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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Posso? Só um golinho!?


             João Tenebrino era um cara muito magro, estatura média, meio avançado na idade e beirando os cinquenta e tantos anos. Gostava duma cachacinha! Mas gostava tanto que bebia todas, quando estava com os amigos ou nas festinhas da família. Tomou tanto que ingeriu as dele e as dos outros. Por isso teve uma cirrose hepática fulminante. Câncer dos brabos segundo ele. Estava condenado pelo médico e podre por dentro. Precisava fazer um tratamento sério e deixar a “mardita” da cachaça de lado. Nunca mais sentir o gostinho delicioso. A bebida descer suave e redonda. A coragem brotar depois do quarto ou quinto copo bem servido. Ficar valente e esquecer toda a miséria da vida. Vida de classe média “c, d", ou seja, lá que letra for... Dançar a noite inteira com todas as mulheres do bailareco e depois desabar. De tanto beber, de tanto brigar, discutir e vencer no braço, quando a noitada estava acabando. Outras vezes cair duro ali mesmo e na maior “manguaça” da paróquia, com todo respeito pelo senhor vigário, que ele merece! Como o médico foi categórico:

      - Tem que tratar! Parar de beber! João Tenebrino teve um terrível pensamento: - Adeus bebidinha amiga! Adeus bailarecos e farras da vida. Adeus noitadas. A vida vai ficar sem graça. - Ah! Mas já sei! Vou fazer o que o meu amigo de caneco, o Maçarico, recomendou! – Cara procura uma casa de religião! Daquelas bem boas que fazem qualquer coisa! Conheço uma porreta. Tu vai gostar! Se quiser te levo e te apresento “pro dono”! E assim, foram até a casa e ele fez um trabalho com corte de animais. O tal gênio dos trabalhos disse a ele que iria ficar bom. Passou o tempo. João Tenebrino piorou. Voltou correndo ao médico e recebeu um ultimato: – Ou para de beber ou morre! O cara fica apavorado e convida a irmã para ir com ele numa casa de umbanda cristã, para consultar com um preto velho, que trabalhava por lá.
             Quando do atendimento eis que ele se apresenta no maior bafo de cerveja. A aparência desleixada e demonstrando falta de asseio. De banho mesmo! Contou ele a historia da doença. Relatou o que o médico dissera. Furioso por que teria que fazer o tratamento ao qual não queria se submeter.
Os médiuns perceberam que ele continuava a ingerir bebidas alcoólicas. E quando advertido de que não poderia mais beber, caso contrário não adiantava fazer tratamento espiritual. Respondeu contrariado: - Ah! Mas eu fui numa casa e um médium disse que eu posso beber. Só cerveja! Mas posso! Então eu continuo bebendo.
             - Mas seu João o médico não falou que não pode beber? Que o seu fígado está comprometido? Em quem o Senhor acredita?      Pasmem com a resposta! – Eu acredito no médium. O médico pode estar enganado!  Vejam só! Cada um acredita naquilo que quer. O sujeito estava praticamente condenado e, no entanto não queria seguir o tratamento médico porque, tinha que largar a garrafa! Queria fazer cirurgia espiritual. Um milagre, para curar a cirrose e continuar a tomar todas! E o tal médium que afirmou que ele podia continuar a beber? Só cerveja que era menos prejudicial! A responsabilidade de quem afirma algo deste quilate, o comprometimento de quem usa da palavra para incutir ideias nas pessoas de forma a leva-las a assumir ou praticar atos contrários ao bom senso, prejudicando-as de alguma forma é grande e deixa graves consequências. Ficou a dúvida se a desculpa era esfarrapada ou não. Se alguém deu a ele este conselho. E como saiu visivelmente insatisfeito, não mais voltou, não foi possível acompanhar a evolução do caso.
             Cada um dá a sua caminhada o rumo que melhor lhe parece. Algumas pessoas quando submetidas a provas amargas, mudam o seu modo de encarar a vida. Outros se comprazem em continuar do mesmo modo. Com estas pessoas o que fazer? – Simplesmente quando nada podemos fazer, já está tudo feito! A dor será companheira inseparável até a morte e depois o arrependimento, quando de sua passagem para o mundo espiritual será maior ainda. Porque é uma cobrança moral que o próprio ser faz a si mesmo. Mas somente o tempo e o aprendizado repetido ao longo das encarnações traz aos seres compreensão das verdades e do caminho deixado por Jesus, o sublime e meigo Rabi.

Lizete – Médium do Triângulo
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