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domingo, 29 de abril de 2012

Foi noite de amaci


             

             ...  A todos que olham... A todos que estão aqui...
             ...  Muita atenção... Hoje é noite de amaci...

                   Enquanto o ponto era cantado em tom suave pelos integrantes da curimba, naquele templo religioso umbandista, os médiuns em círculo se preparavam para o amaci. Era noite e após o trabalho da gira de caridade ter encerrado, os filhos daquela corrente permaneciam no abaçá, porque o amaci estava para iniciar.
                  Amaci das guias, para proteger os médiuns. Um cuidado que o Sacerdote responsável por aquele templo adotava com seus filhos.
                  Cerimônia simples e tocante.
                 Linda porque vivenciada com carinho e respeito pelo sagrado representado pelos centros de força dos Orixás assentados em seus okutás - pedras - sagrados no congá, através das linhas e falangeiros espirituais da umbanda.  Emocionante porque vivida com amor por cada um dos médiuns que naquele instante transformaram-se em pequenos pontos de luz, iluminando o abaçá com sua fé, com reverência e respeito pelos ensinamentos do sublime evangelho de Jesus, praticado e semeado a todos que buscavam consolo e orientação para aliviar as dores de suas almas. A casa pequena se fortalecia nos ensinamentos do amoroso pastor de almas.
  

           ... Filhos de fé... Respeitai o pano branco...
           ... Babalaô preparou seu banho santo...
                      
                 Entretanto aquele grupo não estava sozinho porque os trabalhadores da espiritualidade, representados pelas várias linhas e falanges operosas, compareceram para reverentemente assistir seus tutelados em tão tocante cerimônia.

                  A tímida luz dos encarnados somou-se a luz da espiritualidade e o templo resplandeceu. E de longe em todos os cantos norte, sul, leste e oeste, em cima e em baixo, à direita e à esquerda foi vista reverenciada e respeitada porque ali estava um exército do Cristo, fortalecendo-se para a boa luta. Curar almas, levar a palavra e os ensinamentos do sagrado evangelho a todos, como trombetas soando aos cantos do mundo, aos ventos espalhando o amor. E porque não, lavar os pés dos estropiados e lavarmos nós os pés um dos outros?

            ... Dentro da lei vem saudar seus Orixás...
          ... Sarava Ogum... Tenho a minha guia lavada...

                  A espiritualidade ali presente, com respeito, amparando os filhos rebeldes que assumiram o compromisso da mediunidade para devolver o equilíbrio onde certamente provocaram desarmonia, através da palavra ou ações. Apoiando carinhosamente a cada um, fortalecendo para que possamos seguir com as obrigações e compromissos terrenos, materiais. Sem julgar, sem criticar, mesmo sabendo que nem sempre agimos corretamente.

           ... Fiz meu batismo na umbanda...
           ... Hei de louvar sua espada...

                       Terminada a cerimônia, encerrados os trabalhos da noite, todos se retiraram para suas casas, para o merecido descanso do corpo e refazer forças através do sono, porque após adormecer o trabalho com os guias, exus, pais velhos iriam continuar dando assistência aos necessitados com merecimento para receber amparo e socorro... Todos iriam receber... De alguma forma...
                       Ao se desdobrarem para as saídas do corpo ou desdobramento astral os médiuns em trabalho na madrugada continuaram a ouvir o canto...

           ... Sarava Ogum... Tenho a minha guia lavada...
           ... Fiz meu batismo na umbanda...
           ... Hei de louvar sua espada...
  
                  Numa doce lembrança e suave e clara advertência do compromisso assumido.


Liz - médium do Triângulo
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