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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Relato de vivência na incorporação com Orixá.


De modo geral, a Umbanda não considera os Orixás que descem ao terreiro energias ou forças supremas desprovidas de inteligências e individualidades. Na verdade (e os africanos assim já consideravam), Orixás seriam ancestrais divinizados, que incorporam conforme a ancestralidade, as afinidades e a coroa do médium. No Brasil, teriam sido confundidos com os chamados Imolês, isto é, Divindades Criadoras, acima das quais aparece um único Deus: Olorum, Olodumaré ou Zambi.

Na linguagem e na concepção umbandista, portanto, quem incorpora numa gira de Umbanda não são os Orixás propriamente ditos, mas seus falangeiros, em nome dos próprios Orixás. Tal concepção está de acordo com o conceito de ancestral (espírito) divinizado (ou evoluído) vivenciado pelos africanos que para cá foram trazidos como escravos. Mesmo que essa visão não seja consensual, ao menos se admite no meio umbandista que Orixá que incorpora possui um grau adequado de adaptação à energia dos encarnados, o que seria incompatível para os Orixás hierarquicamente superiores.

...a respeito da ancestralidade e da divinização de ancestrais, aparece, dentre outras fontes, a celebre pesquisadora Olga Gudolle Cacciotare, para que: “Os Orixás são intermediários entre Olórum, ou melhor, entre seu representante (e filho) Oxalá e os homens. Muitos deles são antigos reis, rainhas ou heróis divinizados, os quais representam as vibrações das forças elementares da Natureza, como os raios, trovões, ventos, tempestades, água, fenômenos naturais como o arco-íris, atividades econômicas primordiais do homem primitivo – caça, agricultura – ou minerais, como o ferro, que tanto serviu a essa atividade de sobrevivência, assim como às de extermínio na guerra”.

Entretanto, e como o tema está sempre aberto ao dialogo, à pesquisa e ao registro de impressões, conforme observa o médium umbandista e escritor Norberto Peixoto -  livro Mediunidade e Sacerdócio -, é possível incorporar a forma-pensamento de um Orixá, a qual é plasmada e mantida pelas mentes dos encarnados. Nas palavras do médium:

“Era dia de sessão de preto(a) velho(a). Estávamos na abertura dos trabalhos, na hora da defumação. O congá “repentinamente” ficou vibrando com o Orixá Nanã, que consideramos a mãe maior dos Orixás e seu axé (força) é um dos sustentadores da egrégora da Casa desde a sua fundação, formando par com Oxossi. Faltavam poucos dias para o amací (ritual de lavagem da cabeça com ervas maceradas), que tem por finalidade fortalecer a ligação dos médiuns com os Orixás regentes e guias espirituais. Pedi um ponto cantado para Nanã Buruquê, antes dos cânticos habituais. Fiquei envolvido com uma energia lenta, mas firme. Fui transportado mentalmente para beira de um lago lindíssimo e o Orixá Nanã me “ocupou”, como se entrasse em meu corpo astral ou se interpenetrasse com ele, havendo uma incorporação total”.

(…)

“Vou explicar com sinceridade e sem nenhuma comparação, como tanto vemos por ai, como se a manifestação de um ou outro (dos espíritos na umbanda versus dos orixás de ouros cultos) fosse mais ou menos superior, conforme o pertencimento de quem os compara a outra religião. A “entidade” parecia um “robô”, um autônomo sem pensamento contínuo, levado pelo som e pelos gestos. Sem dúvida, houve uma intensa movimentação de energia benfeitora, mas durante a manifestação do orixá minha cabeça ficou mentalmente vazia, como se nenhuma outra mente ocupasse o corpo energético do orixá que dançava, o que acabei sabendo depois tratar-se de uma forma-pensamento plasmada e mantida “viva” pelas mentes dos encarnados”.

No cotidiano dos terreiros, por vezes o vocábulo Orixá é utilizado, também para Guias e Entidades. Em muitas casas, por exemplo, é comum ouvir alguém dizer antes de uma gira de Preto-Velhos: “Precisamos preparar mais banquinhos, pois hoje temos muitos médiuns, portanto, aumentará o numero de Orixás em terra”.

Extraído do livro “O essencial do Candomblé” do escritor Ademir Barbosa Junior (Editora Universo dos Livros).
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