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quinta-feira, 14 de junho de 2012

Cavalgando nas estrelas – Ogum rompe alvorada

Ela sabia que pertencia a uma tribo indígena pele vermelha, originária da América do Norte. Não sabia precisar claramente qual delas. Entretanto via com frequência um velho índio acompanhado de um mais jovem, vestidos com roupas de couro, tranças negras e fartas caídas por sobre os ombros. Segurando três cavalos de raça, brancos, belíssimos. Sabia que o terceiro se destinava a ela. Eles a esperavam perto de uma árvore frondosa.
   No alto uma águia branca, voando em círculos, emitindo gritos agudos. Perto dos cavalos, em estado de alerta um coiote, também branco de imensos olhos claros e pelo salpicado de cinza. Seus animais de poder. Amigos fieis que podia contar sempre que precisava. Estavam com ela nos momentos difíceis para dar coragem e amparo. Nos momentos alegres para comemorar a superação das barreiras interpostas nos caminhos e aprendizados da vida. 
Às vezes a paisagem era coberta de neve. Tudo branco, muito alvo, podia ver e sentir a névoa deixada pela respiração daqueles seres que a aguardavam com tanto amor. Sentia-se protegida perto deles. Intuitivamente recordava momentos intensos, extremamente felizes, de uma alegria singela, repleta de ensinamentos e tradições milenares. Das noites frias e estreladas ao redor da fogueira ouvindo as estórias contadas pelos mais velhos da tribo. Dos dias alegres de verão em que o lago propiciava banhos refrescantes. Ah! A primavera. A natureza em flor, numa explosão de perfumes e cores. O outono alterando a paisagem com tons pastel, suaves, prenunciando uma nova modificação na atmosfera e o rigor da próxima estação.
Os cheiros que chegavam até ela, da vida pulsando na floresta e dos campos floridos, cultivados. O aroma suave das ervas e dos assados, da caça, sendo preparados pelas mulheres para as refeições das famílias. Cada uma na porta de sua tenda. Os encontros e as trocas de experiências praticadas com carinho e desvelo pelas mulheres do clã. 
Via-se frequentemente retornando aquele local tão especial em sua vida. Em sua memória eterna, registrado com verdadeiro amor por aquela existência plena de realizações junto com os irmãos de raça vermelha.
Mesmo tendo se passado séculos e eles estarem em diferentes planos dimensionais porque ela ainda estagia na escola terrena, aperfeiçoando seus conhecimentos e colocando em prática o trabalho desenvolvido no plano astral em período anterior a esta reencarnação, continuam ligados por laços de amor e verdadeira afeição, que deu a eles a conquista do direito de acompanha-la, na qualidade de protetores.
Assim, sexta-feira à noite, após o término da gira, os médiuns se retiraram e foram para suas casas descansar, refazer as energias através do sono físico, quando então seriam levados por seus guias e amparadores, para mais uma incursão no plano astral, continuando o trabalho iniciado durante os atendimentos na casa de caridade umbandista.
Após chegar a sua casa e fazer uma refeição leve, o cansaço e o sono venceram e ela adormeceu rapidamente. Enquanto o torpor do sono tomava conta de seu corpo, teve a sensação de ouvir relinchos de cavalos, um tropel se aproximando. Pensou vagamente no cheiro dos animais.
Viu-se repentinamente em meio a uma savana, junto com um grupo de peles vermelhas, trajados com suas roupas características, e divisou seus amigos e protetores no meio dos demais, segurando um cavalo branco, preparado para ela. Assim que montou no belo animal, lembrou-se de sua tribo e afagou-o carinhosamente, sendo acolhida com um relincho de satisfação. Olhou para o centro do grupo e percebeu que ali também se encontravam alguns trabalhadores da casa, já montados e preparados para o trabalho que iria se desenrolar pela madrugada até o raiar do dia.
Muitos sofredores, encarnados e desencarnados foram socorridos, tratados e conduzidos para os hospitais do astral. Muitos espíritos menos esclarecidos,  outros perseverantes no mal, foram levados para os tribunais dos senhores do carma, sob a égide de Xangô, Senhor da Justiça, para terem seus registros cármicos analisados e então encaminhados, cada um segundo suas obras, para locais apropriados.
Passou-se o tempo no trabalho que enobrece e os médiuns, após darem a sua contribuição, pequena e humilde, de vez que o verdadeiro trabalho é desenvolvido pelos irmãos da espiritualidade, seriam trazidos aos seus lares, aos seus corpos para então repousar, recuperando suas energias. 
No retorno foram surpreendidos amorosamente pelos seus guias, pois foram levados a cavalgar, por entre as estrelas, pelo infinito. Por regiões e lugares indescritíveis, que as palavras não conseguem traduzir, tamanha a beleza e a magnitude dos mesmos. Sentir a brisa suave, qual sopro divino e perfumado. Os cabelos voando com o galope. A sensação de liberdade e leveza que se apoderou de cada um, embevecidos com tamanha beleza, com os olhos marejados, felizes por desfrutar desta comunhão de ideais, mesmo sendo ainda tão pequenos. Momentos que ficam gravados para sempre em nossa memória eterna e que nos dão força para continuar trabalhando em prol do próximo e lutando contra nossas imperfeições.


          ... Quatro horas da manhã...
...Ogum vem rompendo a alvorada...



Lizete - Médium do Triângulo

 


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