RAMATÍS:
- Não esqueçamos que a essência esotérica do pensamento de Jesus, enunciada no
Evangelho, é sempre o fiel reflexo das próprias leis que coordenam e orientam a
vida do espírito imortal na organização de sua consciência individual. O Divino
Mestre jamais condenou o pecador; porém, adverte, insistentemente, quanto ao
prejuízo que causa o pecado. Através do Evangelho, ele ilumina o caminho dos
homens e aponta-lhes os escolhos dos vícios aniquilantes, os abismos das
paixões perigosas e as ilusões do poder e das gloríolas humanas, que prejudicam
a verdadeira vida do espírito imortal. Ensina a prudência humana para amainar
os desejos indisciplinados e a sensatez para o espírito encarnado manter-se no
rumo certo do norte espiritual. Recomenda ao homem viver no cenário do mundo
material sem ferir ou dificultar a vivência dos demais companheiros em provas. Adverte
quanto à ambição humana desmedida na posse dos "tesouros que as traças
roem e a ferrugem come"; sobre o perigo do orgulho que explode e depois
lança a alma no inferno fluídico dos charcos purificadores do Astral Inferior.
Lembra quanto à perversidade, que depois fere tragicamente o próprio autor
cruel, na lei implacável do choque de retorno, "onde cada um há de sofrer
segundo as suas obras". O Evangelho não é julgamento ou condenação dos
espíritos ainda incipientes, e que se turbam na escalonada espiritual evolutiva
nos mundos de formas; mas é apenas um "Código Moral" de vida
superior, algo semelhante a um manual cívico disciplinando a conduta do futuro
cidadão sideral, sob a miniatura esquemática das próprias leis do Universo. Não
é de sua função exclusiva disciplinar homens para viver felizes na vida humana
transitória, porém, um tratado sublime e catalisador de conscientização para o
mais breve ingresso do espírito ao banquete angélico e eterno do "reino de
Deus".
Jesus, Psicólogo Sideral,
Coordenador de todos os demais instrutores espirituais que o antecederam nos
evos findos, jamais cometeria o equívoco de exigir que um espírito ainda no
alvorecer de sua consciência devesse agir sob o mesmo senso de justiça de um
iniciado. Seria absurdo o jardineiro exigir do singelo botão vegetal em
formação a mesma composição de beleza e perfume, que só pode oferecer a rosa na
plenitude de sua fragrância odorante, e na sua atraente configuração floral.
O homem maduro pode pecar pela
injustiça, mas arrepende-se sinceramente desse ato indigno e sempre procura
reparar a sua ignomínia. Em sua consciência mais desenvolvida, ele só vislumbra
o senso de justiça que se sublima cada vez mais para o estado definitivo do
Amor. Mas a criatura espiritualmente imatura não se apercebe do seu agir
censurável, tal qual o botão de rosa, que mal reponta na haste vegetal e ainda
não pode manifestar o perfume e a beleza só possível à flor desabrochada. Se
ainda lhe predomina na alma a lei do mais forte e do melhor para si próprio,
não lhe é possível entender que o próximo também busca a mesma coisa e tem o
mesmo direito de ser feliz. Então, será injusto em julgá-lo e condená-lo, porque
também pretende a máxima satisfação. Mas é o egoísmo, malgrado ser censurável,
que fundamenta a convergência dos atos e amplia a esfera da posse humana, a fim
de organizar o centro de consciência do futuro indivíduo, crescendo
individualmente no seio de Deus. Só despontam os primeiros alvores da justiça e
se afina o sentimento do homem pela filantropia, após ele se saturar de que
"carrega demais e usa tão pouco". Então, despertam-lhe os primeiros
bruxuleios do espírito, e um senso primário de justiça principia a convencê-lo
de que os "outros" também merecem possuir tanto quanto ele possui e
não devem ser julgados nem condenados por isso.
O sentimento de altruísmo, embora
inicialmente ainda interesseiro, desenvolve-se, pouco a pouco, e a criatura
principia a doar o que lhe sobeja, ou mesmo, pesa no seu patrimônio excessivo.
Mas, pelo hábito e pelo exercício, o ser adquire a experiência e elucida a
mente atingindo o limiar do altruísmo, seja pela espontaneidade do espírito
pressentir uma satisfação superior, ou até um bom negócio com a Divindade,
nessa realização pacífica e agradável.
Assim, Jesus, o Amado Mestre, não se
preocupa em "julgar" ou "censurar" o espírito do homem, que
ainda transita pelo curso do egoísmo na sua romagem encarnatória, que é o
processo iniciático e formativo da própria consciência espiritual, lançada na
corrente evolutiva da matéria planetária. É razoável, e mesmo justificável, que
o homem imaturo ainda pratique injustiças sob os impulsos e os atos
incontroláveis de sua intimidade egocêntrica e animalizada, e nada ver nisso de
censurável. Mas, para que o ser adquira o próprio senso de justiça, é evidente
que ele deve ser submetido à retificação de quanto é injusto, conforme age e
disciplina a Lei do Carma.
Em verdade, não há departamento
punitivo criado por Deus, a fim de julgar e condenar os espíritos que pecam
pela injustiça; mas é tão-somente a Lei que na sua pulsação impessoal e
responsável pela harmonia e equilíbrio cósmico em todas as latitudes de
manifestação da vida, repõe cada coisa e cada ser na sua freqüência eletiva,
tal qual o músico desafinado é advertido pelo maestro a retomar o ritmo
harmônico do conjunto orquestral. Quer os pecados dos homens sejam deliberados
ou impensados, haja arrependimento do mau ato praticado ou continue a
insensibilidade humana, cabe à Lei a providência de eliminar o defeito e
ajustar a peça desgovernada na pulsação harmônica do Universo.
Do livro EVANGELHO À LUZ DO COSMO.