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sexta-feira, 17 de junho de 2011

O sectarismo religioso e o carma


PERGUNTA; — Temos ouvido, amiúde, que a dor se encar­rega também de quebrar o orgulho e a presunção das criaturas dogmáticas e excessivamente sectaristas. Podeis dizer-nos algo a esse respeito?

RAMATIS:   — É evidente que os processos cármicos e as intervenções dos mentores espirituais variam na conformidade dos tipos e das reações psicológicas daqueles que devem ser retificados em seus desvios psíquicos. Certas criaturas que foram tomadas de excessivo sectarismo no passado podem, em vidas futuras, desenvolver facilmente o sentimento universalista pela convivência com criaturas muito espiritualizadas e o contato com movimentos fraternistas. Outras, no entanto, carecem para isso da humilhação e do sofrimento atroz, pois só à perspectiva de desencarnar é que abdicam de sua odiosa separatividade ou senso critico antifrater­no, para admitirem a existência de outra doutrina ou seita religio­sa além de suas concepções fanáticas.

E obedecendo a esta lei que certas prostitutas famosas, que no passado enodoaram a história administrativa e política do mundo com seus desmandos e caprichos junto às cortes faustosas, como fâmulos privilegiados, às vezes se purificam futuramente pela segre­gação voluntária e estóica nos conventos humildes, onde mourejam desde a madrugada e retemperam a alma atribulada. Mas como varia a índole psicológica, outras de menor desregramento moral do passado podem falhar completamente num ambiente monástico, obrigando a Lei a optar pela terapêutica das chagas, das deformida­des ou dos aspectos repulsivos em vidas futuras, a fim de afastá-las do elemento masculino que, então, foge delas enojado, mas as livra de novas desditas no futuro.

PERGUNTA: — Uma vez que a Lei Cármica tem por objetivo reti­ficar todos os desvios psíquicos nocivos às almas poderíeis dizer-nos quais são os recursos de que a mesma se serve para enfraquecer a intransigência dos fanatismos religiosos?

RAMATIS: — E a dor, sem dúvida, o mais eficiente recurso para modificar as criaturas excessivamente fanáticas e até impie­dosas para com os esforços religiosos alheios, algumas das quais, se lhes fosse possível agir à vontade, exterminariam da face da Terra todos aqueles que lhes opusessem qualquer conceito adver­so! Mas os Mentores espirituais possuem recursos eficazes para dobrar-lhes a cerviz orgulhosa, encaminhando-as, pouco a pouco, para a prova dolorosa que lhes muda a têmpera demasiadamente presunçosa. E, quando lhes chega a dor, sob a orientação superior, então começam a lhes falhar todos os recursos de sua religião, credo ou doutrina. Então malogra o médico da família, a casa de saúde, a intervenção cirúrgica ou a estação de águas; confun­dem-se os exames de laboratório, dificulta-se o diagnóstico pela radiografia ou se tornam inócuos os mais famosos medicamentos modernos!

Não raro a técnica do alto encaminha então para junto do enfermo, às vezes já desenganado, o simpatizante de qualquer seita ou movimento espiritualista adverso e detestado e que, muni­do de poderes incomuns, consegue curar o paciente! Quebra-se então o círculo de ferro do dogmatismo conservador e feroz, pois a saúde ou a vida, malgrado serem devolvidas por mãos de pessoas malvistas, tornam-se valiosos elementos para remover as frontei­ras presunçosas do fanatismo tolo! O acontecimento se transfor­ma num jato de água fria sobre a fogueira do ódio religioso, que ainda é muito comum entre os homens ignorantes de que Deus é um só e os seus filhos são gerados da mesma essência imortal.

PERGUNTA: — Naturalmente vos referis ao caso dos religio­sos dogmáticos ou às religiões seculares, como o catolicismo, o protestantismo e as seitas adventistas, que comumente hostilizam o espiritismo terapêutico, o esoterismo ou as teorias reencarnacio­nistas; não é assim?

