PERGUNTA: — Podeis
nos explicar melhor o caso de espíritos que devem reencarnar com o destino fatalista
de ser obsidiados, a fim de despertarem os membros de sua família para os postulados da vida e que depois
são curados pelo Espiritismo?
Estranhamos essa condição de a criatura ser fatalmente vítima da
obsessão, quando temos aprendido que ninguém renasce na Terra com a determinação
de sofrer qualquer castigo ou penalidade propositadamente, sob a imposição dos
espíritos superiores.
RAMATÍS:
— Os Mentores Espirituais nunca determinam que certos
espíritos devam reencarnar-se sob o estigma implacável de serem
obsidiados, vítimas de homicídios ou de acidentes fatais, o
que seria uma punição deliberada e incompatível com a Bondade
do Criador. Os espíritos faltosos são encaminhados para a
vida física sob o comando de suas próprias faltas e dos efeitos do
desregramento cometido nas existências passadas;
eles são situados carmicamente no seio das influências mórbidas
ou maléficas semelhantes às que também alimentaram ou produziram no pretérito.
A nova existência física transforma-se-lhes numa
"probabilidade" favorável ou desfavorável, dependendo
fundamentalmente do modo como eles passam a agir na matéria entre
os seus velhos comparsas, vítimas ou algozes pregressos,
pois ficam na dependência de suas próprias paixões vícios
ou virtudes. Desde que se mantenham de modo digno, vivendo
amorosamente em favor do próximo, também poderão sobreviver
sem conflitos ou tragédias, fazendo jus ao socorro espiritual
dos seus mentores, que de modo algum desejam castigá-los,
mas apenas recuperá-los espiritualmente. Sem dúvida, o
espírito que, embora renascendo no meio de malfeitores, ou
mesmo sendo alvo de qualquer obsessor cruel, se devote heroicamente ao bem
alheio, exercite a sua ternura, o seu amor e magnanimidade para com todas as criaturas,
sem distinção de crença, raça ou casta, também logra maiores
probabilidades de sobreviver na matéria à distância de qualquer violência ou fim
trágico.
PERGUNTA: — Como
poderíamos avaliar a natureza dos delitos
desses espíritos que renascem na Terra com essa `probabilidade" de
sofrer a prova da obsessão, porque no passado semearam a perturbação mental,
praticaram o suicídio ou se entregaram à prática do mal?
RAMATÍS:
— É evidente que a revolta, o ateísmo, a sensualidade ou o
pessimismo são bastante estimulados nas criaturas pelos maus
escritores, oradores subversivos e líderes intelectuais
maquiavélicos que, influenciados pelo existencialismo
apocalíptico da época, usam de sua inteligência e agudeza
mental para cavar fundo na alma dos seus leitores e
admiradores invigilantes. Certas filosofias crônicas e doutrinações
modernas induzem o homem a confundir e tomar os raciocínios
e os malabarismos brilhantes da mente terrena como se fossem
bens supremos do espírito imortal.
Elas aconselham aos seus discípulos o epicurismo da
"fuga interior", liberando-os de quaisquer obrigações para com alguma
autoridade espiritual ou ente supremo, e tentam
convencê-los de que serão humilhados pelo fato de concordarem
ou se curvarem à idéia de um Deus, que reina acima dos
valores do intelecto humano. Esses espíritos demasiadamente
intelectivos, que empregam o seu talento para semear a
descrença, a inconformação, a rebeldia e a ociosidade espiritual,
que vivem preocupados excessivamente em fundar escolas
filosóficas exóticas, que isentam o homem de sua
responsabilidade espiritual e o incentivam a uma existência
puramente sensual, dificultam a perfeita aplicação da Lei de Evolução na marcha
progressiva das criaturas
de menor acuidade mental.
E de conformidade com essa mesma lei sideral, de que a "colheita
é sempre de acordo com a sementeira", tais filósofos aniquilantes terão de
corrigir em vidas futuras os desvios que provocaram nos seus
tolos discípulos, saneando-lhes os raciocínios insensatos e
fazendo-os reconquistar o respeito perdido. Desde que semearam confusões
mentais e psíquicas em outros cérebros invigilantes, eles devem encarnar no
seio de famílias cuja crença obsoleta ou infantil também os
retarde na senda do progresso espiritual. Então cumpre-lhes
ajudá-las a se libertar do negativismo secular ou do
dogmatismo asfixiante, a fim de compensarem os prejuízos causados
pelos postulados contraditórios que pregaram no passado.
Nascem, pois, no futuro, com esse implacável dever de
despertar seus velhos familiares ou comparsas, ainda atrofiados
pelo culto aos dogmas aguilhoantes ou completamente
apáticos à vida imortal. Graças ao seu sacrifício e à conseqüente
cura pela doutrina espírita, esses espíritos perturbadores
pregressos terminam reajustando-se numa posição heróica, junto
daqueles de cuja confiança, candidez ou vulnerabilidade mental abusar.
PERGUNTA:
— Então poderíamos supor que, muitas vezes, são os próprios
mestres e líderes de filosofias ou doutrinas perturbadoras que depois
devem imolar-se em futuras existências
físicas, para despertar os seus próprios discípulos ou seguidores
iludidos no passado?
RAMATÍS:
— Sem dúvida; aqueles que hipnotizaram algumas almas para o
culto de suas doutrinas subversivas, aniquilantes,
negativistas ou fesceninas renascem posteriormente com
a obrigação de se tomarem os"alvos"principais e responsáveis
pela reforma e recuperação espiritual dos seus antigos seguidores,
ainda confusos na senda da espiritualidade.
