Embora os
encarnados não consigam recordar os acontecimentos de suas vidas passadas,
devido à forte interferência dos complexos biológicos da carne sobre a memória
sideral, nunca se extingue neles a ansiedade pela libertação do seu espírito.
Assim como o exilado compulsório não
trocaria todas as comodidades e distrações no seu desterro, pelas maiores
contrariedades em sua pátria querida, o espírito imortal também sente-se
infeliz sob o domínio estúpido das paixões da carne.
Há momentos em que o tédio, a
melancolia, o desespero e até a revolta abatem o homem de tal forma, embora ele
participe de todos os prazeres da vida, que, na sua angústia insolúvel, ele
recorre ao suicídio, causando espanto àqueles que o julgavam plenamente
venturoso. Na verdade, em face de qualquer descuido ou invigilância da
personalidade humana, a consciência espiritual reage, no sentido de sua
integração na vida superior do espírito imortal.
Muitas vezes, esse
"chamado" oculto e incessante traduz-se numa angústia indefinível,
que é a luta rude entre o homem-espírito e o homem-animal; luta que, nos
caracteres mais fracos, pode arrastar o homem ao suicídio. Inúmeros poetas,
intelectuais, filósofos, escritores, cientistas e mulheres de elevada posição
social fugiram do mundo pela porta falsa dessa tragédia, justamente por
faltar-lhes a firmeza na espiritualidade consciente, que então lhes compensaria
o amargor de suas decepções e angústias, por maiores que elas fossem.
Mas, assim como o balão cativo não
cessa de forçar as amarras que o prendem ao solo, o espírito também emprega
todos os seus esforços para libertar-se dos grilhões da matéria. Embora a
consciência humana não identifique esse oculto instinto moral do espírito para
ajustar-se ao padrão superior de sua vida imortal, em certas criaturas o fenômeno
se traduz por uma estranha satisfação íntima, que pode manifestar-se mesmo
durante a dor ou até quando se aproxima a morte física.
Ramatís - do livro MEDIUNIDADE DE CURA