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sábado, 19 de abril de 2014

Significação da cerimônia do "lava-pés" realizado por Jesus.

PERGUNTA: — E que nos dizeis quanto à significação da cerimônia do "lava-pés", tradicionalmente consagrada pela Igreja Católica Romana na Semana Santa. Há algum fun­damento em tal consagração?
RAMATíS: — João Batista, o profeta solitário, havia ins­tituído algumas cerimônias com a finalidade de incentivar certas forças psíquicas nos seus adeptos através da concen­tração ou reflexão espiritual. Isso impressionava os neófi-tos e servia para a confirmação da própria responsabilidade aos valores espirituais. Em sua época os símbolos, ritos, ta­lismãs e as cerimônias ainda produziam louváveis dinamizações das forças do espírito ou impunham respeito e temor religioso. Eram recursos que serviam como "detonadores" das forças psíquicas, produzindo profunda influência esotérica nos seus cultores, assim como ainda hoje fazem os sacerdotes para o incentivo da fé e do respeito dos fiéis, como são os cânticos, perfumes, a música e o luxo nas igrejas.

Por isso, João Batista instituiu a cerimônia do batismo para os heófitos, cuja imersão nas águas dos rios e dos la­gos funcionava como um catalizador das energias espiri­tuais, deixando a convicção íntima e benfeitora da "lava­gem dos pecados" e conseqüente renovação do espírito para, o futuro. Aquele que se julga realmente purificado de seus pecados, depois vive de modo a não se manchar tão facil­mente. Mais tarde, João Batista também organizou a ceri­mônia do "lava-pés", que simbolizava um evento fraterno e humilde, como um sentido de igualdade ou denominador co­mum entre todos os discípulos e o próprio Mestre. O "lava-pés" era a cerimônia que eliminava a condição social, o po­der político, a superioridade intelectual ou a diferença entre
os adeptos e o Mestre atuante sob a mesma bandeira espi­ritual. No momento simbólico do "lava-pés" o senhor seria o irmão do servo e também o serviria, porque ambos «ram herdeiros dos mesmcs bens do mundo.
Jesus, humilde e tolerante, aceitou ambas as cerimônias com todo o enlevo de sua alma e deixou-se batizar pelo Ba­tista, no rio Jordão. Mais tarde, e já no limiar da grande ceia, ele também deu forma à cerimônia tradicional do "lava-pés" entre os seus próprios discípulos, como um ensejo sim­bólico que deveria evocar os elos de amizade já existentes entre todos. Mas os seus fiéis amigos ficaram bastante preo­cupados com o fato de Jesus antecipar a cerimônia tradi­cional do "lava-pés" para a quarta-feira, a qual deveria ser feita comumente na sexta-feira da semana da Páscoa.
Mas a verdade é que o Mestre Jesus não guardava dú­vidas quanto à sua situação cada vez mais desfavorável pe­rante o Sinédrio e às autoridades romanas, pois algo lhe dizia que seria sacrificado antes do domingo de Páscoa. Deste modo, ele decidiu-se a proceder a cerimônia do "lava-pés" na quarta-feira, após a grande ceia, em vez de esperar a sexta-feira tradicional, pois seria a sua última demonstração de confiança no Pài. Depois de ter enxugado os pés dos seus discípulos, auxiliado por Tiago, Jesus ergueu-se e alçou a voz, exortando-os para que prosseguissem corajosamente na di­vulgação da "Boa Nova" e do "Reino de Deus", e jamais se conturbassem mesmo diante da morte. Relembrou-lhes os. motivos fundamentais de sua amizade e união espiritual, re­vivendo os ensinamentos de libertação do Evangelho, en­quanto recomendava o amor incondicional, o auxílio à po­breza, o perdão aos algozes, o afeto aos delinqüentes e a com­preensão fraterna às mulheres infelizes. Salientou a força do espírito eterno sobre a carne perecível; exortou para que-os seus fiéis amigos jamais tisnassem a beleza do Cristia­nismo fazendo conluios com os poderes organizados do mun­do de César. A mensagem cristã deveria ser divulgada tãa pura quanto os lírios dos vales; pois de nada valiam as hon­ras do mundo material ante a vida imortal. Encheu-os de esperanças novas pela breve chegada do "Reino de Deus" e incentivouos para uma vida heróica em sintonia com os princípios mais elevados da redenção e libertação da huma­nidade!
