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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Fascinação e engambelo, o que parece ser não é.



( este texto faz parte do livro "Mediunidade & Sacerdócio" - no prelo pela Editora do Conhecimento )

         Impressiona a quantidade de pessoas em processos de obsessão na atualidade. Parece-me que quanto mais conhecimentos temos das coisas espirituais, mais falha-nos a simplicidade e a fé pelo ego intelectual inflado, o que acaba sendo uma porta escancarada para os malfeitores do além.
     Dias destes comentava-me uma confrade espírita que estava cansada, que todos os centros que conhecia estavam atulhados de gente, fazendo com que os médiuns trabalhadores se encontrassem exaustos diante de tantos desequilibrados, ansiosos, depressivos, lamurientos, chorosos,..., pedindo ajuda diariamente.
     Afinal, o que está havendo?  
     Os amigos espirituais informam-nos que há uma intensificação das obsessões, uma espécie de levante umbralino, um motim, como se houvesse uma revolta contra o capitão do navio. As almas não estão aceitando o destino da embarcação e se tornam violentas.
        O próprio estilo de vida dos encarnados da crosta, agitados, ambiciosos, de falsas aparências, com uma avalanche de informações diárias de todos os meios, muita oferta de facilidades pelo salvacionismo mediúnico religioso vigente, distorce as leis de causa e efeito e o equilíbrio entre as duas esferas vibratórias de vida.
             Há que considerarmos igualmente que se intensificam as remoções para outros orbes de espíritos que não podem mais ficar na psicosfera da Terra e ao mesmo tempo implementam-se barreiras magnéticas que os impedem de encarnar aqui. Naturalmente isto gera um desespero nos aglomerados espirituais do umbral inferior que se sustentam das emanações mentais e fluídicas dos encarnados. Daí a intensificação das obsessões, intencionando habitarem junto à superfície dos encarnados e daqui não saírem. E haja centro espírita com passe e água fluídica, terreiro de umbanda com banho de sal grosso e arruda, igrejas neopentescontais com sessões de descarrego, e trabalhinhos de amarração da última hora como vemos oferecidos nos anúncios de postes e pelas panfleteiras dos cruzamentos urbanos. Para aliviar o desespero de todo este povo a oferta é a mais variada, desde para os mais pacienciosos que se dispõem a assistir uma série de palestras até aos mais afoitos e apressados que querem resultado em sete dias, doa a quem doer o que só agrava o nó do novelo das obsessões na atualidade.
               No dia a dia de contato com o público que freqüenta a choupana, constata-se certo padrão comportamental que define claramente uma relação de causa e conseqüência diante das ações arquitetadas pelos engenhosos psicólogos das sombras para que as interferências obsessivas sejam bem sucedidas. São as denominadas armadilhas psicológicas, um prato cheio posto na mesa para os comensais do além túmulo.  Seguidamente nos deparamos com aflitivas rogativas em que a solução está em cada um. Aparecem rotineiramente criaturas pouco vigilantes, exagerando sintomas e dores, vítimas de si mesmas diante de doenças e carências afetivas imaginárias. À menor dor de cabeça, correm a tomar medicamentos e urgentemente vêm nas consultas querendo solução imediata sem menor esforço. Tendo medo da própria sombra, impressionáveis pelo excesso de conhecimento, tudo lendo e tudo já leram, explicam até quantas penas tem as asas dos arcanjos, mas não conseguem descontrair e dar um abraço fraterno no seu semelhante sem sugarem-no em suas energias vitais. Caem facilmente nas obsessões ocultas em que desencarnados em mesma faixa mental dilapidam suas forças mentais. Quando chegam a este ponto, o que era imaginação se torna real e o que era real - a não existência de doenças ou obsessões - torna-se irreal, distorcendo-se a realidade dos fatos pelo psiquismo enfermiço dessas pessoas que são no fundo doentes da alma, medrosos e preocupados excessivamente com a saúde e a morte. Diante de suas fragilidades psicológicas e acentuado egoísmo, qualquer espírito com algum entendimento de magnetismo conseguirá observar suas densas auras e montar um plano de ação para “colarem” neles e vampirizar-lhes as energias. Assim como camaleões que se confundem com o meio, explorarão as culpas profundas, os recalques, os traumas, se fazendo passar por parentes queridos desencarnados quando não incutirão no ente que este ou àquele desafeto fez trabalho, aproveitando-se da situação e no mais das vezes se fazendo passar por falsos mentores e guias, instalando-se a fascinação, o que na umbanda conhecemos por engambelo; aquilo que parece ser não é. Paradoxalmente, os que são não aparentam ser, eles simplesmente são e pronto, no caso dos verdadeiros mentores da umbanda.
        Como se instala nas criaturas, no psiquismo de profundidade da alma, no recôndito anímico, estas correntes mentais parasitas, espécies de formas pensamentos alimentadas pela imaginação do indivíduo, inicialmente sadio, que acabam instalando o desequilíbrio emocional e por repercussão vibratória as doenças?
