O médium em
prova na matéria não deve esquecer que a sua faculdade mediúnica é apenas o
sagrado ensejo de ele renovar-se espiritualmente; portanto, não deve prestar-se
a qualquer especulação mercenária. Se, além de sua função de médium, ele ainda
é obrigado a sacrifícios para prover a família debatendo-se mesmo na extrema
miséria, não há dúvida de que na existência pregressa tanto fez mau uso do seu
poder ou de sua inteligência, como também delinqüiu devido ao mau uso da
riqueza.
A Lei Cármica, apesar de sua função
retificadora, é também de ação educativa, pois não só favorece o espírito para
o resgate mais breve dos seus débitos passados, como ainda o situa na carne em
condições de evitar-lhe novos desatinos, graças à redução prudente dos seus
bens ou poderes materiais no mundo físico. Mercê da bondade do Alto, o espírito
endividado recebe o aval da mediunidade para ressarcir-se das culpas
pretéritas, mas a sabedoria da Lei ainda o protege no apressamento de sua liquidação
cármica, impedindo-o de possuir os mesmos valores de que tanto abusou no
passado.
Algumas vezes, o médium de cura, que
enfrenta graves dificuldades econômicas e se aflige para manter a farru1ia, é o
mesmo espírito do médico negligente e faltos o de outrora, o qual fazia da dor
e do sofrimento alheio a tábua de negócios para o seu enriquecimento
condenável. A Lei então o fez retomar ao mesmo mundo onde ele cometeu esses
deslizes e o sobrecarrega de obrigações no seio do Espiritismo, além de forçá-lo
a manter a farru1ia sem direito a quaisquer pagamentos pela sua tarefa
mediúnica curadora, a qual não passa de compromisso espiritual de prova, em vez
de encargo messiânico de eleição superior. É serviço a ser efetuado
gratuitamente em favor da Humanidade, para cobertura das dívidas pretéritas,
por cujo motivo não o credencia a cobrança ou ressarcimento material.
Considerando-se que todos os homens
são médiuns, e, portanto, credenciados a transmitir a voz do mundo espiritual
em qualquer circunstância, muitas criaturas de palavra fácil, raciocínio
sensato e sentimentos altruísticos, às vezes produzem mais benefícios ao
próximo do que certos médiuns negligentes que operam em serviço oficial sob a
égide do Espiritismo. Há médiuns que se submetem à disciplina doutrinária do
desenvolvimento mediúnico somente para evitar que adoeçam ou destrambelhem os
nervos pela falta de atividade psíquica controlada. Nem todos aceitam a tarefa
mediúnica à guisa de um bem espiritual, pois a maioria mal suporta a obrigação
de permanecer jungido à mesa espírita para atender ao próximo.
Em conseqüência, sempre resulta em
agravo espiritual para o médium curador a cobrança pelos seus serviços
mediúnicos, mesmo quando a paga é na forma de presentes espontâneos oferecidos
por aqueles que o consultam. Allan Kardec adverte constantemente, em suas obras
fundamentais do Espiritismo, quanto à responsabilidade do médium mercenário no
exercício de sua faculdade mediúnica, embora seja ele um necessitado. Ele foi o
primeiro a exemplificar a sua advertência, uma vez que renunciou a todos os
direitos autorais de suas obras em favor do bem coletivo, assim como demonstrou
profunda discordância com os que pretendem explorar os valores do Alto.
Ramatís - Mediunidade de Cura