No Triângulo da Fraternidade temos atabaques*, que são um tipo de tambor. Ele compõe o que chamamos de curimba, que é o nome do grupo responsável pelos toques e cantos sagrados dentro de um terreiro de Umbanda. São os médiuns que fazem parte da curimba que batem o atabaque, que para nós na Umbanda é um instrumento sagrado de percussão, bem como cantam os pontos em conformidade com a seqüencia ritual da sessão. A união dos pontos cantados com os toques do atabaque é de suma importância para a sustentação vibratória da sessão e devem ser bem fundamentados e compreendidos por todos. Os cânticos servem de marcação para todo o ritual do terreiro que se divide em partes: defumação, abertura, saudação, chamada, sustentação, descarga e encerramento.
A defumação se dá logo no início. Na abertura é cantado o hino da umbanda e o ponto do exu da tronqueira da casa. Na saudação louvamos o orixá regente do congá e o guia chefe, se for o caso. Nos pontos de chamada são invocadas todas as entidades que se manifestam em seus médiuns. Durante a sustentação, são cantados os pontos enquanto os consulentes tomam os passes e fazem suas consultas, nesta fase do ritual a gira está correndo como se diz. No instante da descarga cantamos para que as energias negativas não fiquem no terreiro retornando para a natureza. E finalmente os cânticos de encerramento.
Obviamente o roteiro apresentado é básico e existem variações em conformidade aos trabalhos da noite e que variam de casa para casa.
Os toques do atabaque também têm a função de auxiliar a concentração da corrente mediúnica, uniformizando os pensamentos e não deixando a desatenção se instalar. Associados aos cantos envolvem a mente do médium, não a deixando desviar – se do propósito do trabalho espiritual.
Desde as culturas xamânicas mais antigas e passando por praticamente todas as regiões planetárias ao longo da história temos o registro do uso dos tambores com cunho espiritual.
Os cantos bem entoados e vibrados atuam nos chacras superiores, notavelmente o cardíaco, laríngeo e frontal, ativando-os naturalmente e potencializando a sintonia com as entidades do astral. As ondas eletromagnéticas sonoras emitidas pela curimba irradiam-se para todo o centro de Umbanda, desagregam formas – pensamento negativas, morbos psíquicos, vibriões astrais “grudados” nas auras dos consulentes, diluindo miasmas, higienizando e limpando toda atmosfera psíquica para que fique em condições de assepsia e elevação que as práticas espirituais requerem.
Assim, a curimba transforma-se em um potente “pólo” irradiador de energia benfazeja dentro do terreiro, expandindo as vibrações dos Orixás. Os cânticos são verdadeiras orações cantadas, ora invocativas, ora de dispersão, ora esconjuros, são excepcionais ordem magísticas com altíssimo poder de impacto etéreo astral, concretizando no campo da forma coletiva o que era abstrato individualmente pela união de mentes com o mesmo objetivo, sendo um fundamento sagrado e divino, o que podemos chamar de “magia do som” dentro da Umbanda.
Há que se comentar que os guias não são chamados pelos atabaques como muitos dizem por aí. Na verdade eles já estão presentes no espaço astral do terreiro muito antes do inicio das atividades programadas. Os toques no atabaque, os cantos, as palmas, enfim a curimba, por si não faz a ligação com o plano espiritual e com os seus habitantes. Tudo isto serve como sustentador, mas o que realmente invoca os orixás e os mentores são os nossos sentimentos elevados e os pensamentos positivos emitidos.
Se não houver harmonia no grupo, cumplicidade, confiança e amor em nossos corações, nada servirão todos estes recursos sonoros que assim só potencializarão a desarmonia, a desconfiança e o desamor. O elemento sustentador está em cada um de nós e o resto que está fora potencializa o que temos dentro.
O atabaque* chegou ao Brasil através dos escravos africanos e é usado em quase todos rituais afro-brasileiros e da umbanda. É de uso tradicional na música ritual e religiosa, empregado basicamente para invocar os orixás. É feito de madeira e aros de ferro que sustentam o couro, se formando uma potente caixa de percussão. Os três tamanhos de atabaques utilizados são chamados de RUM, RUMPI e LE. O rum, o maior de todos, possui o registro grave; o do meio, rumpi, m o registro médio; o le, o menor, possui o registro agudo. O trio de atabaques executa, ao longo das sessões, uma série de toques que devem estar de acordo com os orixás e cânticos que vão sendo chamados em cada momento do ritual.