Pergunta – Os pentecostais e neopentecostais exaltam a interferência e manifestação do Espírito Santo na vida e nos corpos dos prosélitos conduzidos pelos pastores e não falam do Evangelho de Jesus. Quais os motivos?
RAMATÍS – Pentecostes é uma palavra de origem grega que literalmente significa “quinquagésimo” (dia).
Antigamente, em suas origens, o Pentecostes era uma festa agrícola judaica de oferta a Deus, celebrada no 50º dia após a Páscoa. Os melhores feixes das colheitas eram levados em oferenda num clima de festividade inocente em que os que mais haviam colhido partilhavam com os necessitados. Posteriormente, em meados do século V a.C. a festa de Pentecostes passou a celebrar o dom da lei no Sinai, a festa da aliança entre Deus e o povo.
Cinqüenta dias após o evento da ressurreição de Jesus, o Espírito Santo se manifesta nos apóstolos e também em cerca de cento e vinte cristãos em Jerusalém, fazendo-os falar em língua estranha. A promessa de Jesus aos seus discípulos fora: "Recebereis o poder do Espírito Santo que virá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra" (Atos 1:8).
No dia de Pentecostes, os discípulos estando reunidos em Jerusalém, depois das celebrações da Páscoa, ficaram inseguros e medrosos diante da perspectiva desafiadora de pregarem eles os ensinamentos do Mestre. Eis que a aura angélica de Jesus e o Espírito Santo, dom de Deus, se fizeram unos e aquele grupo de homens amedrontados e temerosos adquiriu em si, como um raio descido dos céus, a consciência de serem uma coisa só com Jesus. Todos sentiram que Jesus estava entre eles, mais ainda do que antes, porque na realidade Jesus não mais estava com eles, estava neles, e a tarefa da pregação evangélica seria o próprio Jesus em ação através dos passos, gestos e verbo de seus apóstolos.
Nos dias atuais existe grande diferença na “manifestação do Espírito Santo”; não é mais o agente catalisador da essência divina que se interioriza nas consciências e concretiza-se nas ações crísticas, como outrora aconteceu com os apóstolos.
O “Espírito Santo” dos neopentecostais é um despachante que a tudo resolve com pragmatismo exacerbado. Ele dispensa as ações pessoais, cura os desenganados, arruma emprego, desamarra negócios, arranja casamento, angaria automóvel novo, manda os males para as labaredas infernais e tanto maior serão suas benesses de prosperidade material quando maior for o dízimo dado. Claro está que sob esta prática de magia o Evangelho de Jesus se torna amorfo, desinteressante, pois exige esforço, conduta e atos propiciatórios para que a presença crística se torne perene. Paradoxalmente, o Espírito Santo salvacionista da atualidade reconhece o sacrifício de Jesus que liberta de todos os males e dispensa os prosélitos de maiores esforços evangélicos, desde que eles não faltem às sessões e correntes salvacionistas, já que a igreja é indispensável intermediadora dele, Espírito Santo, com os fiéis. Esquecem que os apóstolos tinham dentro de si a imanência de Jesus e, andarilhos, levavam a mensagem viva do Cristo a todos os lugares, sendo os corpos deles depositários do sagrado que era livre e não estava aprisionado num templo, como acontece nos dias modernos em que se recebe o milagre sem esforço, mas se fica atado ao milagreiro.
Do livro "O Triunfo do Mestre"