Sob a disciplina férrea, mas justa, da Lei Sideral, que retifica
mas não castiga, eles retomam ao cenário do mundo físico e se situam no seio
das familias terrenas, comprometidos em despertar da ilusão intelectiva, da
hipnose dos sentidos passionais ou da escravidão do ateísmo infeliz
aqueles mesmos que os seguiram tolamente no passado. Mas nessa tarefa
sacrificial nada lhes é imposto arbitrariamente; é a sua
razão esclarecida e a certeza de reduzir o seu débito cármico
o que os faz aceitar conscientemente o serviço doloroso
a favor do próximo, e também em seu próprio benefício.
É certo que a família ignora a razão dos acontecimentos dolorosos
que eclodem, constituindo as desventuras no roteiro evolutivo em
comum. E assim se formam os quadros de sofrimento
redentor; aqui, é o filho que nasce com a enfermidade congênita
e arrasta-se torturadamente, provocando angústias nos
seus consangüíneos; ali, é o chefe da família que, arrasado
por cruel enfermidade e resistente a todos os esforços da
Medicina oficial, marcha tristemente para a cova terrena,
lacerando os corações familiares; acolá, estranha enfermidade
agride a filha querida, fazendo-a palmilhar a "via-crucis" de todos
os consultórios e instituições psicopáticas, enquanto faz
estrugirem gritos estranhos e mágoa a todos com palavras de baixo calão.
Mas a Lei está vigilante, e quando o desespero já se instalou
no seio da família acabrunhada, eis que se opera então o
milagre: sob fortuita coincidência, surge o médium curador,
que faculta ao filho recuperar os movimentos físicos atrofiados
desde o berço, ou restitui a saúde ao chefe da casa já
desenganado pela Medicina, ou ainda, graças à dedicação de alguns adeptos da
doutrina espírita, esclarece-se o espírito obsessor que
torturava a filha querida. Deste modo, o Espiritismo é aceito
no lar, que se faz venturoso, e os postulados da imortalidade
do espírito penetram na alma daqueles que viviam
escravizados cegamente aos dogmas infantis ou à absoluta descrença.
Abalam-se as velhas convicções ateístas e os sectarismos condenáveis
esposados no seio da parentela, graças à cura milagrosa de
alguns dos seus familiares através da singeleza da água
fluida, do receituário mediúnico ou do passe espírita. E
o Alto, através daqueles mesmos que, muitas vezes, no passado,
abusaram do mando e do intelecto em desfavor do próximo,
ministra-lhes novos conceitos de vida superior, servindo-se
de suas carnes maceradas ou dos seus nervos atrofiados. Os
conceitos errôneos ou negativos de ontem são compensados
pelo sacrifício da dor física ou psíquica do presente.
PERGUNTA: — No caso do filho
doente ou da filha obsidiada que, depois de curados miraculosamente pelo
Espiritismo, convertem a família descrente, não poderá tratar-se de espíritos bons, que aceitam o sofrimento
sacrificial com o intuito magnânimo de ajudar os seus afetos encarnados
para mais breve ascensão espiritual?
RAMATÍS:
— Já vos dissemos que, mesmo no Espaço, não há regra sem
exceção, pois Jesus, espírito excelso e justo, não hesitou em
mergulhar nas sombras do vosso mundo, para salvar os homens
ignorantes de sua realidade espiritual. Sem dúvida,
espíritos boníssimos também descem à carne e se ajustam à família consangüínea
terrena, com o fito único de despertar espiritualmente os seus velhos
afetos milenários. Em alguns casos, eles se sacrificam heroicamente
a fim de socorrer, os próprios adversários pregressos e que ainda
se demoram hipnotizados pelas filosofias destrutivas ou doutrinas
enfermiças do mundo material.
Muitas vezes, quando essas almas sublimes comprovam a
inutilidade dos seus esforços para inspirarem do Além os seus
pupilos negligentes e conduzi-los ao Bem e à Sabedoria Espiritual,
decidem-se a habitar o mundo físico por amor a eles. Assim
como foi o excessivo amor de Jesus que, apiedado do
sofrimento humano, o conduziu para a Terra, e não alguma
culpa cármica de crucificação, muitas almas angélicas
também abandonam o plano paradisíaco sob o penoso -sacrifício
de se encarnarem no seio da família terrestre para despertar-lhe os
sentimentos crísticos.
Muitas delas, quando renascem junto de adversários empedernidos,
enfrentam as situações mais cruciantes para- atenuar a
fereza, o ódio e a violência que ainda vicejam entre eles.
Movidas pela compáixão do anjo, envidam todos os esforços
para subtraí-los às tragédias odiosas, que no futuro
engrenaram os carmas torturados. Algumas vezes, são
sacrificadas pelas próprias almas delinqüentes, às quais tentam
salvar dos padecimentos inenarráveis que as esperam nos
charcos do astral inferior. Mas ainda sentem-se felizes
quando conseguem atear-lhes o fogo do remorso ou do arrependimento,
provocando-lhes os primeiros impulsos de redenção espiritual.
Repetimo-vos, no entanto, que Deus não é vingativo, nem
sádico, e assim não cria a obsessão incurável, a doença fatal,
o aleijamento deformante ou qualquer outra desventura
destinada ao ser humano. Ele só objetiva a recuperação venturosa
de todos os seus filhos eternos. Tais acontecimentos
trágicos ou mórbidos são apenas frutos exclusivos da debilidade
moral e da ignorância do homem que mal balbucia as primeiras letras do alfabeto
da vida imortal.
Do livro MEDIUNISMO.