Com
certa frequência me vejo fora do corpo físico, o que chamamos de
despreendimento do corpo astral. É comum nestas ocasiões,
dependendo da necessidade, ver-me no espaço sagrado do terreiro,
pronunciando palavras de encantamentos (ofós) na língua yorubana.
Esta noite vi-me fazendo uma oferenda para Exu, objetivando o
fortalecimento de certo consulente que está sendo atendido no
trabalho de magnetismo que ocorre todas as terças.
No
ato de dispor os elementos – arriar – no astral, recitava
palavras em yorubá que na hora sabia o significado, mas ao acordar
hoje de manhã ficou só uma vaga lembrança. Recordo-me
perfeitamente da palavra OJUOBÁ, que recitava entre três batidas de
palmas ritmadas (paó).
Fui pesquisar e ojuobá é uma palavra
da língua yorubá que significa Olhos do Rei ou Os Olhos de Xangô,
é um Oyê (título honorífico africano dado àqueles que se
tornassem altos sacerdotes e dignitários do culto de Xangô na
África). Acredito que foi invocado o “olhos” de Xangô, para que
haja discernimento e clareza para os espíritos envolvidos no
atendimento em questão e que Exu traga-lhes o poder de concretização
dos seus destinos no plano material, sem interferências fora da Lei
de Merecimento.
Certo que os Orixás e os Guias Falangeiros
não precisam de oferendas, e sim os seres humanos ou desencarnados
comuns. Ao “arriarmos” uma oferenda aos “pés” do ponto de
força sagrado dos Orixás no terreiro, não podemos dispensar o
saber ancestral que ativa estas forças; os encantamentos (ofós),
rezas (àdúrá), evocações (oriki), e cantigas (orin), que são
encontrados nos pontos cantados de raiz na Umbanda, passados pelas
entidades e em português pelo canal da mediunidade. Foi o próprio
Astral que fez as reinterpretações traduzindo e compondo os pontos
cantados para utilização no contexto ritual da Umbanda, ritualizada
no Brasil. Para saber cantar certo de acordo com os Orixás
invocados, só vivenciando no terreiro, e com tempo adequado de pé
no chão trabalhando.
Não cabe cantarmos em uma língua que
ninguém entende no terreiro. Por outro lado, os fundamentos devem
sem reinterpretados no contexto de época atual em conformidade com a
essência da Umbanda: a manifestação do espírito para a caridade.
Fica
a reflexão que não devemos negar nossa ancestralidade.
Muita
paz, saúde, força e união.
Norberto Peixoto.