RAMATIS: — De modo algum as nossas afirmações têm por fim promover a “conversão” de católicos, protestantes ou adventis­tas aos preceitos da doutrina espírita. O sectarismo é enfermidade que grassa em qualquer credo, religião ou doutrina; e o espiritis­mo, em face do sectarismo de muitos dos seus adeptos, também não se encontra liberto dessa anomalia. Porventura também não existe grande número de espíritas que combatem freneticamente o trabalho ruidoso dos umbandistas, as reuniões brancas dos eso­teristas, as meditações silenciosas dos iogues, a mesa redonda dos teosofistas ou as preocupações iniciáticas dos rosa-cruzes? Não há espíritas que alegam estar com a melhor verdade ou sistema doutrinário superior, exclusivista das “mesas” cardecistas, enquan­to só encontram confusão, estultícias e má intenção no ritualismo do “chão batido” dos terreiistas? Para muitos adeptos do espiri­tismo, os esforços esoteristas ou empreendimentos de propaganda “rosa-cruz” são de exclusivo comercialismo e interesses pessoais, enquanto os labores teosofistas não passam de teoria sem o valor da “caridade” prática do kardecismo! Não duvidamos de que isto desmente, por parte de tais espiritualistas, o senso lógico de que realmente estejam convictos de que Deus é um só e impregna todos os seres e coisas!

Mas a Lei de Ascensão Espiritual, que não possui preferências pessoais, intervém com absoluta equanimidade e trato amoroso na senda evolutiva de todos os filhos do Senhor, sem se preocupar com o tipo de sectarismo religioso, mas apenas cuidando de modificar os sectaristas. É certo que muitas vezes o orgulho e o amor-próprio da família católica ou protestante termina sendo abatido pela inter­venção miraculosa do “médium” espírita, que devolve a saúde e a paz ao lar aflito. Mas, doutra feita, pode ser o padre bem assistido do Alto ou a promessa ao “santo” da fé católica, ou então as ora­ções do pastor protestante que também hão de trazer a alegria ao lar espírita. A Lei admirável, do Amor, busca romper as fronteiras isolacionistas e aconchega corações distanciados pela vaidade, o orgulho, a presunção, a teimosia ou o amor-próprio, servindo-se ainda dos métodos adversos para cura dos intransigentes: Aqui, o espírita de “mesa” só obtém a cura depois que o “cavalo” de terreiro lhe descobriu o feitiço no travesseiro ou no limiar da porta; ali, é o terreirista que, depois de muito ironizar a debilidade das sessões de mesa, termina curado pelos passes ou irradiações ao estilo carde­cista; acolá, o iniciado rosa-cruz, teósofo ou esoterista, que critica as sessões espíritas como sendo fábricas mórbidas de fetichismo mental, intercâmbio com larvas ou cascões astrais, vê-se obrigado a curvar-se ante a cura da terrível obsessão do seu ente querido, graças à intervenção dos médiuns espíritas tão censurados pelo seu gênio de labor extraterreno.

Não importa se sois esoteristas, espíritas, teosofistas, católi­cos, protestantes, iogues, rosa-cruzes ou livres-pensadores pois, no momento nevrálgico de vossa renovação espiritual, a técnica sideral ignora as etiquetas religiosas, para só se preocupar com as necessidade dos corações embrutecidos pelo orgulho, a vaidade e o fanatismo doentio gerado sob a égide de qualquer credo, doutri­na ou religião.

E por isso que, à medida que certos enfermos vão piorando pela necessidade de se abrandarem no seu sentimento religioso exclusivista, em torno dos seus leitos de sofrimento físico ou psí­quico transitam médicos, curandeiros e homens de milagres, sem conseguir o êxito desejado. Depois, com o tempo, eles tanto acei­tam o exorcismo do vigário local, o benzimento da preta velha, a simpatia da comadre amiga ou as orações do pastor circunspecto, como também o passe do médium cardecista ou o trabalho do preto velho marcando o “despacho” na encruzilhada!

No entanto, o principal objetivo disso tudo é unicamente a renovação do espírito enfermo, vítima do fanatismo ou da crítica antifraterna, para o que o seu guia considera de grande valia a enfermidade retificadora. Quando deixar o leito e, se aprouver ao seu mentor espiritual, o ex- “gigante” ou inimigo formal das religiões adversas não poderá esquecer as imagens dos que o ser­viram, os esforços de todos os que tentaram levantar-lhe a saúde através de rezas, exorcismos, receitas empíricas ou simpatias. No silêncio de sua alma, sempre há de ficar a lembrança das fisiono­mias que o rodearam apenas com um fito amigo e desinteressado — a sua sobrevivência! E o que antes lhe poderia parecer detestável situação de amargura e dor, mais tarde há de considerar como um excelente treinamento de retificação espiritual e amplitude de coração, favorecendo-lhe o mais breve encontro com aqueles que também buscavam a Deus através de outros caminhos que lhe são simpáticos e mais fáceis.

Do livro "FISIOLOGIA DA ALMA" - Ed. do Conhecimento
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