Por Ronaldo Figueira
Certa vez, um homem foi se
consultar com um Babalawo. Queria saber por que não dava nada certo em sua
vida.
Ao receber a mensagem de
Ifá, descobriu qual era o problema. O Babalawo lhe disse:
- Meu filho, sua vida não
vai pra frente porque você não fez as oferendas que deveria.
Surpreso o homem indagou:
- Fiz oferendas a todos os
Orixás. Como posso não ter feito as oferendas que deveria?! Fui à cachoeira,
agradei mamãe Oxum com Ipetê. Fui até o mar, a Yemanjá ofertei flores e
perfumes. Nos campos, ofereci a Ogum um cará regado com muito dendê. A Yansã,
arriei nos pés de um bambuzal nove acarajés. Em um lindo bosque, oferendei um
sarapatel à Nanã e na Calunga deixei junto ao cruzeiro um alguidar com pipocas
à Obaluayê. Xangô comeu um saboroso amalá que arriei na pedreira e a Oxossi,
levei até as matas um banquete com abóbora, milho, côco e muito mais. E ao
glorioso pai Oxalá, oferendei, em um lindo jardim, uma saborosa canjica coberta
com muito mel. Agora pergunto: - Ainda faltou alguma coisa?!
- Faltou o principal, meu filho!
Quando você foi à
cachoeira agradar a Oxum, pediu-lhe amor e lhe deu um Ipetê. Mas não ofertou o
amor que ela esperava que tivesse pela sua religião, pelos seus antepassados e
pelo seu semelhante. Nas águas de Yemanjá, você pediu que abençoasse sua família,
mas não é só com flores e perfumes que se agrada a rainha do mar. É preciso que
trate a todos os seus irmãos com respeito, pois somos todos uma só família. Nos
campos de Ogum, não basta lhe dar um cará. Necessita-se ter a bravura de um
guerreiro para suportar os desafios inerentes à vitória almejada. Os ventos de
Yansã, que sacodem o bambuzal, trazem os ares da certeza que põem em ordem os
corações duvidosos, levando os eguns desorientados, desde que os acarajés ali
arriados sejam regados com o fogo da coragem e do entusiasmo. Nos bosques
sagrados de Nanã, só se consegue adentrar com profundidade quem traz consigo
não só o sarapatel, mas a sabedoria, pois sem ela não se pode se livrar do
lamaçal da vida causado pela maledicência, geradora da falta de fé. Na casa do
velho Obaluayê, o senhor das passagens, não adianta arriar o deburu (pipoca) se
não vivenciar o que isto representa. É necessário mergulhar no fogo da
intolerância, deixar a casca dura da vingança e saltar como uma linda flor. O
amalá deixado na pedreira só agrada a Xangô se seu coração não estiver como uma
pedra, pois assim não adianta pedir para ele aplicar a justiça sobre seus
desafetos, porque você não evoluiu o suficiente para discernir justiça de
vingança. Seria melhor ter pedido que o ensinasse a proceder com justiça para
com o próximo. Para Oxossi, não era necessário um banquete. A fartura em sua
vida virá quando você repartir com os menos favorecidos aquilo que você tem em
abundância, pois quem reparte aquilo que tem, nuca lhe faltará. Quanto ao
bondoso e cristalino pai Oxalá, requer-se muito mais que uma canjica para
agradá-lo. Sua oferenda é o seu coração.
Não basta que a canjica
esteja cândida; seu coração é que deve estar tomado da mais pura brancura. Você
pediu paz, mas não agiu de forma pacífica durante toda a sua vida. E ainda
disse que os trabalhos não deram certo.
Ora! Não foram os
trabalhos, ebós, sacrifícios e oferendas que fracassaram. Avalie sua vida até
os dias de hoje. Coloque um ponto final no modo egoísta de viver. Volte até o
recanto dos Orixás e lhes peça todo o axé necessário para que suas mãos possam
produzir neste mundo a paz, o amor, a fartura, a justiça, a coragem, a
sabedoria e a força geradora das obras do bem. Somente após mudar sua própria
maneira de agir, de modo a poder plantar e regar boas sementes, você poderá
colher os frutos de um novo amanhecer. Até lá, faça com fé suas oferendas. Os
guias espirituais estarão junto de você.
Mas não esqueça que a
maior oferenda é o seu coração!