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sábado, 22 de dezembro de 2012

“Ué... Cadê o fim do mundo? Não teve?”

         
           Fred, depois de ter gastado cerca de vinte e seis mil reais com a reforma de um porão que foi transformado em esconderijo subterrâneo, ao termina-lo, no mês de dezembro preparou-se para o dia 21/12/2012, mas ficou frustrado.

          Em Janeiro de 2012, vendeu o carro com emplacamento do ano e a moto do filho mais velho. Pediu demissão do trabalho, pois precisava dedicar-se nos últimos meses exclusivamente aos preparativos para o fim do mundo.

        Pintou o porão, equipou-o com televisão, computador, uma mini farmácia, estocou alimentos para três meses e comprou roupas especiais para o caso de frio intenso (nevasca)...
        Estressou a mulher a ponto dela entrar em depressão. Para falar a verdade ele “colocou pilha” mesmo, com força! A pobrezinha acabou concordando com as loucuras dele para não ficar mal com o marido... E os filhos? Três! Dois em fase adolescente e um já adulto, nossa! Que mico! A gurizada não tinha outra alternativa a não ser divertirem-se muito com tudo aquilo (com as trapalhadas do pai), mas as escondidas, pois Fred ficava irritado com piadinhas.

           No dia vinte de dezembro de 2012, às quatro da  madrugada, o moço acordou e obrigou os familiares a descerem para o compartimento (ex- porão) para esperar o mundo acabar. Não deixou que nenhum deles reclamasse ou o desobedecesse, até o filho mais velho (maior de vinte e um anos) foi obrigado a descer, filho é filho!

         Cabelos desarrumados, olhos esbugalhados, pijamas amarrotados, cobertores nos ombros, pés descalços e reclamações entre a família de Frederico, mas todos desceram.

          Para piorar a situação do incauto, na cidade onde morava o tempo fechou, estava muito quente e no fim da tarde uma tempestade de verão tomou conta de tudo, de uma janela basculante que ficava no alto da parede, ele observava a tudo, de-ses-pe-ra-do! A coisa foi tão feia que até os familiares por um minutinho apenas, chegaram a cogitar a possibilidade de, naquele momento, o mundo estar se acabando (influenciados). Mas não disseram que se acabaria em fogo? Perguntava o filho do meio, do casal.

         Raios e trovões faziam sua participação especial, assombrando mais ainda aquele homem. De repente, da janela basculante começou a escorrer filetes de água, para quê? Fred ficou alucinado, gritava para a esposa enquanto segurava a cabeça com as mãos: “é o fim de tudo mulher, salve-se quem puder!!! Meu Deus!!!!...”

        O filho mais velho já não aguentando mais o desespero do pai, pegou uma escada e subiu para ver através da janelinha que ficava no alto da parede, constatando que o volume de água no pátio da casa era grande. Aquele porão como muitos outros fora construído no subsolo da residência, uma janela foi colocada para levar ar ao mesmo, porém do lado de fora ficava colada ao chão, por isso a água entrava. Mas para Fred a coisa era outra, tratava-se do dilúvio somente! Ficou tão nervoso que desmaiou!

        Quando voltou a si viu que estava sozinho, olhava para os lados e não via mais os familiares (dormiu por mais de dez horas) visualizou só as pilhas de alimentos estocados, empilhados junto a uma das paredes, as cobertas e colchões, a água acondicionada em galões, etc. Mas a família mesmo não estava lá.

         Olhou no relógio e já passavam das dez da manhã do dia 22/12/2012. Viu a escada e foi até ela, constatou ao olhar pela janela que a tempestade havia passado e havia então uma luminosidade fantástica indicando que o dia estava ensolarado.

        Sem graça e confuso ele também saiu do ressinto, não havia mais o que fazer ali, ainda mais sem os filhos e a esposa. Ao subir ouviu risos e constatou que eles estavam se divertindo enquanto assistiam a um programa de televisão, esperavam a mãe terminar uma deliciosa panqueca para o dejejum matinal. Ao vê-lo todos silenciaram-se, até o poodle “Joy joy” ficou a observa-lo, esperando talvez, um pedido de desculpas...

         A esposa dirigiu-lhe um olhar compreensivo, mas não deixou de acrescentar: “Bom dia Frederico! Não adianta agora nos cobrar absolutamente nada. Se sua fé fosse do tamanho de um grão de mostarda, nada disso teria acontecido”.

           Ao perceber que os filhos estavam controlando-se para não caírem na gargalhada, ele disfarçou, coçando a cabeça e disse muito sem graça: “Ué... Cadê o fim do mundo? Não teve?”


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