Em novembro de 1908 numa
'mesa branca' é anunciado o surgimento de um movimento religioso genuinamente
brasileiro: A Umbanda. Esta 'nova' religião já 'nasceu' envolta por ambiente
polêmico, pois anunciava um trabalho com a diversidade. De forma muito
sintetizada podemos dizer que, a Umbanda surgiu para dar 'voz' aos 'espíritos
marginalizados' pela senda espírita, tão 'bem' frequentada pelos doutores,
advogados e intelectuais do Astral Superior. Por sua vez, a Umbanda aceitaria a
manifestação mediúnica de espíritos que, quando encarnados não pertenceram aos
grupos dominantes de nossa sociedade capitalista, a saber os negros e os
indígenas. Uma revolução na estrutura socio-espiritual!
Quando analisamos o histórico da Umbanda, inicialmente, ela não constituiria uma nova religião, pois poderia se manifestar como uma linha de trabalho dentro do Espiritismo se não fosse o preconceito das pessoas. Mas, tendo sido classificado como um espírito inferior na mesa kardecista, o Caboclo das Sete Encruzilhadas anunciou que a partir daquele momento seria instituído um novo culto no Brasil. Segundo Norberto Peixoto (2009, p.14): "O ritual estabelecido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas era bem simples: cânticos baixos e harmoniosos - sem utilizar atabaques e palmas -, vestimenta branca e proibição de sacrifícios de animais. Capacetes, espadas, cocares, vestimentas de cor, rendas e lamês não eram aceitos. As guias usadas eram apenas as determinadas pela entidade que se manifestava. Os banhos de ervas, os amacis, a concentração nos ambientes vibratórios da natureza e o ensinamento doutrinário com base no Evangelho constituíam os principais elementos de preparação do médium". Tudo muito simples, sem grandes estímulos aos sentidos objetivos, e em sintonia com os planos internos. Por levar em consideração a diversidade, a Umbanda não apresenta uma codificação que unifique a sua ritualística, portanto podemos perceber a pluralidade de rituais dentro do movimento umbandista. Assim, cada Tenda de Umbanda apresenta sua forma de culto que está intimamente ligada ao guia-chefe e à personalidade do dirigente da casa.
Daí, adotando uma postura
inclusiva, podemos dizer que dentro da Egrégora Umbandista encontramos diversas
manifestações da Umbanda. Cada uma alcançando o nível de consciência de seus
integrantes e consulentes. Acredito que seja justamente por apresentar esta
proposta de se trabalhar com a diversidade é que a Umbanda consegue arrastar
uma multidão de pessoas, porque fala diretamente ao coração, sem para isso
fazer uso de metanarrativas. Na simplicidade e na habilidade de seus
trabalhadores espirituais, a Umbanda toca a Alma das pessoas. Infelizmente,
apesar de muitos serem chamados, poucos conseguem atravessar os Portais
Internos. A grande maioria se deixa enraizar ao culto das formas ilusórias,
priorizando seu aspecto exotérico. Mas, não nos cabe julgar, cada qual
apresenta um papel a cumprir no processo evolutivo global. Acredito que são válidas
as palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas e todos que querem conhecer e/ou
seguir a Umbanda devem levar em seus corações: "Com os espíritos mais
evoluídos aprenderemos. Aos espíritos menos evoluídos ensinaremos. E a nenhum
espírito renegaremos". Tais palavras precisam ser tema de constantes
reflexões e meditações para que possamos alcançar seu teor espiritual. E todos,
dentro de seus limites e transcendência, devem ser considerados e nunca devem
ser discriminados. Muitos lutam para serem respeitados e continuarão lutando,
porque o respeito é alcançado na medida em que exercitamos o Amor ao próximo.
Ao invés de lutar aprendamos à Amar.
E assim despertaremos nossa Consciência
Crística, objetivo esotérico da Umbanda, que através diversidade dos fenômenos
procura adentrar à Unidade-Essência. Segundo Ramatis (2000, p.66) diz que:
"O crístico ama desinteressadamente, eleva-se pelo sacrifício próprio,
caminha com igualdade e fraternidade entre os seus semelhantes; a sua oferenda
é o culto interno de veneração à Divindade; prepondera em seu coração o
sentimento de humildade; sabe da sua falibilidade como criatura imersa no
escafandro grosseiro da carne; é comprometido com a verdade e tem Deus
interiorizado por mérito de suas obras, por conquista individual". Uma
proposta de Inclusão Espiritual que apregoa o Respeito, o Amor e a Cristicidade
é o cântico entoado pela Senhora da Luz Velada!