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sábado, 16 de junho de 2012

Quando perdemos um ente querido – caso de Mariinha

               Mariinha.
            Era assim que era chamada pela família. Era tão miudinha quando nasceu. E toda a família se tomou de amores por ela. Necessitava muitos cuidados e dedicação.
            Quando o pai da garota faleceu repentinamente, não aceitou a situação revoltando-se contra Deus, por leva-lo sendo sua família tão pobre. Ele mais a mulher davam duro o dia inteiro. Ela lavando roupa pras madame, e ele carregando pedras, como auxiliar de pedreiro.
            Agora se Deus não sabia e ninguém contou a Ele, certamente faltaria o complemento para o alimento diário daquela pequena família.
           Vagou, rodou, pelo astral, desconcertado e revoltado, contra tudo e contra todos, porque não entendia o que estava se passando. Apesar de tamanho infortúnio e se considerar deserdado da sorte, por ser pessoa dedicada ao trabalho e a família, possuía proteção dos Maiorais e ainda não caíra nas mãos da turma dos umbralinos. Estava por um fio, quando escutou um chamado, uma voz, e resolveu procurar quem lhe falava. 
           Andou muito na penumbra nevoenta que cobria seus passos e sua alma oprimida pela dor da separação da família. Caminhou muito, parecia que aquela estrada tortuosa não tinha fim.
            Um dia fora em busca de sua antiga casa e não lhe foi permitido entrar, para não perturbar a paz que recém havia começado a voltar ao seu antigo lar. Mas o que estava acontecendo? Porque não conseguia entrar em casa?
           Mais revoltado ficara, queria noticias da esposa, de Mariinha sua filha amada. Mariinha era especial, sentia falta de sua voz melodiosa e doce, quando em sua inocência cantava, para distraí-lo na volta do trabalho. Cansado e sem vontade de fazer nada mais que dormir. Ou melhor, desmaiar depois de um dia intenso de trabalho duro.
           Até que tudo aconteceu...
           Foi jogado no vazio, no nada...
            Não compreendia que lugar era aquele, nem de quem eram aquelas vozes que lhe falavam, com suavidade. Pensava que estava louco, delirando de tanto passar trabalho na vida. Quem sabe batera a cabeça numa queda na obra e ficara com problemas. Louquinho! Só podia ser. Como não percebera!
            Assim, curioso, disposto a desvendar o mistério, resolveu procurar a voz e foi andando até chegar num lugar estranho. Cheio de gente do lado de fora, rebuliço, soldados fortemente armados, choro, gritos. E uma fila looooonga, interminááável, guardada por seres diferentes de tudo que conhecia. Gente esquisita pensou! 
           A fila andava devagar e após o que lhe pareceu um século esperando chegou ao portão que dava acesso ao prédio iluminado, que não tinha indicação nenhuma do que era. Percebeu que nem todos podiam passar. Alguns eram barrados e ficavam furiosos com a recusa do pessoal que selecionava as pessoas na entrada.
            Estava parado quando um homem com uma lança e um chicote na mão falou:
            - Gomes, venha logo, estão lhe esperando no salão azul. 
            - Como ele sabe meu nome? Não conheço ninguém aqui, pensou! Refazendo-se da surpresa, intrigado ainda com o acontecimento.
             Experimentou maior assombro mesmo quando chegou ao salão e viu que estava lotado, iluminado com luzes coloridas, que vez por outra alguém era levado para outra sala menor, cheia de gente sentada em semicírculo.
             Lugar estranho! Muito estranho mesmo! Ouvia vozes distantes, música suave ao fundo, preces que lhe chegavam suavemente, aumentando cada vez mais sua curiosidade.
             Distraído estava tentando identificar o lugar, quando ouviu chamarem seu nome alto e bom som.
             - Gomes! Gomes! Chegou sua vez!
              - Uai! E como essa gente me conhece? Nunca vi ninguém mais gordo ou mais magro. Onde é que eu tô?
              Ficou paralisado. Sem saber o que fazer. Devo ir ou não? Pensava com uma rapidez alucinante. Estava estático. Com vontade de sair correndo, quando algo lhe chamou atenção.     Curioso, seguiu o homem estranho que lhe estendeu a mão e o conduziu a sala misteriosa toda em verde e azul.
