Quando o
espírito deixa o corpo físico, à noite, durante o sono, fica-lhe na intimidade
a lembrança inapagável dos propósitos benfeitores da vida criada por Deus. As
almas pacientes e dóceis, embora sejam incultas ou desafortunadas, sentem mais
facilmente a mensagem de que o sofrimento purifica, que as vicissitudes educam
e os fracassos advertem, melhorando o discernimento da consciência.
Depois da desencarnação física,
invertem-se os conceitos tradicionais da significação da vida humana, pois a
morte física, que tanto apavora os encarnados, significa a jubilosa "porta
aberta" para os espíritos que do "lado de cá" aguardam ansiosamente
o retorno dos seus familiares queridos. Daí o paradoxo de algumas criaturas
traírem a estranha satisfação que lhes vai no imo da alma, mesmo quando
gravemente enfermas ou às vésperas da morte, embora ignorem que é o espírito
imortal obedecendo à sua natural tendência de "fuga" do
aprisionamento incômodo da carne. Algumas chegam a censurar-se por esse
estranho masoquismo, em que se sentem inexplicavelmente alegres ante semelhante
"infelicidade".
Mesmo que o homem se afunde no
charco da animalidade e se acorrente às paixões carnais inferiores, o seu
espírito nunca cessa de forçar os liames que o prendem à carne e o impedem de
atuar livremente no plano sideral. À semelhança do que acontece ao imigrante
saudoso, ele rejubila-se toda vez que surge a perspectiva de regresso à pátria
dos espíritos.
Não opomos dúvida ao fato de que os
homens, em sua maior porcentagem, ainda preferem fechar os ouvidos aos apelos
de sua consciência espiritual, no sentido de se libertarem dos gozos efêmeros
da vida instintiva animal e do culto vicioso aos tesouros do mundo de César.
Mas nenhum deixa de ouvir, em sua intimidade, a voz silenciosa do espírito
imortal. Mesmo aqueles que descrêem de Deus ou da alma eterna não ficam surdos
ao chamamento oculto da entidade angélica.
Ramatís - do livro MEDIUNIDADE DE CURA