Tive uma experiência marcante com o Orixá Nanã. Quando da fundação da Choupana do Caboclo Pery (hoje a denominação social, estatutária, é Grupo de Umbanda Triângulo da Fraternidade), ainda na casinha de madeira alugada - não tínhamos na época a atual sede própria. Antes de fazermos o primeiro rito interno de firmeza do congá reunindo todos os demais médiuns, tínhamos acabado de realizar, com auxílio somente de mais três médiuns, a consagração da tronqueira de Exu – campo de força de proteção onde se apoiam do Astral as entidades guardiãs do terreiro -, e ao chegar a minha residência caí imediatamente em transe profundo, inconsciente no corpo físico, mas consciente em desdobramento astral. Vi-me em Corpo Astral num barracão enorme de madeira. Tinha uma pequena cerca que separava o terreiro propriamente dito da assistência e de um outro espaço onde ficava a curimba - atabaques. O local onde as pessoas ficavam tinha vários bancos feitos de tábuas e atrás uma espécie de arquibancada de três a quatro lances. Eu estava em pé no meio do terreiro, de chão batido, quando se abre uma porta na frente e começa a entrar um séquito de espíritos africanos paramentados como Orixás, todos nagôs, com suas vestimentas típicas, cores e adornos peculiares. Eles vieram ao meu encontro dançando, um a um, e formaram uma roda a minha volta. Por último entra Nanã, impecável em sua vestimenta ritual azul-claro, feito tipo uma seda bordada em detalhes roxos, ficando sentada aos fundos numa caldeira de encosto alto com o seu ibiri - instrumento ritual - na mão. Ficou evidente a ascendência de Nanã sobre os demais orixás - espíritos presentes. Houve uma comunicação em pensamento na minha tela mental, sobre meu compromisso com a forma africana de culto e louvação aos Orixás na Umbanda, em conformidade com sérios compromissos ancestrais, confirmado pelo encontro astral: Nanã, sentada no espaldar alto, de semblante austero e suave sendo saldada pelos demais Orixás. Em reverência respeitosa a saldei. Voltei do transe sonambúlico, "acordando" no corpo físico com a convicção de que Nanã foi a “fundação” do terreiro, como se este Orixá fosse, e é, os alicerces e fundações da comunidade umbandista, uma casa de caridade construída e Oxossi, o regente do congá, é o telhado e as paredes. Fiquei três dias em casa prostrado em uma sonolência gostosa. Levantava, comia e voltava a dormir. Ao terminar estes três dias as energias benfazejas que estavam pulsando tinham sido absorvidas pelo meu duplo etéreo, fazendo parte da minha estrutura energética. Senti-me mais forte e confiante para os embates vibratórios que se avizinhavam, naturais quando da fundação de um terreiro. Embora já tivesse sido consagrado por Pai Roger Feraudy, oportunidade que Pai Tomé me confirmou e passou as Ordens e Direitos de Trabalho sob a Lei de Umbanda, oportunamente, já com a responsabilidade do sacerdócio a frente de um congá, encontrei Mãe Iansã Ayporê Pery, que ajudou-me a consolidar-me como dirigente, em rito propiciatório de consagração sacerdotal, como já relatei em outro texto.
Paz e luz,
Norberto Peixoto.
NOTA: não tínhamos curimba quando da fundação e só fomos ter a partir do terceiro ano, já instalados na sede própria. Na ocasião da experiência relatada, escutei perfeitamente os cânticos com os atabaques tocando, o que já era comum, pois por diversas vezes anteriormente, dando passe enxergava e ouvia os tamboreiros tocando e cantando no Astral, embora na parte física do terreiro não tivéssemos nada parecido.
NOTA: não tínhamos curimba quando da fundação e só fomos ter a partir do terceiro ano, já instalados na sede própria. Na ocasião da experiência relatada, escutei perfeitamente os cânticos com os atabaques tocando, o que já era comum, pois por diversas vezes anteriormente, dando passe enxergava e ouvia os tamboreiros tocando e cantando no Astral, embora na parte física do terreiro não tivéssemos nada parecido.