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domingo, 2 de agosto de 2015

RAÍZES DO CULTO AOS ORIXÁS – PRECONCEITO E PSEUDO SUPERIORIDADE RACIAL.


    
Por Norberto Peixoto. 

    Tenho verificado que o pior preconceito é o velado, o dissimulado, àquele que não se mostra. Por dentro da Umbanda, sendo o que vivencio e posso falar, ainda existe sim, muito preconceito. Há os que preconizam uma Umbanda pura, e o esforço de busca desta pseudo pureza doutrinária é proporcional à exclusão de tudo que remete à África. Verifiquemos que as inteligências intelectuais históricas da Umbanda criaram orixás “novos”, foram buscar nos vedas e nas escrituras hebraicas – cabala – referências para explicar as raízes do culto aos orixás, desprezando a rica etnografia africana, especificamente nagô iorubana.
    Tivemos um marcante e histórico recorte etnográfico inicial com o trabalho de Nina Rodrigues, no inicio do século passado, O ANIMISMO FETICHISTA DOS NEGROS BAIANOS, que embora preconceituoso, pois absorve o conceito de superioridade de raças vigente na Europa e decorrente do iluminismo francês, ao qual por sinal, o próprio Allan Kardec bebeu na fonte, tendo escrito um artigo a respeito na revista espírita A IMPERFECTIBILIDADE DA RAÇA NEGRA, que diz que os espíritos atrasados reencarnariam em corpos africanos e chineses - uma “mancada” pessoal de Allan Kardec que não foi abalizada pelos espíritos da codificação e assim não desmerece sua importante obra -, é válida a pesquisa de campo de Nina Rodrigues, sendo o marco inicial do estudo antropológico das religiões africanas no Brasil.  
    No Brasil, conforme Nina Rodrigues em seu segundo estudo etnográfico OS AFRICANOS NO BRASIL, o culto foi “unificado” e centralizado num mesmo espaço sagrado. Ou seja, os orixás principais são cultuados num mesmo espaço e tempo, num mesmo rito, que é único por não existir igual em África. Todavia, a descentralização de poder, cada sacerdote é totalmente independente, causou um enfraquecimento ético e moral em muitos casos, especialmente logo após a abolição da escravatura, conforme este autor. Assim tivemos uma prevalência da rica cosmogonia nagô iorubana, e quando falamos em orixás bebemos inexoravelmente nesta fonte, mesmo com todas as  absorções e reinterpretações que houveram na diáspora africana no Brasil, o culto aos orixás se mantém vivo e pujante em nossa pátria como em nenhuma outra no planeta. Há que se considerar que originalmente o culto aos orixás era “fragmentado”, cada cidade ou comunidade cultuava um orixá. Havia um poder central organizador e disciplinador, uma confraria – espécie de maçonaria – de babalaôs que ordenava e “fiscalizava” os aspectos éticos e morais do culto.
    Acredito fielmente que na atualidade estejamos vivenciando um forte impulso de retomada ética e moral do culto aos orixás no Brasil, independente de denominação religiosa e de diferenças rituais, observo um crescimento da ética – Sabedoria de Ifá -, dos antigos babalaôs, que robustece a religiosidade com os orixás. Sem dúvida, o Brasil é o maior país “africano” de culto aos orixás, pois em terras africanas os muçulmanos e católicos reduziram significativamente o culto, num processo de aculturação e domínio catequista perverso.
    Infelizmente, temos muito ainda a melhorarmos no tocante ao preconceito, pois sabemos que é muito forte ainda o ideal de raça superior, que está impregnado no imaginário coletivo, a ponto de idealizarmos raças extraterrestres evoluídas, brancas, de cabelos loiros e olhos azuis.
    Espero com este pequeno artigo ter contribuído para a reflexão sobre as raízes de origem do culto aos orixás, independente de denominações religiosas.     
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