"...em face do primarismo
espiritual da humanidade terrícola, é muito comum o intercâmbio de petardos
fluídicos lançados dos olhos e gerados pelo ódio, ciúme, inveja ou vingança! O
homem é uma poderosa usina viva e criadora quando sintoniza-se à freqüência
angélica; mas destrói e infelicita, quando nivela-se às faixas diabólicas da
vida inferior!" Ramatís - Magia de Redenção
A minha função espiritual faz de mim uma intermediária entre o humano e o
sagrado e para exercê-la da melhor maneira possível tenho como instrumento o
Jogo de Búzios. Pessoas de diferentes idades, raças e até mesmo credos, buscam a
ajuda desse oráculo. Surpreende-me o fato de que uma grande parte dos que me
procuram sente-se vítimas de inveja.
Engraçado é que nunca, nem um só dia sequer, alguém chegou pedindo-me
ajuda para se libertar da inveja que sentia dos outros. Será que só existem
invejados? Onde estarão os invejosos? E o pior é quando consulto o oráculo e ele
me diz que os problemas apresentados não são decorrentes de inveja, a pessoa
fica enfurecida.
Percebo logo que existe ali uma profunda insegurança, que gera uma
necessidade de autovalorização. Se isso ocorresse apenas algumas vezes, menos
mal, o problema é que esse comportamento é uma constante. Isso me leva a pensar
que cada pessoa precisa olhar dentro de si, tentar perceber em que grau a inveja
existe dentro dela, para assim buscar controlar e emanar este sentimento, de
modo que ela não venha a atuar de maneira prejudicial ao outro, mas
principalmente a si, pois qualquer energia que emitimos, reflete primeiro em nós
mesmos.
Uma fábula sobre a inveja serve para nossa reflexão: Uma cobra deu para
perseguir um vagalume, cuja única atividade era brilhar. Muito trabalho deu o
animalzinho brilhante à insistente cobra, que não desistia de seu intento. Já
exausto de tanto fugir e sem possuir mais forças o vagalume parou e disse à
cobra: – Posso fazer três perguntas? Relutante a cobra respondeu: – Não costumo
conversar com quem vou destruir, mas vou abrir um precedente. O vagalume então
perguntou: -Pertenço à sua cadeia alimentar?- Não, respondeu a cobra. – Fiz
algum mal a você-?- Não, continuou respondendo a cobra.- Então por que me
persegue?- perplexo, perguntou o brilhante inseto. A cobra respondeu: – Porque
não suporto ver você brilhar, seu brilho me incomoda.
Ingênuas as pessoas que pensam que o brilho do outro tem o poder de
ofuscar o seu. Cada um possui seu brilho próprio, que deve estar de acordo com
sua função. Existem até pessoas cujas funções requerem simplicidade, onde o
brilho natural só é percebido através do reflexo do olhar do outro.
Lembro-me de uma garotinha de apenas 10 anos de idade que a mãe me
procurou para ajudá-la, pois ela ficava furiosa quando não tirava nota dez na
escola. Comportamento que fazia com que seus coleguinhas se afastassem dela.
Algumas tardes eu passei conversando com a garota. Um dia ela chegou me dizendo
que não aparesentava mais o referido problema, que até tirou nota dois e não se
incomodou.
Fiquei muito feliz, cheguei mesmo a ficar vaidosa, pois acreditei que
aquela nova atitude era resultado de nossas conversas. Foi quando ela me disse:-
Sabe por que não me incomodei de tirar nota dois, Mãe Stella? Ansiosa,
perguntei:- Por que? Ao que ela me respondeu: – Porque o resto da turma tirou
nota um. Rimos juntas da minha pretensa sabedoria de conselheira e do natural
instinto de vaidade que ela possuía e que muito trabalho teria para domá-lo. O
desejo que a garota possuía de brilhar mais do que os outros, com certeza
atrairia para ela muitos problemas. Afinal, ela não queria ser sábia, ela queria
ser vista.
O caso contado anteriormente fez lembrar-me de outro que eu presenciei,
onde uma senhora repleta de ouro insistia em me dizer que as pessoas estavam
olhando para ela com inveja. Cansada daquele queixume, disse-lhe que quem não
quer ser visto, não se mostra.
A inveja é popularmente conhecida com olho gordo. Se não queremos ser
atingidos pelo olho gordo do outro, devemos cuidar para que que nossos olhos
emagreçam, não deixando que eles cresçam com o desejo de possuir o alheio. Já
que fazemos dieta para nossos corpos serem saudáveis, devemos também fazer dieta
para nossos olhos, pois eles refletem a beleza da alma. A tendência agora é,
portanto, olhos magrinhos, mas não anoréxicos, pois alguns desejos eles precisam
ter, de preferência desejos saudáveis.
Maria
Stella de Azevedo Santos é Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá