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terça-feira, 13 de novembro de 2012

A infância de Jesus 2


       A infância do menino Jesus, aparentemente, transcorreu de modo tão comum quanto a dos demais meninos hebreus, seus conterrâneos, ele discrepava dos demais meninos devido à sinceridade e franqueza com que julgava as coisas do mundo, sem sofismas ou hipocrisia. Algumas vezes causava aflições aos próprios país, provocando comentários contraditórios entre aquela gente conservadora, que jamais poderia compreender o temperamento de um anjo exilado na carne e incapaz de se acomodar aos interesses prosaicos do ambiente humano.
      A vida de Jesus transcorreu de acordo com os costumes das famílias judaicas pobres e de descendência fértil, o que ainda é muito comum na Judéia atual.
      Era um menino de olhos claros, doces e aveludados, de um azul-esverdeado encastoadas na fisionomia adornada pela beleza de Maria e cunhada pela energia de José! Vestia pobremente, como os demais meninos dos subúrbios de Nazaré.

     Tinha os cabelos de um louro-ruivo, quase fogo, que emitiam fulgores e chispas à luz do Sol; eram soltos, com leves cachos nas pontas e flutuavam ao vento. A roupa íntima era de pano inferior, que depois ele cobria com uma camisola de algodão, de cor sépia ou salmão. Só nos dias festivos ou de culto religioso ele envergava a veste domingueira de um branco imaculado, sendo-lhe permitido usar o cordão de neófito da Sinagoga. Sobre os ombros, nas manhãs mais frias, Maria punha-lhe o manto azul-marinho, de lã pura, tecida em Jerusalém

     Nada ele tinha de vaidade ou orgulho que o distanciasse dos demais companheiros de infância, pois era cordial e afetuoso, amigo e leal. No entanto, inúmeras vezes, no auge do brinquedo divertido, o menino Jesus anuviava o seu semblante, pois seus sentidos espirituais aguçados pressentiam a efervescência das ciladas ou das cargas fluídicas agressivas que se moviam procurando atingi-lo em sua aura defensiva.

     Era o anjo ameaçado pelos seus adversários sombrios, que não podiam afetar-lhe a divina contextura espiritual, mas tentavam ferir-lhe o corpo transitório, precioso instrumento do seu trabalho messiânico na Terra. O anjo, pois, é justamente o ser mais alvejado pela malícia, crueldade, inveja, ciúme e despeito daqueles que ainda são escravos da vida animalizada do mundo profano!
     As Trevas vigiavam-no incessantemente para desfechar o ataque perigoso à sua delicadíssima rede neurocerebral, a fim de lesá-lo no contato sadio com a matéria, e isto só era impedido graças aos seus fiéis amigos desencarnados. Jamais alguém, no Espaço ou na Terra, poderia ofender ou lesar a contextura espiritual de Jesus, tal a sua integridade sideral, mas não seria impossível atingir o seu equipo carnal.

     Não há dúvida de que os bons só atraem os bons fluidos e acima de tudo ainda merecem a companhia e a proteção dos bons espíritos, mas é conveniente meditarmos em que, nem por isso, estamos livres da agressividade dos espíritos maléficos, que não se conformam em sofrer qualquer derrota espiritual!
     Até aos sete anos, como acontece a quase todos os meninos na vida material, predominavam em Jesus os ascendentes biológicos herdados dos seus genitores. Em tal época, ele ainda agia impelido pelo instinto hereditário da ancestralidade carnal, enquanto o seu espírito despertava, pouco a pouco, na carne, para então comandar o corpo emocional ou astralino, revelador oculto das emoções humanas.

    Ao completar sete anos os seus familiares ficaram apreensivos com ele, em face da estranha melancolia que o acometera, pois algo se revelara dentro de si e lhe roubava a plenitude comum de alegria. No entanto, era o período em que o corpo astralino se ajustava ao organismo físico e se consolidava junto do duplo etérico constituído pelo éter físico da Terra. Dali por diante, como acontece com todas as crianças depois dos sete anos, Jesus passava a contar com o seu "veículo emocional", e que o faria vibrar com mais intensidade no cenário do mundo e na responsabilidade na carne.

     As possibilidades da família só permitiram a Jesus fazer singelo curso de alfabetização para adquirir o conhecimento primário sobre ás coisas elementares. Deixou de estudar assim que aprendeu a ler e a cantar os salmos e os longos recitativos no ambiente severo da Sinagoga de Nazaré, o que era mesmo comum aos meninos mais favorecidos pela oportunidade educativa. O menino Jesus sentia dificuldades para estudar à maneira dos alunos comuns, que aceitam e decoram, sem protestos, tudo o que lhes diz o mestre-escola. Custava-lhe absorver-se na nomenclatura convencional do mundo, quanto ao sistema primitivo de memorização maquinal.
     No entanto, nenhum homem no mundo assimilou tão rapidamente tantos conceitos de filosofia, lendas,.narrativas, parábolas e conhecimentos do mundo, através da escola viva das relações humanas como o fez Jesus!