        Há que se considerar que certos indivíduos, sensíveis e facilmente objetos de fascinação por serem impressionáveis por qualquer motivo, manifestam um temor irracional às aflições corriqueiras das vidas. Almas acostumadas a serem atendidas em todos os seus desejos e a não terem a menor preocupação com a existência em vidas passadas apresentam um medo patológico diante da vida presente. Com os anos e o aprofundamento pelo excesso de conhecimento das coisas espirituais, lêem de tudo que lhes cai aos olhos e nunca se satisfazem, o que os leva sempre a procurar a última novidade espiritualista, sendo popularmente chamados como pés de axé, pois não param em lugar nenhum. Com a ansiedade da “salvação” não encontrada em lugar algum, o medo existencial indefinido vai se transformando em verdadeiro pavor, desestruturando o psiquismo e alimentando os mais variados distúrbios psico-somáticos, nos quais fobias e angustias, distonias comportamentais, traumas e pânicos pintam a tela das síndromes psicopatológicas persistentes e de difícil resolução nos procedimentos terapêuticos comuns, que priorizam a estrutura orgânica do ser e desconsideram o espírito ali presente que a anima.
           Dia destes li uma estatística que no meio médico psiquiátrico se encontra grande consumo de psicotrópicos entre os profissionais. Como dar ao outro àquilo que não temos dentro de nós?  Isto também me lembra estas “mães de santo” que pululam nos anúncios panfletários, oferecendo riqueza e prosperidade em sete dias, elas mesmas habitando singelos casebres, alguns quase caindo aos pedaços, como podem dar o que não tem em mínimas quantidades para si próprias?
       O comportamento destes seres humanos é auto-obsessivo e as obsessões que se instalam são recorrentes enquanto o “doente” da alma não muda o seu modo de pensar e ser. É padrão comum de conduta o egoísmo desenfreado, o apreço por notícias mórbidas alimentado por uma mídia sanguinolenta, o apreço por fofocas e maledicências, a preguiça e a falta de asseio mental, rigidez de opinião, arrogância por considerarem-se os donos da verdade – são os consulentes que chegam ao terreiro e dizem para a entidade o que tem e qual o trabalho a ser feito – vitimismo exacerbado, enfim, atraem para si uma baixa freqüência e uma inevitável desestruturação psíquica potencializada por desencarnados em mesma faixa mental, espíritos sedentos de vitalidade animal para se sustentarem na crosta. Qualquer dificuldade do cotidiano que surge frente a estes indivíduos, dispara o gatilho mental de pessimismo e preocupação demasiada, advindo a lamúria, o mau humor, o azedume existencial, gradativamente se instalando a anulação da vontade e a desorganização da atual personalidade que se subjuga, sutilmente, a uma força exterior que a domina e a fascina, no mais das vezes fazendo-se passar por seu mentor ou guia.
          Permanecendo neste estado d’alma, em desajuste reencarnatório, ficam a mercê de uma consciência extracorpórea e não admitem que o guia mentor não seja o que aparenta ser, estabelecendo-se um mecanismo de parasitismo existencial entre espíritos, um encarnado e outro desencarnado, de difícil resolução dado o respeito ao livre arbítrio de ambos no mundo dos espíritos. Em muitos casos, “impedido” o plano espiritual superior de afastar um ou outro, se encontram enfeixados ambos de tal maneira que em próxima encarnação nascem em simbiose, amarrados pelos mesmos órgãos físicos que sustentam dois corpos.
        Estes processos simbióticos de obsessão são de difícil resolução e, por vezes, ocorrem manifestações na assistência de um consulente desequilibrado. Quando não se diz iniciado aqui ou ali, é o guia mais forte e infalível que se apresenta. São dependentes psicológicos do amparo astral de um espírito e não admitem cortar este vínculo, quando não fazem questão de alimentá-lo – dar comida mesmo – rotineiramente pelas obrigações e oferendas. Independente de culto ou doutrina, por vezes é o mentor espírita, ali o mestre ascensionado, acolá o orixá assentado, lá o caboclo ou pai velho, cá o cigano encantador e infalível, e vão às criaturas fascinadas vitalizando os espíritos do lado de lá que não podem mais encarnar no planeta.
          Paradoxalmente, a maior dificuldade para o plano espiritual não são as remoções coletivas, e sim estas simbioses parasitárias individuais. Por isto, na atualidade, é estratégia psicológica das sombras os ataques em massa, mas caso a caso, estudando-se as fraquezas, as culpas e os medos de cada sujeito. Infelizmente, o conhecimento que deveria ser libertador, acaba sendo ferramenta de exaltação do ego e proporciona ricos elementos para as obsessões que enxameiam na coletividade enraizada individualmente. Os simples de coração e humildes são os verdadeiros sábios, independente de como entendamos o que é conhecimento em nossa limitada compreensão.
       Diz-nos o marinheiro Zé Luzeiro, espírito calejado na lide psicológica, acostumado às pressões psíquicas das populações em diversas etnias e países, que a luzinha dos barquinhos dos cidadãos estão apagadas e a luz flamejante que os orienta para os conduzirem ao oceano da bem aventurança pode estar levando-os a ficarem encalhados no mar da existência por longos e longos anos. Refere-se aos vaidosos, egocêntricos e entusiasmados com seus guias que aparentam ser e na verdade não são. É o engambelo, o barquinho luzeiro na entrada da baía que conduz à armadilha no porto os que se aventuram em mares que acham que conhecem, mas que na verdade nada sabem sobre os seus verdadeiros habitantes da costa, saqueadores de almas para manterem-se em seus habitats anômalos na crosta terrestre, grudados em seus médiuns “pé de axé” - que não param em lugar algum.
O vento que venta, não venta O ar que urra não urra Atrás de mim não vem gente ó meu Deus Quem é que tanto me empurra?
Quem te ensinou a nadar Quem te ensinou a nadar Foi, foi marinheiro Foi os peixinhos do mar Foi, foi marinheiro Foi os peixinhos do mar
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