... A todos que olham... A todos que estão aqui...
... Muita atenção... Hoje é noite de amaci...
Enquanto o ponto era cantado
em tom suave pelos integrantes da curimba, naquele templo religioso umbandista, os médiuns
em círculo se preparavam para o amaci. Era noite e após o trabalho da gira de
caridade ter encerrado, os filhos daquela corrente permaneciam no abaçá, porque
o amaci estava para iniciar.
Amaci das guias, para proteger os médiuns. Um
cuidado que o Sacerdote responsável por aquele templo adotava com seus filhos.
Cerimônia simples e tocante.
Linda porque vivenciada com
carinho e respeito pelo sagrado representado pelos centros de força dos Orixás assentados em seus okutás - pedras - sagrados no congá, através
das linhas e falangeiros espirituais da umbanda. Emocionante
porque vivida com amor por cada um dos médiuns que naquele instante
transformaram-se em pequenos pontos de luz, iluminando o abaçá com sua fé, com
reverência e respeito pelos ensinamentos do sublime evangelho de Jesus,
praticado e semeado a todos que buscavam consolo e orientação para aliviar as
dores de suas almas. A casa pequena se fortalecia nos ensinamentos do amoroso
pastor de almas.
... Filhos de fé... Respeitai o pano
branco...
... Babalaô preparou seu banho santo...
Entretanto aquele grupo não
estava sozinho porque os trabalhadores da espiritualidade, representados pelas
várias linhas e falanges operosas, compareceram para reverentemente assistir
seus tutelados em tão tocante cerimônia.
A tímida luz dos encarnados
somou-se a luz da espiritualidade e o templo resplandeceu. E de longe em todos
os cantos norte, sul, leste e oeste, em cima e em baixo, à direita e à esquerda
foi vista reverenciada e respeitada porque ali estava um exército do Cristo,
fortalecendo-se para a boa luta. Curar almas, levar a palavra e os ensinamentos
do sagrado evangelho a todos, como trombetas soando aos cantos do mundo, aos
ventos espalhando o amor. E porque não, lavar os pés dos estropiados e lavarmos nós os pés um dos outros?
... Dentro da lei vem saudar seus Orixás...
... Sarava Ogum... Tenho a minha guia
lavada...
A espiritualidade ali presente,
com respeito, amparando os filhos rebeldes que assumiram o compromisso da
mediunidade para devolver o equilíbrio onde certamente provocaram desarmonia,
através da palavra ou ações. Apoiando carinhosamente a cada um, fortalecendo
para que possamos seguir com as obrigações e compromissos terrenos, materiais.
Sem julgar, sem criticar, mesmo sabendo que nem sempre agimos corretamente.
... Fiz meu batismo na umbanda...
... Hei de louvar sua espada...
Terminada a cerimônia,
encerrados os trabalhos da noite, todos se retiraram para suas casas, para o
merecido descanso do corpo e refazer forças através do sono, porque após
adormecer o trabalho com os guias, exus, pais velhos iriam continuar dando
assistência aos necessitados com merecimento para receber amparo e socorro...
Todos iriam receber... De alguma forma...
Ao se desdobrarem para
as saídas do corpo ou desdobramento astral os médiuns em trabalho na madrugada
continuaram a ouvir o canto...
... Sarava Ogum... Tenho a minha guia lavada...
... Fiz meu batismo na umbanda...
... Hei de louvar sua espada...
Numa doce lembrança e suave e
clara advertência do compromisso assumido.
Liz - médium do Triângulo
Liz - médium do Triângulo