psicológica dos orixás, essas energias se
intensificam ou amenizam em nosso psiquismo e no nosso comportamento, sem
alterar-se definitivamente a regência original dos orixás na nossa coroa
mediúnica, uma vez que eles prevalecerão por toda a encarnação para auxiliar
nossa própria evolução.
5
- Quando a vibração prepondera em sua irradiação sobre o chacra coronário.
Há
de se comentar o comprometimento cármico que a regência dos orixás estabelece
com os guias do "lado de lá".
Existe
uma correspondência vibratória com as entidades que assistem os médiuns, as
quais, por sua vez, também estão evoluindo. Então, no caso do demonstrativo
hipotético de influência apresentado em página anterior, muito provavelmente o
guia principal que irá amparar esse medianeiro, e dele se servir, será de
Oxossi, embora isso não seja obrigatório. Consideremos aí a sensibilização
fluídico-astral recebida pelo médium antes de reencarnar, a qual foi
detalhadamente planejada para funcionar como um "perfeito" encaixe
vibratório para a manifestação mediúnica durante as tarefas caritativas,
especialmente por se tratar da complexidade de incorporação aos moldes
umbandísticos.
(Texto retirado da obra Umbanda Pé no Chão - Editora do Conhecimento)