"
Venho saudar a dona da terra para que ela me proteja "
Nanã
cede a lama, mas a quer de volta .
Conta
uma lenda que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser
humano, Ele tentou vários caminhos.
Tentou
fazer o homem de ar, como ele.
Não
deu certo, pois o homem logo se desvaneceu.
Tentou
fazer de pau, mas a criatura ficou dura.
De
pedra, mas ainda a tentativa foi pior.
Fez
de fogo e o homem se consumiu.
Tentou
azeite, água e até vinho de palma, e nada.
Foi
então que Nanã veio em seu socorro e cedeu à Oxalá a lama, o barro do fundo da
lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã.
Oxalá
criou o homem, o modelou no barro.
Com
o sopro de Olorum ele caminhou.
Com
a ajuda dos Orixás povoou a Terra.
Mas
tem um dia que o homem tem que morrer.
O
seu corpo tem que voltar à terra, voltar à natureza de Nanã.
Nanã
deu a matéria no começo mas quer de volta no final tudo o que é seu .
Nanã
é uma divindade ligada ao princípio de tudo. A deusa cercada dos mistérios, do
duvidoso; quando Odudua separou a água parada (que já existia) da terra
(retirada do saco da criação), formou-se a lama e os grandes pântanos. E é lá,
o local de maior fundamento desta Orixá.
Nanã
é considerada o princípio, o meio e o fim. Pois ela é a dona do barro, e o
barro é a vida. Fomos formado dele e para ele voltaremos.
Nanã
sintetiza em si, a morte. E por isto, está muito relacionada à passagem da vida
para a morte. Juntamente com Oxalá, Obaluê e Oyá.
Por
estar presente desde a criação do mundo, é considerada a orixá mais velha do
panteão cultuado. Em um, dos vários títulos dados a esta divindade existe o Ìyá
Agbá (mãe antiga); ela é a mãe de Obaluaê...
A
vida está cercada de mistérios. Um deles, é a morte! Ninguém compreende de fato
a morte. Nanã se apresenta juntamente com outros orixás nessa incógnita natural
da vida.
Ela
é a água parada, a água da vida, a água da morte. Nanã se apresenta também nos
barros, nos lamaçais, nos grandes pântanos, onde pairam o medo e a incerteza.
Para
aqueles que encaram a morte como algo negativo, Nanã pode ser a triste e
angustiante lembrança da morte. Para aqueles que encaram a morte como algo
normal e inevitável, Nanã se apresenta como a resposta para a incerteza e a
certeza da imortalidade de nossa essência espiritual.
É
no momento da morte que o homem encontra resposta para dúvidas que lhe cercava
durante toda a vida. É no momento da morte, que aquele que não se conectou com
o divino durante toda a vida, acha a linha de conexão.
É
ali que também se apresenta Nanã. Que na hora da morte, se apresenta o
renascimento e a certeza de uma posterior continuação. Nanã é a deusa da lama,
da chuva, da terra, do barro primitivo que se deriva em tantas outras coisas.
É
o elemento sólido tão desvalorizado corriqueiramente, embora tão valioso e
importante! Com passos lentos, quase rastejantes, Nanã chega na linha do
encontro entre a vida e a morte, para trazer todos os seres humanos no exato
momento de sua partida.
É
a grande mãe que acompanha de longe o crescimento dos filhos.
Que
sua natureza nunca nos deixe. Que possamos crescer firmes, sem esquecer de
nossas origens. E também, na hora que Nanã receber o material que emprestou
para a formação do nosso corpo, se orgulhe e diga:
"Esse
, valeu a pena."