     José e Maria eram paupérrimos e responsáveis por uma prole numerosa e estranhavam que Jeová, em vez de lhes enviar um filho de bom senso, prático e semelhante aos demais meninos, onerara-os com um belo garoto, de um fascínio e encanto especial, de uma agudeza e sinceridade chocantes, mas impróprio para a época e vivendo na infância a responsabilidade e os pensamentos de um adulto!
     Malgrado sua doçura, sentimento amoroso, pensamentos limpos e certa timidez, Jesus era uma "criança-problema", quando incandescia na sua alma aquele estranho fulgor, que o tornava severo, desembaraçado e irredutível no seu senso de justiça tão incomum!
    A melancolia, a tristeza, o desassossego e aparentes contradições do menino Jesus eram uma conseqüência natural do desajuste do seu espírito angélico, cuja vida era profundamente mental e o fazia sentir-se exilado no ambiente rude da matéria! As suas esquisitices e excentricidades eram provenientes da sua impossibilidade de acomodar-se ao meio terráqueo, como o faziam os seus contemporâneos adstritos aos problemas simplissimos de digerir, procriar e cumprir as exigências fisiológicas do organismo humano.

    A índole excessivamente contemplativa de Jesus induzia-o a procurar empreendimentos e atividades insólitas, que pudessem ajudá-lo a compensar as angústias e as emoções de que sofria o seu espírito superativo. Nos seus impulsos de libertação, ele penetrava a fundo nos bosques e nas furnas. Malgrado a advertência prudente do Alto, o menino Jesus expunha demasiadamente o seu corpo aos perigos do meio agressivo do mundo, enquanto se deixava ficar absorto, em sua meditação espiritual, horas dentro da noite.
     Evidentemente, isso exigia a atenção constante dos seus amigos siderais e não poucas vezes a "voz oculta" de Gabriel advertiu-o para que não se expusesse tanto no cenário perigoso do mundo físico. Mas, quem poderia modificar a índole de um anjo que jamais temia a morte?

    Era destituído de qualquer senso de propriedade dos bens do mundo, deixava seus brinquedos pelos caminhos, abandonava os apetrechos escolares aos demais meninos, e sem protesto ou desculpa doava  suas sandálias  e o que mais pudesse oferecer no momento.
    A noite, junto da família, choviam-lhe conselhos de seus pais e irmãos, que procuravam ensiná-lo a viver de modo a não turbar as relações humanas.    Advertiam-no da imprudência de sua indagação muito antecipada sobre coisas que não eram práticas e só causavam confusão ou diminuíam os outros pela impossibilidade de uma solução satisfatória. Que precisava adaptar-se às circunstâncias do meio, agir cautelosamente, com habilidade e diplomacia entre os homens. Então o menino Jesus arregalava os olhos, surpreso, e na sua pureza cristalina indagava, altivo: "Por que devo agir assim? Por que devo esconder a minha sinceridade e alimentar  a hipocrisia?"
    Como espírito de elevada estirpe sideral, aprendia com extrema facilidade qualquer iniciativa do seu povo, enquanto era o mais exímio oleiro da redondeza, conhecido entre as crianças do seu tempo. Destro no fabricar animais e aves de barro, às vezes devotava-se com tal ânimo e perícia criadora a essa arte infantil, que os produtos saídos de suas mãos arrancavam exclamações de espanto e admiração dos próprios adultos!

     Ele também se entregava às brincadeiras comuns da época, como o jogo de bolas de pano e de barro, que eram atiradas sobre obstáculos de madeira, derrubando-os; às travessuras com cães, cabritos e cordeiros, ou à construção de diques e lagos artificiais, cujas barcas de pesca ele as construía de gravetos e restos de madeira sobejados da carpintaria de José; e os guarnecia de remos feitos de palitos de cedro. As velas dos barquinhos, enfunadas, traíam a contribuição de Maria, com retalhos de linho e algodão de suas costuras.

     Em geral as crianças hebréias temiam Jeová e bem cedo aprendiam a respeitá-lo e à sua Lei, certos de que ele espiava-lhes as traquinagens habilmente escondido atrás das nuvens. Nos dias tempestuosos, em que as torrentes de água se despejavam dos céus, as mães então predicavam aos filhos que Jeová estava zangado com os meninos desobedientes, e por isso atirava setas de fogo e raios incandescentes, partindo árvores e abrasando a Terra!  Jesus então arregalava os olhos sem qualquer temor, pois não podia admitir qualquer noção de castigo ou de ira por parte do Pai que estava nos céu.
Às vezes, sua silhueta recortava-se nítida sob a luz incandescente dos relâmpagos; então erguia os braços e cantarolava alegre, como se quisesse abraçar os relâmpagos e traze-los em feixe, para casa!  Os gritos jubilosos de Jesus confundiam-se com os brados de Tiago e Eleazar, seu tio e irmão, que o chamavam desesperadamente.
     Era um anjo destemido e sabia que mediante aquela tempestade ruidosa de trovões e raios ameaçadores, o Espírito Arcangélico da Vida processava a limpeza da atmosfera, recompunha o plasma criador, carbonizava detritos perigosos, sensibilizava o campo magnético do duplo etérico da própria Terra e procedia à higiene fluídica no perispírito dos homens!
    A alimentação dos nazarenos se completava com figos cozidos ou crus, tâmaras do Líbano, uvas secas, azeitonas em azeite, pão de trigo ou preto, com mel de figo ou de abelha. Em determinados dias da semana fazia-se uma espécie de manteiga com leite de cabra, que depois era servida com os tradicionais pães miúdos, mistos de polvilho e trigo.

Do livro SUBLIME PEREGRINO


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