O ser humano quando sob a
influência da ganância costuma utilizar de todo e qualquer
subterfúgio para justificar suas ações a fim de não ser julgado
por outras pessoas ou pela sua própria consciência.
Existem
inúmeros rituais, preceitos e tradições que são comuns e se
confundem entre as diversas religiões de raízes afro-brasileiras.
Tais semelhanças muitas vezes dão margem a certas práticas que
utilizam indevidamente o nome da sagrada Umbanda, contrariando
diretamente muitas das normas de culto repassadas pelo Caboclo das 7
Encruzilhadas ao anunciar o nascimento dessa religião que acima de
tudo tem na caridade
a sua essência maior.
Uma
destas práticas é a chamada Lei
de Salva
que seria fundamentalmente uma compensação feita a alguém em troca
de um serviço prestado. Esta justificativa tem raízes muito
antigas, remontando ao antigo Egito onde era chamada Lei de Amra. A
explicação está na troca energética existente nas manipulações
magísticas pois como toda ação mágica ocasiona uma reação, um
desgaste, uma responsabilidade e uma conseqüência imprevisível em
virtude das forças movimentadas, seria imprescindível que o
médium-magista estivesse coberto do ponto de vista material a fim
de poder enfrentar a qualquer instante essas possíveis condições
sendo então forçoso que houvesse uma compensação.
A razão
estaria no fato de que todo aquele que manipula energias dando sem
receber nada em troca fatalmente tenderia a sofrer um desgaste pela
natural reação de uma lei oculta chamada de vampirização fluídica
astral com enfraquecimento de suas forças ou energias psíquicas.
Esta compensação, respeitada esta lei, deveria cobrir somente o
necessário para a realização da manipulação energética no caso
da mesma necessitar do uso de elementos rituais. Uma das formas de
estabelecer um valor “honesto” para tal compensação estaria em
uma regra que diz: “ De quem tem, peça três, tire dois e dê um a
quem não tem; e de quem não tem, nada peça e de até seu próprio
vintém”.Seguindo esta orientação, o manipulador das energias
poderia ficar com 2/3 do que recebesse desde que desse o outro terço
para caridade fazendo tal cobrança somente de quem tivesse condições
de pagar e fazendo-o de graça a quem não tivesse.
Pois bem, até aí fica a
critério de cada um a concordância ou não com a justificativa
para esta prática mas o que se faz necessário é trazer a luz da
razão o uso que se faz desta lei que acabou por se tornar uma forma
confortável para encobrir extorsões financeiras por parte de
pseudo-gurus, pais-de-santo inescrupulosos e simples charlatões que
se aproveitam da fragilidade emocional de pessoas que buscam soluções
mágicas para resolução de seus problemas. Quantos centros que
ostentam em suas fachadas a denominação de Umbandistas utilizam-se
das giras de caridade gratuitas para drenar prováveis pagantes para
as chamadas “consultas” dadas por seus dirigentes em outros
horários, nas quais investidos do papel de canais mediúnicos e
teoricamente dando voz as mensagens de entidades iluminadas, acabam
por persuadir indivíduos com fé questionável a desembolsarem
quantias financeiras imorais para agradar de “ Bará a Oxalá”
através de trabalhos arriados em lugares os mais diversos, muitas
vezes lançando mão de sacrifícios de animais e agredindo o
meio-ambiente. Isto quando não verbalizam um aviso codificado nas
cartas de Tarô, nos búzios ou nas mensagens recebidas diretamente
dos “orixás” através da intuição, clarividência ou
clariaudiência a respeito de demandas de magia negra que
explicariam todas as agruras pelas quais os incautos estariam
passando e que já teriam sido esmiuçadas durante a gira de caridade
no atendimento feito pelo pretenso amigo espiritual que aconselhou o
consulente a procurar o dirigente. São convencidos de que tal magia
malévola só se combate com um desmancho muito complicado e com uma
outra magiazinha para “abafar” o mandante e deixar o tal cidadão
a salvo e com os caminhos novamente abertos.
Colocando
o assunto desta forma, parece improvável que alguém se deixe iludir
a tal ponto mas nós espíritos encarnados somos absolutamente
imediatistas e tendemos a atribuir nossos insucessos e falta de
empenho pessoal a interferências nefastas de terceiros. Porque então
não ceder a conveniência do apelo de resultados fáceis largando
nas mãos da espiritualidade a solução de todos os problemas? Cada
um justifica para si mesmo a aceitação destas práticas de acordo
com o momento existencial pelo qual estiver passando como traduz o
seguinte depoimento de um médium autodenominado umbandista:
“No
centro umbandista que eu freqüentei durante 2 anos, nada era
cobrado, porém nada era feito,nunca arriei uma comida pro meu santo,
como é que vamos chegar a algum lugar assim? Tudo nessa vida tem seu
preço, as igrejas cobram, hospitais cobram...E é claro o santo
cobra também. Se eu quero chegar a algum lugar na vida,tenho que
fazer por merecer”.
Cada
um tem pleno direito de defender suas convicções, mas certamente
este irmão é um dos tantos que não tendo alcançado a maturidade
espiritual e mediúnica adequadas atribui um problema que certamente
é seu a práticas templárias “inadequadas”. Certamente
encontraria no estudo da doutrina que julga praticar a explicação
para muitos dos seus questionamentos, da prática adotada pelo centro
ao qual atribui o erro por não cobrar e principalmente no que
consiste o conceito de “fazer por merecer” aos olhos da Lei
Maior. Se assim o fizesse entenderia que não é preciso desembolsar
o que quer que seja ou depender de qualquer intermediário para
alcançar a objetivo maior de estar encarnado. Bastaria ele descobrir
no Evangelho de Jesus o caminho para chegar ao único lugar onde
todos os nossos espíritos imperfeitos almejam chegar: o mais próximo
possível da essência do Pai.
A Umbanda tal como foi
repassada ao plano material pela espiritualidade não admite
cobranças de nenhuma espécie. Como então admitir que um encarnado
que foi agraciado com a missão da mediunidade pela misericórdia
divina através de um compromisso sagrado assumido no plano
espiritual possa cobrar por algo que lhe foi concedido de graça e
com a única finalidade de auxiliar no alento e no crescimento
espiritual dos irmãos de jornada? Adotar tal prática justificando
estas atitudes em uma suposta lei adaptada aos interesses de quem
coloca o material acima do espiritual somente “salva” a
transitória situação financeira destas pessoas que fatalmente
terão que devolver com juros para a contabilidade cármica tudo
aquilo que foi arrecadado em mais uma existência desperdiçada.
Adriano - Médium do Triângulo