João Tenebrino era um cara muito
magro, estatura média, meio avançado na idade e beirando os cinquenta e tantos
anos. Gostava duma cachacinha! Mas gostava tanto que bebia todas, quando estava
com os amigos ou nas festinhas da família.
Tomou tanto que ingeriu as dele e as dos outros. Por isso teve uma cirrose
hepática fulminante. Câncer dos brabos segundo ele. Estava condenado pelo
médico e podre por dentro. Precisava fazer um tratamento sério e deixar a “mardita”
da cachaça de lado. Nunca mais sentir o gostinho delicioso. A bebida descer
suave e redonda. A coragem brotar depois do quarto ou quinto copo bem servido.
Ficar valente e esquecer toda a miséria da vida. Vida de classe média “c,
d", ou seja, lá que letra for... Dançar a noite inteira com todas as
mulheres do bailareco e depois desabar. De tanto beber, de tanto brigar,
discutir e vencer no braço, quando a noitada estava acabando. Outras vezes cair
duro ali mesmo e na maior “manguaça” da paróquia, com todo respeito pelo senhor
vigário, que ele merece! Como o médico foi categórico:
- Tem que tratar! Parar de beber! João
Tenebrino teve um terrível pensamento: - Adeus bebidinha amiga! Adeus
bailarecos e farras da vida. Adeus noitadas. A vida vai ficar sem graça. - Ah!
Mas já sei! Vou fazer o que o meu amigo de caneco, o Maçarico, recomendou! –
Cara procura uma casa de religião! Daquelas bem boas que fazem qualquer coisa!
Conheço uma porreta. Tu vai gostar! Se quiser te levo e te apresento “pro dono”!
E assim, foram até a casa e ele fez um trabalho com corte de animais. O tal
gênio dos trabalhos disse a ele que iria ficar bom. Passou o tempo. João Tenebrino
piorou. Voltou correndo ao médico e recebeu um ultimato: – Ou para de beber ou
morre! O cara fica apavorado e convida a irmã para ir com ele numa casa de
umbanda cristã, para consultar com um preto velho, que trabalhava por lá.
Quando do atendimento eis que ele
se apresenta no maior bafo de cerveja. A aparência desleixada e demonstrando
falta de asseio. De banho mesmo! Contou ele a historia da doença. Relatou o que
o médico dissera. Furioso por que teria que fazer o tratamento ao qual não
queria se submeter.
Os
médiuns perceberam que ele continuava a ingerir bebidas alcoólicas. E quando
advertido de que não poderia mais beber, caso contrário não adiantava fazer tratamento
espiritual. Respondeu contrariado: - Ah! Mas eu fui numa casa e um médium disse
que eu posso beber. Só cerveja! Mas posso! Então eu continuo bebendo.
- Mas seu João o médico não falou
que não pode beber? Que o seu fígado está comprometido? Em quem o Senhor acredita?
Pasmem com a resposta! – Eu acredito
no médium. O médico pode estar enganado! Vejam
só! Cada um acredita naquilo que quer. O sujeito estava praticamente condenado
e, no entanto não queria seguir o tratamento médico porque, tinha que largar a
garrafa! Queria fazer cirurgia espiritual. Um milagre, para curar a cirrose e
continuar a tomar todas! E o tal médium que afirmou que ele podia continuar a
beber? Só cerveja que era menos prejudicial! A responsabilidade de quem afirma
algo deste quilate, o comprometimento de quem usa da palavra para incutir
ideias nas pessoas de forma a leva-las a assumir ou praticar atos contrários ao
bom senso, prejudicando-as de alguma forma é grande e deixa graves
consequências. Ficou a dúvida se a desculpa era esfarrapada ou não. Se alguém
deu a ele este conselho. E como saiu visivelmente insatisfeito, não mais voltou,
não foi possível acompanhar a evolução do caso.
Cada um dá a sua caminhada o rumo
que melhor lhe parece. Algumas pessoas quando submetidas a provas amargas,
mudam o seu modo de encarar a vida. Outros se comprazem em continuar do mesmo
modo. Com estas pessoas o que fazer? – Simplesmente quando nada podemos fazer,
já está tudo feito! A dor será companheira inseparável até a morte e depois o
arrependimento, quando de sua passagem para o mundo espiritual será maior
ainda. Porque é uma cobrança moral que o próprio ser faz a si mesmo. Mas somente o tempo e o aprendizado repetido ao
longo das encarnações traz aos seres compreensão das verdades e do caminho
deixado por Jesus, o sublime e meigo Rabi.