Ante a dor, o espanto e a consternação de seus discí­pulos, que lhe bebiam as palavras repassadas de melancolia e pesar, Jesus voltou-se para Pedro, cujas faces estavam marcadas de profunda angústia e disse-lhe, de modo eloqüente e profético: "Pedro, doravante tu serás um pescador de ho­mens, e não de peixes! Sobre tua fé e sinceridade eu fun­damento a minha Igreja! Seja-te o dom do bom falar, do bom ouvir e do bom agir para o serviço do Senhor!"
Pedro caiu de joelhos, os olhos marejados de lágrimas perante o Mestre Amado, enquanto os demais apóstolos mal podiam esconder sua comoção. Judas, no entanto, estava cabisbaixo e roído de ciúmes, incapaz de esmagar o orgulho e o amor próprio feridos ante qualquer distinção ou pre­ferência no colégio apostólico.
Jesus encerrou a cerimônia tocante do "lava-pés", e achegando-se a João, enternecido, fez-lhe amena rogativa:
— João! Minha mãe é tua mãe, porque somos irmãos perante o Senhor! Na minha falta, sê tu o seu filho!
Em seguida, fez menção de sair, enquanto Pedro e João apressaram-se a acompanhá-lo; da porta, voltou-se, dizendo a bodos ainda sob profunda emoção espiritual:
— Vós sois meus apóstolos; pregai a palavra do Senhor e anunciai a Boa Nova do Reino dos Céus sobre a Terra. A vontade do Pai se manifesta em mim e devo cumpri-la, por­que, a hora do meu testemunho é chegada!
Ante a emoção dolorosa que anuviou o coração de todos os discípulos, pela primeira vez denominados os seus "após­tolos", Jesus afastou a cortina e o seu vulto majestoso desa­pareceu nas sombras da noite estrelada, envolto pela brisa perfumada do jardim de Gethesamani.
PERGUNTA: — Dizem os evangelhos que houve resis­tência de Pedro contra a idéia de Jesus lavar-lhe os pés, pois não se sentia digno de tal dedicação.
RAMATíS: — Tratava-se de uma cerimônia habitual en­tre Jesus e seus discípulos desde o tempo de João Batista; por isso, não havia motivo para a recusa de Pedro. Em ver­dade, durante o momento do "lava-pés" o Mestre o fazia a cada discípulo, explicando-lhes as razões do ato e o que sig­nificava o seu simbolismo para o futuro. E o próprio Jesus, repetindo a indagação de todos os anos, após a cerimônia, assim se expressa aos discípulos, dizendo: "Sabeis o que vos fia?" E conforme narram os evangelistas, eis o seu pensa­mento a respeito do "lava-pés": "Desde que vós me considerais o Mestre e Senhor, e eu. assim o aceito e vos lavo os pés, de-veis vós também lavar os pés uns aos outros, porque eu vos dei o exemplo; e assim o fareis aos vossos discípulos quando vos fizer mestres.  Perante o Pai, o Mestre não é maior do que o servo; nem o servo é maior do que o mes­tre. Aquele que lava os pés do discípulo ou do servo é então grande perante o Pai, porque por si mesmo se faz o me­nor" (7).

Aliás, afora João, os demais apóstolos ignoravam que a cerimônia do "lava-pés" já fazia parte integrante do rito dos Essênios, como a fase iniciática característica do discí­pulo que deixa o mundo profano para ingressar no "Círculo Interno" do mundo espiritual. Além daquele sentido de hu­mildade explicado por Jesus, como deliberada demonstração de que o "menor" na Terra é o "maior" no Reino de Deus, ainda existia a significação de que só o Mestre sabia con­solar os seus discípulos e servos, e aliviar-lhes as dores e as vicissitudes sofridas nos caminhos e nas sendas do mundo transitório da carne. Sobre os pés cansados, empoeirados e feridos, concentravam-se as dores e o sofrimento das longas caminhadas dos discípulos entre. as desilusões e hostilida­des da vida humana; então o Mestre os lavava com sua ter­nura, humildade e paciência, deixando-os limpos e alivia­do.'; para nova caminhada.

SUBLIME PEREGRINO.
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