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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Umbanda é religião?

Religião vem do latim reli gare – que significa religar aos céus, a Deus. Também se identifica como religião todo grupo religioso que possuem algumas características:

- histórica, identificação de origem;

- ritos ou celebrações que acompanham a vida de uma pessoa (batismo, casamento, funeral...);

- aplicação da doutrina em favor ao bem e a vida.

Convém desde já mencionar uma especificidade da Umbanda entre as cinco vertentes afro-brasileiras supracitadas (Candomblé na Bahia; Xangô em Pernambuco e Alagoas; Tambor de Mina no Maranhão e Pará; Batuque no Rio Grande do Sul e Macumba, depois Umbanda no Rio de Janeiro). Apesar de suas origens negras, a Umbanda nunca esteve preocupada com a idéia de preservação das raízes africanas e nem mesmo se empolga hoje com o movimento de reafricanização, que perpassa as suas congêneres, principalmente o Candomblé. A Umbanda surgiu em 1908, em Niterói com o anuncio do Caboclo das 7 Encruzilhadas através do médium Zélio de Morais e se comporta como uma religião universal. Uma religião aberta a todos os brasileiros. Desde o inicio a Umbanda se mostrou visivelmente multiétnica, com uma forte presença de brancos em seus quadros, mesmo entre os sacerdotes. Além disso, ela se destaca do grupo dos cultos afro-brasileiros por ter menos apego às “raízes”, as marcas africanas originais. A Umbanda prefere pensar em suas raízes, sendo “brasileiras”. É afro, sim, mas é afro-brasileira. Ela não só dispensou de seus rituais o uso de idiomas africanos (ioruba, o jeje e as línguas bantas) como não faz os sacrifícios de sangue e os processos iniciáticos demorados e com altos custos financeiros, comuns no Candomblé. Nascida do Brasil, a Umbanda é uma religião brasileira porque é a resultante de um encontro histórico único, que só se deu no Brasil: o encontro cultural de diversas crenças e tradições religiosas, africanas, ameríndias e européias. Eis a Umbanda , um sincretismo religioso originalmente brasileiro. A assimilação da ética do amor fraterno via kardecismo acentuou bastante o lado ocidentalizado da Umbanda. Isto, por sua vez, veio realçar ainda mais sua peculiaridade no conjunto das religiões afro-brasileiras : enquanto as outras se esforçam por ser cada vez mais “afro”, a Umbanda se torna cada vez mais híbrida, cada vez mais sincrética, cada vez mais brasileira. Um sincretismo religioso impar, com uma propensão insaciável a continuar se mesclando e hibridizando, sempre incorporando novidades, como faz agora, ao assimilar as práticas terapêuticas e outras culturas como a cigana, oriental.  “Com os sábios aprenderemos, aos humildes ensinaremos e a ninguém renegaremos “(Caboclo das 7 Encruzilhadas) . Entre ser uma religião ética, preocupada com a regulamentação moral da conduta e ser uma religião estritamente ritual, voltada para a manipulação mágica do mundo, a Umbanda escolheu o caminho do meio. Ao lado da caridade para todos, vivos e desencarnados, a Umbanda jamais perdeu seu caráter de amor universal.  “Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da caridade” – Caboclo das 7 Encruzilhadas.

Oxalá abençoe a todos.
Mãe Márcia Moreira.

  
Referência;

Gaarder Jostein, O livro das religiões, São Paulo – Companhia das Letras, 2000
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