Antigamente as iniciações espirituais eram secretas e exclusivas das confrarias esotéricas, cujas provas simbólicas e até sacrificiais, serviam para auferir o valor pessoal e o entendimento psíquico dos discípulos. Mas os candidatos já deviam possuir certo desenvolvimento esotérico e algum domínio da vontade no mundo profano, para então graduarem-se nas provas decisivas. Deste modo, o intercâmbio com os mestres ou espíritos desencarnados só era permissível aos poucos adeptos eletivos às iniciações secretas.
No
século XX, o discípulo evoluiu pelas provas iniciáticas que se lhe apresentam a
todo momento na vida cotidiana, sem necessidade de recolher-se a instituições,
conventos ou fraternidades iniciáticas. O treinamento do espírito deve ser
exercido no convívio de todas as criaturas, pois sofrimentos, fracassos,
vicissitudes ou misérias do mundo são lições severas e argüições pedagógicas do
Alto, que graduam o ser conforme o seu comportamento. Não é preciso o homem
isolar-se do mundo numa vida puramente contemplativa, a fim de alcançar a
sabedoria espiritual que o próprio mundo oferece na experimentação cotidiana! O
discípulo diligente e disciplinado na argüição espiritual da vida moderna
promove-se para nível superior sabendo aproveitar cada minuto de sua vivência
atento aos postulados crísticos contidos nos preceitos evangélicos de Jesus!
É evidente que os homens freqüentam
igrejas católicas, templos protestantes, sinagogas judaicas, mesquitas
muçulmanas, pagodes chineses, santuários hindus, centros espíritas,
"tatwas" esotéricos, lojas teosóficas, maçonaria, fraternidades
Rosa-Cruz ou terreiros de Umbanda, buscando o conhecimento e o conforto
espiritual para suas almas enfraquecidas. Mas o seu aperfeiçoamento não se
processa exclusivamente pela adoração a ídolos, meditações esotéricas,
interpretações iniciáticas, reuniões doutrinárias ou cerimoniais fatigantes. Em
tais momentos, os fiéis, crentes, adeptos, discípulos ou simpatizantes, só aprendem
as regras e composturas que terão de comprovar diariamente no mundo profano. Os
templos religiosos, as lojas teosóficas, confrarias iniciáticas, instituições
espíritas ou tendas de Umbanda, guardam certa semelhança com as agências de
informações, que fornecem o programa das atividades espirituais recomendadas
pelo Alto e conforme a preferência de determinado grupo humano.
Mas as práticas à "luz do dia"
graduam os discípulos de modo imprevisto porque se exercem sob a espontaneidade
da própria vida dos seres em comum. Aqui, o discípulo é experimentado na
virtude da paciência pela demora dos caixeiros em servirem-no nas lojas de
compras, ou pela reação colérica do cobrador de ônibus; ali, prova-se na
tolerância pela descortesia do egoísta que fura a "fila" de espera,
ou pela intransigência do fiscal de impostos ou de trânsito; acolá, pela
renúncia e perdão depois de explorado pelo vendeiro, insultado pelo motorista
irascível ou prejudicado no roubo da empregada!
Assim, no decorrer de nossa atividade
humana, somos defrontados com as mais graves argüições no exame da paciência,
bondade, tolerância, humildade, renúncia ou generosidade! Fere-nos a calúnia
dos vizinhos, maltrata-nos a injustiça do patrão, judia-nos a brutalidade dos
desafetos ou somos explorados pelo melhor amigo! É o Evangelho, portanto, com
sua doutrina racional e eletiva à mentalidade da atualidade, que pode
ensinar-nos a melhor compostura espiritual no momento dessas provas iniciáticas
à "luz do dia", sem complexidades, mistérios ou segredos. É tão
simples como a própria vida, pois no seio da agitação neurótica e competição
desesperada para a sobrevivência humana, o homem do século XXI decora os
programas salvacionistas elaborados no interior dos templos religiosos ou
instituições espiritualistas, para depois comprová-los nas atividades da vida
cotidiana.
Ramatís.
Texto adaptado do livro A MISSÃO DO ESPIRITISMO.
Ramatís.
Texto adaptado do livro A MISSÃO DO ESPIRITISMO.