            Quando entrou sentiu que um raio iluminou a sala, Gomes caiu ajoelhado, chorando e rezando, incrédulo, de boca aberta, sem saber o que pensar. Ali naquela sala, sentada no meio do semicírculo esta sua amada filha Mariinha!
           - Pai do céu é ela! Mariinha! Minha filha! Exclamava sem parar!
            - Mas o que ela tá fazendo aqui? Que lugar é este? Gritava, tentando abraçar Mariinha, mas sendo contido em seu desespero pelos enfermeiros amorosos que prestavam auxilia no local.
            Estavam eles em uma casa de caridade, onde Mariinha, aflita com os acontecimentos, depois do falecimento do pai, para tentar tirar a família das saudades que se havia abatido no lar e a depressão da mãe inconsolada com a perda do esposo, buscara auxílio.
             Ficara sabendo através de uma amiga, que naquela pequena casa de caridade, uma tenda simples, trabalhava Mãe Zuza, preta velha que atendia a todos com verdadeiro amor e carinho, através de seu aparelho, Pai Romildo. Homem forte, trabalhador, que ganhava seu sustento e de sua família, através da jardinagem. Entendia de plantas e ervas como ninguém.
            Quando Pai Romildo irradiado por Mãe Zuza dirigia os trabalhos da noite, transformava-se. Seus traços ficavam suaves, a voz macia, o amor irradiava por todos seus poros, distribuindo com simplicidade e sabedoria conselhos e muitas bênçãos, se desdobrando para consolar a todos.  
            Foi nesta casa que Mariinha procurou ajuda. Foi nesta casa que Mãe Zuza atendeu e ajudou a família. Foi nesta casa que Gomes encontrou o que de mais precioso poderia existir em sua humilde e penosa caminhada. O amor da família, que não o abandonara, que buscava assim ajudar, como podiam, de acordo com o entendimento e a compreensão simples de que eram portadores.
            Maior felicidade era impossível conceber.  Não havia riqueza que pudesse comprar aquele momento único. Sua querida filha parecia um anjo, toda iluminada, com lágrimas de saudades nos olhos, buscando ajuda para ele.
             Era demais para o coração de um pobre pai! Parecia explodir de felicidade!  
            - Obrigado meu Deus! Gritava emocionado!
             Compreendeu repentinamente a sua verdadeira situação. Estava morto! Por isto não conseguira entrar em casa! Por isto a família não o ouvia! Vislumbrou a cena de sua morte! Caíra soterrado em uma avalanche de terra, quando escavava os alicerces para a obra na qual estava trabalhando!
            Então fora assim!
            No mesmo instante foi convidado para seguir até a enfermaria do hospital, que ficava na contraparte etérica da casa de caridade, para ser devidamente socorrido, medicado e depois encaminhado para novas realizações em sua caminhada espiritual.
             Mariinha recebeu através de um médium, o apelo carinhoso do pai agradecido e consolado por saber que a família o amava, que não havia se esquecido dele.
         Foi orientada em como proceder dali para frente.   A considerar todos os momentos felizes com o pai, agradecendo a Deus por terem tido esta oportunidade de estar juntos mesmo que por um curto período de tempo, lembrando sempre dele com carinho, alegria e não deixando a tristeza e o saudosismo exagerado tomar conta do lar.  
           Quando perdemos um ente querido devemos controlar nossas emoções de forma a que o mesmo receba nosso amor, e desejo sincero de evolução na nova caminhada que se descortina, porque se procedermos com tristeza e mágoa pela ausência temporária, com egoísmo por não querer nos separar de nossos entes queridos, em vez de ajudar estaremos imantando os mesmos junto a nós, junto à crosta, com sofrimento e dor pela lamentável situação que criamos.   
           A vida continua nos vários planos de existência e quem sabe o que é melhor para nós e de que lado devemos estar é Deus.

Liz - Médium do Triângulo

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